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Estudo
há 4 anos
[11] Revolução Humana
Departamento de Estudo do Budismo
11/03/2021
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Capítulo 1: Trechos do Gosho
Budismo do Sol — Iluminando o Mundo - Terceira Civilização, ed. 616, dez. 2019, p. 48-63 - Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda
[21] A religião da revolução humana — Parte 1 [de 12]
Explanação
O filósofo grego Heráclito (c. 540–480 a.E.C.) emitiu a célebre frase: “O Sol é novo a cada dia”.1
No alvorecer deste novo ano (2017), vamos iniciar nossa jornada com esperança, otimismo e um revigorado sol brilhando radiantemente em nosso coração.
Agora, na última metade da segunda década do século 21, o mundo se mostra cada vez mais conturbado, com nuvens carregadas surgindo no horizonte.
De um lado, a globalização está avançando em múltiplas frentes, como nos negócios, nas finanças, nos transportes e nas comunicações; do outro, as disparidades econômicas estão se intensificando, conflitos e guerras civis prosseguem ininterruptamente em diversas partes do mundo e parecem indicar o ressurgimento da divisão e da hostilidade no coração das pessoas. A evolução desses fatos tem transformado um número enorme de seres humanos em refugiados, cuja vida está sendo desrespeitada e ameaçada.
A degradação do meio ambiente também é uma questão grave.
Os problemas da sociedade não podem ser resolvidos unicamente por mudanças externas como reformas políticas e econômicas ou inovações institucionais e organizacionais.
Reformas que deixem de levar em conta o bem-estar das pessoas ou que careçam de respeito pela dignidade da vida só criam distorções e levam a situações de impasse.
Assim, nunca devemos nos esquecer do objetivo fundamental que é agir em prol das pessoas.
Não se afastem dos seres humanos! Despertem para a dignidade e a preciosidade da vida! Comecem a mudança pelas próprias pessoas! Agora é hora de a humanidade retornar a esses pontos fundamentais.
Considerando tudo isso, quais devem ser os princípios norteadores da religião no século 21? Afirmo convictamente que são o humanismo e a revolução humana.
A mudança do próprio ser humano é o ponto de partida da Soka Gakkai
Fazendo um retrospecto, alguns anos após fundar a Soka Kyoiku Gakkai [Sociedade Educacional de Criação de Valor; precursora da Soka Gakkai (Sociedade de Criação de Valor)], em 1930, o primeiro presidente, Tsunesaburo Makiguchi, discutiu a questão da mudança social dizendo: “Em última análise, a menos que se transforme fundamentalmente o espírito humano com uma revolução religiosa, o caos da realidade jamais será remediado”. A transformação fundamental do espírito a que ele se refere aqui não é outra senão a revolução humana.
O segundo presidente da organização, Josei Toda, que deu continuidade aos ideais de Tsunesaburo Makiguchi, foi preso junto com seu mestre em decorrência da opressão religiosa imposta pelo governo militarista da época da guerra. No cárcere, Toda senseidespertou para a percepção de que buda é a própria vida e que ele era um bodisatva da terra. Depois da sua libertação (em julho de 1945), empenhou-se em ensinar às pessoas como transformar a vida pela fé na Lei Mística. Com o propósito de elevar a condição de vida da humanidade ao estado de buda — a dimensão máxima do caráter do ser humano —, ele se lançou à concretização do kosen-rufu. Seu desejo era libertar as pessoas do sofrimento, inclusive dos tormentos causados por guerra, fome e doenças.
Por essa razão, Toda senseiconcordou de maneira tão entusiástica com o presidente da Universidade de Tóquio, Shigeru Nambara (1889–1974), quando este destacou, pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a necessidade da revolução humana para que as reformas sociais e políticas e a chamada segunda revolução industrial, que ocorriam em meio às mudanças turbulentas da era pós-guerra,2 fossem, de fato, implementadas para atender aos interesses do povo.
Toda sensei percebeu com clareza que, para se conquistar a felicidade, a prosperidade social e a paz mundial, seria necessária a transformação fundamental nas profundezas da vida humana. Ele demonstrou como tornar isso possível mediante a prática do Budismo Nichiren e a concretização da revolução humana dentro da realidade da nossa vida e da sociedade.
Revolução religiosa é a própria revolução humana
Quando estava com 20 anos, assisti a uma palestra de Toda sensei sobre o Sutra do Lótus, e a visão extraordinária dele me emocionou profundamente. Senti-me inspirado a registrar em meu caderno: “Revolução religiosa é a própria revolução humana que, por sua vez, conduz à revolução educacional e à revolução econômica, como também à revolução política”.
Posteriormente, como seu discípulo de unicidade, escrevi o romance Revolução Humana, como um registro da sua nobre vida. Resumi o tema da obra com as seguintes palavras: “A grandiosa revolução humana de uma única pessoa, um dia, impulsionará a mudança total do destino de um país e, além disso, será capaz de transformar o destino de toda a humanidade”.
Esse também é o tema que norteia a relação de mestre e discípulo Soka dedicada ao cumprimento do juramento seigan de concretizar o kosen-rufu que é, em si, a paz mundial.
O Budismo de Nichiren Daishonin é o farol da revolução humana, brilhando cada vez mais intensamente para conceder a luz da coragem e da esperança às pessoas deste conturbado mundo de hoje.
Revolução humana é, em si, a mudança da vida.
Revolução humana é, em si, a mudança do destino.
Revolução humana é, em si, a conquista da felicidade.
Revolução humana é, em si, a fonte do rissho ankoku.
Revolução humana é, em si, o alicerce da paz.
Trecho do escrito 1
Carta para Niike
Conforme o sutra afirma: “Na esperança de tornar todas as pessoas iguais a mim, sem nenhuma distinção entre nós” [LSOC, cap. 2, p. 70], o senhor pode se tornar, prontamente, um buda tão nobre quanto Shakyamuni.3(CEND, v. II, p. 297)
Um budismo transformador aberto a todas as pessoas
Toda sensei tomou a liberdade de expandir e desenvolver o conceito de revolução humana pautando-se pelos princípios essenciais do Budismo de Nichiren Daishonin. O primeiro passo desse importante ponto de vista foi revivescer na sociedade contemporânea o significado do propósito da prática budista, que é atingir o estado de buda, como transformação da vida e revolução humana.
Examinemos a passagem de Carta para Niike que acabamos de apresentar. Nela, Nichiren Daishonin afirma que os mortais comuns podem atingir o estado de buda, salientando que todos podem se tornar “prontamente” budas como Shakyamuni.
No trecho imediatamente anterior a essa passagem, Daishonin incentiva Niike a ter fé no Sutra do Lótus e a praticá-lo com dedicação e assiduidade com o objetivo de atingir o estado de buda. Ele aponta: “Tornar-se um buda não é nada extraordinário. Se recitar o Nam-myoho-renge-kyo com todo o coração, naturalmente se verá dotado dos trinta e dois aspectos e oitenta características do Buda” (CEND, v. II, p. 297).
Os dizeres “Na esperança de tornar todas as pessoas iguais a mim, sem nenhuma distinção entre nós” (LSOC, cap. 2, p. 70) são de extrema importância, pois expressam o juramento seigande Shakyamuni desde existências passadas, e constam do capítulo 2, “Meios Apropriados”, do Sutra do Lótus, que ensina a “substituição dos três veículos pelo veículo único”.4
Shakyamuni declara: “Shariputra, saiba que no início fiz um juramento na esperança de tornar todas as pessoas iguais a mim, sem nenhuma distinção entre nós” (Ibidem). “Todas as pessoas” indicam todos, sem exceção. Nem um único indivíduo é excluído desse juramento. Ele afirma também “iguais a mim” — são palavras que transmitem enfaticamente seu desejo de encorajar e guiar seus discípulos, com a esperança de que atinjam a mesma condição de vida do estado de buda manifestada por ele.
Ao mesmo tempo, da perspectiva de Shariputra e dos outros discípulos a quem Shakyamuni dirigiu essas palavras, isso representa o chamado do mestre para que rompam as limitações que impuseram a si mesmos.
É uma passagem de suma importância que Makiguchi sensei também sublinhou em seu exemplar da Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin.
Assumimos para nós o grande juramento seigan do nosso mestre, libertando-nos corajosamente da nossa condição de vida limitada e confinada, além de incentivarmos as demais pessoas para avançarmos juntos pela estrada que conduz ao estado de buda. Esse é o caminho da revolução humana trilhado por discípulos unidos ao mestre. Lutar para dar continuidade ao espírito do mestre, mantendo o mesmo juramento, constitui o caminho budista de mestre e discípulo.
“Prontamente”, na frase “o senhor pode se tornar, prontamente, um buda tão nobre quanto Shakyamuni” (CEND, v. II, p. 297), sugere a facilidade dessa conquista. Isso estabelece um grande contraste com os ensinamentos anteriores ao Sutra do Lótus, que expunham que eram necessários incontáveis kalpa de prática para atingir a iluminação. Com isso, Daishonin expressa que podemos atingir infalivelmente o estado de buda no curso da nossa vida como mortais comuns neste tão conflituoso mundo saha.5 Esse é o princípio de “atingir o estado de buda nesta existência” e de “atingir o estado de buda na forma que se apresenta”.
Trecho do escrito 2
Carta para Horen
O Sutra do Lótus oferece um meio secreto para conduzir todos os seres vivos ao estado de buda. Ele conduz à iluminação a pessoa que está no mundo do inferno, a pessoa que está no mundo dos espíritos famintos e, por conseguinte, a pessoa que se encontra em cada um dos nove mundos da existência. A situação é como os nós de um bambu: se um nó for rompido, todos os demais quebrarão.6(CEND, v. I, p. 535-536)
Começar com quem está diante de nós
Esse é um trecho de Carta para Horen, endereçada a Soya Kyoshin, discípulo [a quem Daishonin concedeu o nome budista Horen] que vivia na província de Shimosa (atual parte norte da província de Chiba) e também possuía vínculos com a região de Hokuriku.7 Daishonin esclarece que o Sutra do Lótus é a escritura que expõe a forma mais elevada de devoção filial — de saldar as dívidas de gratidão com os pais —, pois ensina que todas as pessoas podem atingir a iluminação.
Embora Nichiren Daishonin descreva o Sutra do Lótus como “um meio secreto para conduzir todos os seres vivos ao estado de buda” (CEND, v. I, p. 535), tudo começa com um único indivíduo. Somente quando conseguirmos habilitar quem está bem diante de nós a atingir o estado de buda, será possível fazer o mesmo com todas as pessoas. Por esse motivo, Daishonin declara que esse processo se inicia mediante o ato de ajudar uma única pessoa a atingir a iluminação.
Os princípios da “possessão mútua dos dez mundos”8 e dos “três mil mundos num único momento da vida”9 estabelecem que todos os nove mundos — do inferno ao de bodisatva — contêm o estado de buda, e por isso todos os seres vivos dos nove mundos podem alcançar esse estado.
Nesse trecho, Nichiren Daishonin afirma claramente que uma vez que os seres vivos estão nos mundos do inferno e dos espíritos famintos — os dois mais impregnados de sofrimentos —, podem atingir a mais elevada condição de vida. A conclusão óbvia é que os seres vivos de todos os nove mundos da existência também podem. O exemplo de uma pessoa no mundo do inferno é representado no Sutra do Lótus pela predição de que Devadatta10atingirá o estado de buda, abrindo o caminho para a iluminação das pessoas más.11
A consecução dessa ampla condição de vida por uma única pessoa abre o caminho do estado de buda para todos os seres vivos — assim como partir um único nó de um colmo de bambu faz romper todos os demais nós. Como Daishonin aponta, “Devadatta é mencionado como um exemplo [de uma pessoa que atingirá o estado de buda no futuro] para representar todas as incontáveis outras pessoas. Ele é considerado o pior transgressor e, por essa razão, subentende-se que todos os demais, que cometeram o mal em grau menor, também possuem a natureza de buda” (Ibidem, p. 280-281).
Trata-se do princípio de “o exemplo que se aplica a todo o conjunto”12ensinado pelo grande mestre Miaole (Ibidem, p. 281).
Nichiren Daishonin escreve: “Ao atingir a iluminação, a filha do rei dragão abriu o caminho do estado de buda para todas as mulheres das eras posteriores” (Ibidem). Em outras palavras, a emocionante mudança do carma ou do destino de uma única pessoa demonstra a veracidade do budismo, abre o caminho da vitória na vida de todos aqueles oprimidos pelo mesmo sofrimento.
As integrantes da Divisão Feminina de Jovens (DFJ) do Japão, que estão trilhando este grandioso caminho para a felicidade, promoverão alegres reuniões em pequenos grupos em janeiro e em fevereiro deste ano (2017). Minha esposa e eu, de mãos dadas com todos os membros da Divisão Feminina (DF), que sempre lhes estendem apoio, estamos orando para que cada jovem da nossa DFJ, cuja juventude é dedicada à construção da felicidade e da boa sorte, faça desabrochar as flores da revolução humana.
Os seres vivos de quaisquer dos dez mundos podem atingir o estado de buda
Nichiren Daishonin declarou que o princípio de “atingir o estado de buda na forma que se apresenta” se baseia na doutrina dos “três mil mundos num único momento da vida”. Independentemente de quais sejam nossas circunstâncias, todos nós podemos atingir o estado de buda exatamente como somos agora, como mortais comuns nos nove mundos. É uma concepção fundamentalmente diferente da visão do estado de buda enunciada nos ensinamentos anteriores ao Sutra do Lótus, que sustentavam que só seria possível atingir o estado de buda depois de passar por uma mudança física [e não na forma que se apresenta].
Não obstante em qual dos dez mundos possamos estar, assim que tomamos a decisão de viver com base na Lei Mística, a qual nos habilita a acreditar no potencial infinito que reside dentro de cada um e a extraí-lo, descobrimos um futuro radiante à nossa frente. Sentimo-nos plenos de coragem para desafiar a nós mesmos e evidenciamos intrépido espírito de luta, inabalável esperança, firme determinação e perseverança. Despertamos para nossa missão, o propósito pelo qual nascemos neste mundo. A maneira como vemos a vida se modifica e nosso modo de viver também muda fundamentalmente, e com nossas próprias ações conseguimos mudar a realidade.
Por isso, cada pessoa é importante. Nosso espírito primordial deve ser sempre prezar uma única pessoa.
Para mim, essa é a essência de uma religião voltada para a revolução humana.
Ao nos referirmos a “todos os seres vivos” ou a “toda a humanidade”, não os estamos concebendo como conceitos ou ideias abstratos. Nosso foco se concentra na pessoa real, diante dos nossos olhos — ou seja, como podemos ajudar esse ser humano a se tornar feliz, a transformar o seu destino e a dissipar a escuridão do sofrimento que envolve sua vida. Uma religião incapaz de ajudar o indivíduo é vazia, destituída de significado genuíno. Preocupar-se com o bem-estar de um único indivíduo é a verdadeira razão de existir uma religião.
Toda sensei desejava a vitória dos seus discípulos
Josei Toda oferecia orientações individuais pautado pelo senso de responsabilidade de auxiliar cada pessoa que estivesse sofrendo. Uma sucessão infindável de membros vinha procurá-lo. Ele dedicava total atenção aos desafios que esses membros enfrentavam, os incentivava e os orientava sinceramente. Acolhia essa torrente de problemas com inabalável confiança e convicção, tendo como única âncora os ensinamentos do Budismo de Nichiren Daishonin.
Assim que ouvia os membros relatando que venceram anos de sofrimento e de desespero com a prática do Budismo de Nichiren Daishonin, ele mal cabia em si de tanta alegria. E sempre que via rostos abatidos expondo que a situação não estava melhorando, seu coração se partia.
Toda sensei devotou a vida ao cumprimento do grande juramento seigande concretizar o kosen-rufu. O pensamento que mais ocupava sua mente todos os dias era que seus amados discípulos fizessem a própria revolução humana e transformassem o destino.
Se não formos capazes de ajudar a pessoa que se encontra diante de nós em sua revolução humana, não poderemos abrir o caminho do kosen-rufu nem mudar o destino da humanidade. Herdando o espírito de Toda sensei, membros da organização do mundo inteiro se empenham ativamente em estender a mão para uma pessoa após outra e propagam a esperança e a alegria da revolução humana.
Quando eu mudo, o mundo se transforma
Há cinquenta anos, o renomado escritor francês André Maurois (1885–1967) afirmou no ensaio intitulado Au Commencement était l’Action[No Princípio Era a Ação]: “As revoluções mais profundas são espirituais. Elas transformam pessoas que, por sua vez, transformam o mundo”.13
Ele acrescentou: “A verdadeira revolução é a revolução do indivíduo (...). Mais precisamente, um único indivíduo, seja ele herói ou santo, pode ser um exemplo para multidões que, ao imitá-lo, podem modificar o mundo drasticamente”.14
É verdade. Tudo se inicia com a revolução humana de uma única pessoa. O exemplo de uma única pessoa que se levanta inspira os outros, pondo tudo em movimento. As ideias de Maurois têm forte consonância com a afirmação de Daishonin: “Neste caso, um único indivíduo foi usado como exemplo, mas o mesmo se aplica igualmente a todos os seres vivos” (WND, v. II, p. 844).
A questão principal é que a revolução humana se desenrola a partir do coração de uma única pessoa, e não se limita apenas à vida interior desse indivíduo.
Como no Budismo de Nichiren Daishonin a consecução do estado de buda se baseia no princípio dos “três mil mundos num único momento da vida”, as ondas da mudança ocorrida num momento da vida de uma pessoa se propagam para todos os cem mundos e mil fatores e, por fim, nos três mil mundos da existência. Além disso, impactam o relacionamento de uma pessoa com outra, como também do indivíduo com seu ambiente. Quando mudamos, nosso ambiente muda. Quando o ambiente muda, o mundo se transforma. A revolução humana de uma única pessoa é o ponto de partida dessa transformação colossal e dinâmica.
Embora a revolução humana consista numa mudança drástica no âmbito da vida de um indivíduo, também tem relação com o mundo inteiro. Ela nos capacita a vencer com força total e a enriquecer a vida das pessoas ao redor. É uma revolução que nos permite produzir felicidade para nós mesmos e para os outros, cultivando um solo fértil para relações humanas harmônicas.
A prática do bodisatva Jamais Desprezar,15 descrita no Sutra do Lótus, oferece um rumo claro a ser seguido para consolidarmos essa harmonia em meio à realidade social.
do escrito 3
As Quatorze Calúnias
No passado, o bodisatva Jamais Desprezar declarou que a natureza de buda era inata a todos os seres humanos e que, se abraçassem o Sutra do Lótus, atingiriam sem falta o estado de buda. Também afirmou que depreciar o outro era o mesmo que desprezar o próprio Buda. Assim sendo, a prática desse bodisatva consistia em reverenciar todas as pessoas, inclusive aquelas que rejeitavam o Sutra do Lótus, pois elas também possuíam a natureza de buda e, um dia, poderiam aceitar o sutra.16(CEND, v. II, p 13)
Ações incansáveis de reverenciar todas as pessoas
A seguir, examinemos a passagem de As Quatorze Calúnias. Nela, Nichiren Daishonin menciona quatorze tipos de calúnia17 para destacar a mensagem de que aqueles que abraçam o Sutra do Lótus não devem menosprezar ou difamar uns aos outros. E com o exemplo do bodisatva Jamais Desprezar de se curvar respeitosamente a todos com quem se encontrava, descrito no Sutra do Lótus, Daishonin também ensina a conduta e o espírito daqueles que praticam esse sutra.
Devotado a louvar e a respeitar os outros, o bodisatva Jamais Desprezar dizia àqueles com os quais se deparava: “Eu os reverencio profundamente, jamais ousaria tratá-los com desdém ou arrogância. Por quê? Porque todos estão praticando o caminho do bodisatva e infalivelmente atingirão o estado de buda” (LSOC, cap. 20, p. 308). Mesmo quando pessoas ignorantes o insultavam e o atacavam, ele persistia hábil e resolutamente na prática de demonstrar reverência a elas.
Toda sensei considerava essa passagem extremamente importante e a assinalou.
Mediante a prática constante de respeitar as pessoas, o bodisatva Jamais Desprezar obteve o benefício da purificação dos seis órgãos18 e a grande recompensa de atingir o estado de buda. A purificação dos seis órgãos é outra maneira de descrever a transformação interior. E os que insultaram e perseguiram o bodisatva Jamais Desprezar, em decorrência disso, formaram uma relação inversa19 com o Sutra do Lótus e, no fim, conseguiram atingir o estado de buda por esse vínculo.
A filosofia do respeito à vida e ao ser humano
“Todas as pessoas possuem a natureza de buda” — essa é a concepção fundamental do Sutra do Lótus. A vida é o tesouro supremo. Ninguém é desprovido de importância ou de valor. Quando nos conscientizamos dessa visão fundamental de respeito à vida e ao ser humano, a maneira como olhamos para nós mesmos e para os outros e o nosso relacionamento com as pessoas mudam radicalmente.
O bodisatva Jamais Desprezar compreendeu que desrespeitar alguém equivale a desrespeitar um buda e também a si próprio. Ele acreditava na natureza de buda inerente a todos e se curvava respeitosamente para cada um que encontrava. Da profunda perspectiva budista, a natureza de buda dessas pessoas, inclusive dos arrogantes que despejavam insultos e o atacavam com pedras e bastões, reverenciava a natureza de buda do bodisatva Jamais Desprezar.
Em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Daishonin comenta: “Quando a pessoa olha para o espelho e se curva em reverência, a imagem refletida também faz o mesmo” (OTT, p. 165). Todas as formas de vida mantêm uma relação de mutualidade e interdependência. Se somos preciosos, então os outros também são. Ou melhor, somente quando reconhecemos e afirmamos o valor e a dignidade das pessoas, evidenciamos o brilho do nosso próprio valor e dignidade. Essa percepção compõe a base da coexistência harmoniosa.
Não devemos renegar aqueles que rejeitam o Sutra do Lótus (cf. CEND, v. II, p. 13), com base no ponto de vista superficial de a pessoa abraçar ou não a fé neste exato momento. Na visão do bodisatva Jamais Desprezar, qualquer um poderá vir a praticar um dia, porque também possui a natureza de buda.
Esse modo de pensar é o fundamento da genuína tolerância e oferece uma perspectiva alicerçada na fé nos seres humanos, pois, não importando qual seja sua filosofia ou crença, todos possuem o potencial positivo de despertar para a verdade da dignidade da vida.
Nichiren Daishonin declara: “O coração de todos os ensinamentos que o Buda expôs ao longo de sua existência é o Sutra do Lótus, e o coração da prática desse sutra se encontra no capítulo “[Bodisatva] Jamais Desprezar”. Qual o significado do profundo respeito que o bodisatva Jamais Desprezar sentia por todas as pessoas? O propósito do advento do buda Shakyamuni, o senhor dos ensinamentos, neste mundo reside em seu comportamento como ser humano” (CEND, v. II, p. 113).
Vamos nos esforçar para seguir o exemplo do bodisatva Jamais Desprezar com nossas ações e nosso comportamento, respeitando os outros da mesma maneira que ele fazia.
Uma religião que empodera as pessoas como leões
Numa palestra intitulada “O Budismo Mahayana e a Civilização do Século 21” que proferi na Universidade Harvard em setembro de 1993, propus as seguintes diretrizes como parâmetros para a religião humanística que nossa época busca.
A religião torna as pessoas mais fortes ou mais fracas? Ela estimula o que há de bom ou o que há de mau nelas? Essa religião as torna mais ou menos sábias?20
Essas perguntas são relevantes até hoje e mais importantes do que nunca.
Para nos tornarmos mais fortes, melhores e mais sábios, precisamos nos educar, nos aprimorar e, de fato, nos transformar. Em especial, como podemos desenvolver a força para não sermos derrotados por fraquezas como ganância desenfreada, tendência à arrogância, indolência, egoísmo ou covardia e apatia diante das dificuldades?
A religião não conseguirá atender tais expectativas a menos que seja capaz de ajudar as pessoas a se desenvolver e a se transformar fundamentalmente, de modo que possam refletir com honestidade sobre si e combater a força que as puxa para baixo em direção a um estado vil e miserável dominado pelos “três venenos” (avareza, ira e estupidez).21
É isso que faz a revolução humana ser tão importante. Chegou a hora de a religião da revolução humana florescer ainda mais amplamente, ajudando as pessoas a se tornar mais fortes, melhores e mais sábias.
Em certo mês de dezembro, num momento em que estava refletindo sobre um desafio aparentemente impossível que enfrentaria no ano novo e me sentindo angustiado, Toda sensei, como se lesse meu pensamento, disse: “Daisaku, sofrimentos são inevitáveis na vida. Somente ao sofrer compreenderá a fé e se tornará alguém dotado de conteúdo”.
As adversidades que estamos vivenciando agora fazem parte da nossa prática budista para nossa revolução humana. Não podemos nem precisamos nos tornar nada além de seres humanos. Nossa fé e nossa prática existem para nos habilitar a crescer como pessoas e nos tornarmos seres humanos excelentes por meio de nosso sofrimento e esforços. Esse é o significado de revolução humana.
Toda sensei costumava dizer: “Sejam fortes!”; “Esta prática cria leões”.
“Leão” é outro nome para Buda. Como o mestre é um rei leão, o discípulo deve se tornar um leão também. Não nos permitir ser derrotados por nada, lutar com o espírito de um leão — essa é a gloriosa essência da revolução humana na Soka Gakkai.
Heróis invencíveis com o espírito de levantar-se só
Enquanto estava exilado na Ilha de Sado, Nichiren Daishonin, como um herói espiritual, declarou: “Quando um mau governante, associado a sacerdotes que praticam ensinamentos errôneos, tenta destruir o ensinamento correto e eliminar um sábio, os que possuem o coração de um rei leão, sem dúvida, atingirão o estado de buda, assim como Nichiren, por exemplo” (CEND, v. I, p. 318).
Heróis invencíveis que se levantam sozinhos com o espírito de um rei leão diante de todas as tempestades de adversidades “sem dúvida, atingirão o estado de buda” (Ibidem).
O Ano da Expansão dos Jovens da Nova Era do Kosen-rufu Mundial (2017) começou. Conclamo aos membros de todos os lugares, companheiros bodisatvas da terra e, especialmente, aos meus jovens sucessores: “Meus amigos, levantem-se bravamente com o ‘coração de um rei leão’ (Ibidem)! Hasteiem a bandeira da vitória no local em que se encontram agora, e demonstrem exemplos esplêndidos de revolução humana. Que a luz da revolução humana faça resplandecer um glorioso século 21!”.
(Daibyakurenge, edição de janeiro de 2017)
Com a colaboração/revisão do Departamento de Estudo do Budismo (DEB) da BSGI
Capítulo 2: Trechos da Nova Revolução Humana
NRH, Cap. “SGI”, v. 21, p. 47
Masayuki Kamioka era o único japonês entre os trezentos alunos da Escola Popular de Ensino Médio Askov. Todas as manhãs e noites, Kamioka realizava a leitura do Sutra do Lótus e recitava Nam-myoho-renge-kyo vigorosamente no dormitório. Seu colega de quarto, Jon Miller, não sabia praticamente nada sobre o Japão, além do fato de se tratar de um país onde outrora existiam samurais. Observando a recitação do sutra pelo colega com desconfiança, Miller se perguntava se aquilo seria algo que fazia parte da vida dos japoneses. Então, um belo dia, interpelou-o, indo direto ao ponto:
— Masayuki, o que exatamente você faz todas as manhãs e noites?
— É a prática budista ensinada por Nichiren Daishonin, que foi um buda inigualável. Por meio da recitação de trechos do sutra e da recitação do Nam-myoho-renge-kyo todos os dias, podemos transformar nossa condição de vida. Mesmo que desejemos a paz e a mudança da sociedade, nada se modificará a menos que façamos essas mudanças ocorrer dentro da nossa própria vida. O budismo é uma filosofia de vida maravilhosa, que mostra que, se cada um assumir a responsabilidade de realizar sua revolução humana, será possível alcançar a paz e a prosperidade na sociedade — respondeu Kamioka.
NRH, Cap. “Empenho Resoluto”, v. 23, p. 251
— Estruturas sociais devem, enfim, buscar uma filosofia de humanismo que ensine a inviolabilidade da vida. Sem isso, qualquer sistema acabará se tornando opressor. Além disso, a revolução humana é vital para controlar o egoísmo. É especialmente importante que os líderes se submetam constantemente ao processo de revolução humana. Este é o caminho para se evitar abusos de poder e a burocratização de uma organização. Em última análise, a revolução humana tornou-se um tema relevante nos países capitalistas e livres também. Se o ego humano inflar de forma desproporcional, a sociedade inevitavelmente será atirada ao caos. Além disso, o ego humano é o principal instigador de guerras e conflitos. Espero que todos vocês se tornem extraordinários líderes na sociedade que defendam totalmente a filosofia da revolução humana encontrada no budismo. O século 21 repousa sobre o ombro de vocês. Seu desenvolvimento é minha maior alegria. Gostaria de oferecer ao Grupo Atsuta da Divisão dos Universitários uma fita cassete da Canção da Revolução Humana, composta por mim, e um toca-fitas. Deixarei para vocês também uma fita da música Vila Atsuta. Peço-lhes que, ouvindo essas canções, avancem com indômita dignidade pelo grandioso caminho do kosen-rufu por toda a vida, em prol de seus pais e da felicidade das pessoas.
NRH, Cap. “Educação Humanística”, v. 24, p. 161
— Acredito que a maioria de vocês esteja casada e tenha filhos. Espero que todas se esforcem para ser boas mães e esposas. Fazer revolução humana não se refere a algo especial, isolado da vida cotidiana, mas à maneira como se comportam em relação aos filhos e ao marido. Talvez estivessem acostumadas a se irritar com eles, mas agora não. Hoje, quando falam com eles, vocês estão sempre com um sorriso no rosto. Demonstram consideração aos filhos e dão atenção a eles e aos problemas deles. Tudo isso é uma manifestação da sua revolução humana. A felicidade também se encontra bem próxima, ao alcance das mãos. Por exemplo, pode advir de criar um bom relacionamento com seus familiares e vizinhos ou no local de trabalho, ter sincera gratidão por tudo e por todos em sua vida e sentir-se afortunada — esse é o segredo da felicidade. Ao voltarem para casa, estendam minhas melhores recomendações ao seu marido, esteja ele praticando ou não. Chegará o dia em que ele despertará para a fé e começará a praticar, pois já possui uma ligação mística com o budismo. Apenas recitem daimokucom fervor, sem tentar forçar o assunto. O importante é conquistar confiança como pessoas. Jamais permitam que a prática do budismo se torne a causa de brigas com seu marido ou prejudique seu relacionamento. Seria uma imprudência. É essencial aprender a aceitar a própria vida com um coração aberto.
NRH, “Posfácio”, v. 30-II, p. 354
O romance Nova Revolução Humana inicia-se no momento da partida de Shin’ichi para sua primeira viagem internacional em 2 de outubro de 1960, cinco meses após ter assumido como terceiro presidente da Soka Gakkai, em 3 de maio. Enquanto edificava o castelo do kosen-rufu da canção triunfal do povo no Japão, plantava as sementes da paz chamada de Lei Mística nas visitas a 54 países e territórios e construía inúmeras pontes de intercâmbio educacional e cultural. A obra retrata os acontecimentos até novembro de 2001, ano do descortinar do novo século, um grande objetivo almejado pela Soka Gakkai.
NRH, “Posfácio”, v. 30-II, p. 355
O budismo, que prega a existência da natureza de buda inerente a todas as pessoas, é o grandioso princípio filosófico de respeito à dignidade da vida e de igualdade fundamental entre seres humanos. E a compaixão exposta pelo budismo é o modelo de humanismo. De fato, o budismo é a ideologia que transforma a descrença em confiança, o ódio em amizade, erradicando quaisquer conflitos par tornar realidade a paz perene. As viagens pela paz de Shin’ichi eram o próprio desafio de unir o mundo, adotando o humanismo da filosofia budista como base espiritual da época.
NRH, “Posfácio”, v. 30-II, p. 356-359
O tema dos romances Revolução Humana e Nova Revolução Humana é “Seja como for, a grandiosa revolução humana de uma única pessoa um dia impulsionará a mudança total do destino de um país e, além disso, será capaz de transformar o destino de toda a humanidade!”.
Então, como realizar a transformação do destino?
A iluminação de Toda sensei na prisão foi o que indicou o caminho para essa transformação. Na prisão, desejando compreender a verdadeira essência do Sutra do Lótus, ele iniciou sua compenetrada leitura e a recitação do daimoku. Com isso, alcançou a percepção de que esteve na Cerimônia no Ar revelada no Sutra do Lótus junto com Nichiren Daishonin e que era um bodisatva da terra a quem foi confiado o kosen-rufudos Últimos Dias da Lei. Sentindo, assim, a maior das alegrias, jurou dedicar toda a sua vida ao kosen-rufu.
Nos escritos de Nichiren Daishonin consta: “Se tiver a mesma mente que Nichiren, o senhor deve ser um bodisatva da terra” (CEND, v. I, p. 404). Nós, que vivemos pelo kosen-rufuem exato acordo com o testamento de Daishonin, somos, sem dúvida, bodisatvas da terra. Contudo, porque nós que somos esses sublimes bodisatvas que cumprem a nobre tarefa do kosen-rufu, nascemos com variados carmas de sofrimento?
No capítulo “O Mestre da Lei” [10º] do Sutra do Lótus consta a seguinte passagem:
“Rei dos Remédios, deve saber que essas pessoas renunciam voluntariamente à recompensa merecida pela pureza de suas ações, e por se compadecerem dos seres vivos, elas nascem neste mundo maléfico após eu ter entrado em extinção para expor amplamente este sutra” (LSOC, p. 200).
O grande mestre Miaole interpretou essa passagem como “carma adotado pelo próprio desejo”.
Exatamente de acordo com esse princípio [de “carma adotado pelo próprio desejo”], nascemos neste mundo maléfico dos Últimos Dias da Lei com variados destinos, tais como de doença, de dificuldade financeira, de desarmonia familiar ou ainda de solidão e de sentimento de inferioridade, com o juramento seigan de salvar as pessoas imersas no sofrimento. Contudo, quando recitamos Nam-myoho-renge-kyo, empenhamo-nos na prática individual e altruística e vivemos em prol do kosen-rufu, surge plenamente a vida de bodisatva da terra e a extraordinária condição de buda dentro de nós. Assim, manifestamos em nossa vida a sabedoria, a coragem, a força, a esperança e a alegria para ultrapassar quaisquer sofrimentos ou dificuldades. O ato de vencer resolutamente as intempéries do destino provará a justiça e a grandiosa força do budismo, possibilitando promover o avanço do kosen-rufu. Ou melhor, nascemos carregando sofrimentos e dificuldades nas costas exatamente com essa finalidade.
Em outras palavras, o destino e a missão são os dois lados de uma mesma moeda. O destino se torna propriamente a nobre missão específica da pessoa. Por isso, quando vivemos pelo kosen-rufu, não há absolutamente nenhum destino que não possa ser transformado.
Todos são bodisatvas da terra e possuem o direito de ser felizes. Eles são os protagonistas e os extraordinários atores do grande drama que transforma as nevascas do inverno em primavera ensolarada e o sofrimento em alegria.
O enredo do romance Nova Revolução Humana se desenvolve com base nesse princípio de que “destino é missão”. A essência do ensinamento budista não se detém a uma visão estática dos acontecimentos, mas revela o dinamismo da vida capaz de transformar quaisquer aspectos por meio de princípios tais como “desejos mundanos são a iluminação”, “os sofrimentos da vida e da morte são o nirvana”, e “transformação do veneno em remédio”, entre outros. Identifica nas profundezas da vida de uma pessoa mergulhada no sofrimento sua condição de buda. Buda, por sua vez, indica o caminho para despertar e manifestar o sublime bem, a criatividade e o protagonismo inerentes à vida de todas as pessoas. Chamamos esse empreendimento de transformação da vida de “revolução humana”.
Os protagonistas da construção da sociedade, da nação e do mundo são os próprios seres humanos. O ódio ou a confiança, o desprezo ou o respeito, a guerra ou a paz são todos produtos da determinação em um único momento ser humano. Portanto, não é possível conquistar a felicidade pessoal, nem a prosperidade da sociedade, nem a paz perene do mundo, sem a realização da revolução humana. Sem esse ponto essencial, todo o esforço empreendido resultará em castelo de areia. Certamente, a filosofia da “revolução humana” embasada no budismo será o novo guia da humanidade que já iniciou o terceiro milênio.
Notas:
1. Hippocrates. Vol. IV: Heracleitus On the Universe [Hipócrates. Vol. IV: Heráclito no Universo]. Tradução: W. H. S. Jones. Londres: William Heinemann Ltd., 1959. p. 481.
2. Traduzido do japonês. NAMBARA, Shigeru. Ningen Kakumei to Dai-niji Sangyo Kakumei [A Revolução Humana e a Segunda Revolução Industrial]. Nambara Shigeru Chosaku-shu [Coletânea de Obras de Shigeru Nambara]. Tóquio: Iwanami Shoten, v. 7, p. 131, 1973.
3. Essa carta foi endereçada a Niike Saemon-no-jo, discípulo de Nichiren Daishonin que vivia na província de Totomi (atual região oeste da província de Shizuoka). Nela, Daishonin expressa a alegria de nascer nos Últimos Dias da Lei e propagar o Sutra do Lótus nesse período. Acrescenta ainda que a fé na Lei Mística é a chave para se atingir o estado de buda e reitera a importância da prática diligente.
4. “Substituição dos três veículos pelo veículo único”: Referência à afirmação feita por Shakyamuni no Sutra do Lótus de que os “três veículos” não são fins em si — apesar de outros sutras provisórios ensinarem que são —, mas meios apropriados por intermédio dos quais conduzem as pessoas ao “veículo único do estado de buda”. Os “três veículos” são os ensinamentos expostos para os ouvintes da voz, para aqueles que despertaram para a causa e para os bodisatvas, respectivamente. O “veículo único do estado de buda” indica o ensinamento que habilita todas as pessoas a atingir o estado de buda e corresponde ao Sutra do Lótus.
5. Mundo saha: Este mundo repleto de sofrimento. É frequentemente traduzido como mundo da resignação. Em sânscrito, sahasignifica “terra”; deriva do radical “suportar” ou “aguentar”. Por essa razão, nas versões chinesas das escrituras budistas, saha é interpretado como “resignação” ou “paciência”. Nesse contexto, mundo saha denota um mundo onde as pessoas devem suportar sofrimento.
6. Escrita no quarto mês de 1275, Carta para Horen é endereçada a Soya Kyoshin, a quem Nichiren Daishonin concedeu o nome budista Horen (Lei do Lótus). Nela, Daishonin descreve a ofensa de caluniar e o benefício de fazer oferecimentos ao devoto do Sutra do Lótus nos Últimos Dias da Lei. Ensina também que oferecer orações fundamentadas no Sutra do Lótus pelos falecidos pais é a melhor maneira de saldar a dívida de gratidão que temos como filhos.
7. Região localizada na parte centro-oeste de Honshu, a maior das quatro ilhas principais do Japão, que abrange as províncias de Niigata, Toyama, Ishikawa e Fukui.
8. “Possessão mútua dos dez mundos”: Princípio que expõe que cada um dos dez mundos abarca o potencial para todos os dez dentro de si. “Possessão mútua” significa que a vida não se fixa em um ou em outro dos dez mundos, mas pode manifestar qualquer um deles — do mundo do inferno ao mundo do estado de buda — em dado momento. O ponto importante desse princípio é que todos os seres em qualquer dos nove mundos possuem a natureza de buda. Isso quer dizer que as pessoas detêm o potencial para manifestar o estado de buda, e o Buda, por sua vez, também abriga os nove mundos e, nesse sentido, não é separado ou diferente das pessoas comuns.
9. “Três mil mundos num único momento da vida” (ichinen sanzen, em japonês): Sistema filosófico estabelecido por Tiantai da China com base no Sutra do Lótus. Os “três mil mundos” indicam os aspectos variáveis e fases que a vida assume a cada momento. Em cada momento, a vida manifesta um dos dez mundos. Cada um desses mundos abriga o potencial para todos os dez, resultando em cem mundos possíveis. Cada um desses cem mundos possui os dez fatores e opera dentro de cada um dos três domínios da existência, totalizado assim três mil mundos. Em outras palavras, todos os fenômenos estão contidos dentro de um único momento da vida, e um único momento da vida permeia os três mil mundos da existência, ou seja, o mundo dos fenômenos em sua totalidade.
10. Devadatta: Primo de Shakyamuni e, inicialmente, seu discípulo. Mais tarde, contudo, por arrogância tornou-se inimigo de Shakyamuni e cometeu muitas transgressões graves, como causar uma cisão na Ordem budista e tentar matar o Buda.
11. Iluminação das pessoas más: Mesmo as pessoas que se opõem e caluniam o ensinamento do budismo, tais como os icchantika ou pessoas de descrença incorrigível, podem atingir o estado de buda por meio da relação inversa. Como estas pessoas estabelecem uma ligação com o ensinamento do budismo opondo-se a ele, recebem efeitos negativos que as levam a professar a fé e a atingir o estado de buda. No Sutra do Lótus, esse conceito é ilustrado pelos exemplos de Devadatta e daqueles que ridicularizaram e atacaram o bodisatva Jamais Desprezar.
12. MIAOLE. Anotações sobre “Palavras e Frases do Sutra do Lótus”.
13. Traduzido do francês. MAUROIS, André. Au Commencement était l’Action [No Princípio Era a Ação]. Paris: Librairie Plon, 1966. p. 93.
14. Ibidem, p. 93-94.
15. Bodisatva Jamais Desprezar. Descrito no capítulo 20, “[Bodisatva] Jamais Desprezar”, do Sutra do Lótus, esse bodisatva — Shakyamuni numa existência anterior — curvava-se respeitosamente a todos com quem se encontrasse, reconhecendo a natureza de buda inata deles. Porém, ele era atacado por pessoas arrogantes, que o agrediam com varas e bastões e atiravam pedras nele. O sutra explica que essa prática se tornou a causa para o bodisatva Jamais Desprezar atingir o estado de buda.
16. Essa carta, escrita no décimo segundo mês de 1276, foi endereçada ao sacerdote leigo Matsuno Rokuro Saemon. Nela, Daishonin declara que a recitação do Nam-myoho-renge-kyo por um venerável e por uma pessoa comum são iguais contanto que ambos tenham fé. Além disso, adverte para não caluniar os praticantes do Sutra do Lótus e, contando a história do menino Montanhas de Neve, salienta a importância de recitar fervorosamente Nam-myoho-renge-kyo e propagar o sutra empregando o máximo de sua capacidade.
17. “Quatorze calúnias”: Quatorze tipos de calúnia relacionados em Anotações sobre “Palavras e Frases do Sutra do Lótus” de Miaole (711–782) com base no conteúdo do capítulo 3, “Analogia e Parábola”, do Sutra do Lótus. Consistem em quatorze ofensas contra a Lei, ou ensinamentos do Buda, e contra as pessoas que acreditam nela e a praticam. São: (1) agir com arrogância, (2) agir com negligência, (3) basear-se apenas no próprio pensamento, (4) julgar superficialmente, (5) apegar-se aos desejos mundanos, (6) recusar-se a compreender, (7) recusar-se a acreditar, (8) franzir a testa em desaprovação, (9) duvidar, (10) difamar, (11) desprezar, (12) odiar, (13) invejar, e (14) nutrir rancor.
18. Purificação dos seis órgãos dos sentidos: Também definida como purificação dos seis sentidos. Significa os seis órgãos dos sentidos — olhos, orelhas, nariz, língua, pele e mente — tornarem-se puros, permitindo que se assimile corretamente todos os fatos. O capítulo 19, “Os Benefícios do Mestre da Lei”, do Sutra do Lótus explica que aqueles que abraçam e praticam o sutra obtêm oitocentos benefícios dos olhos, nariz e pele e 1.200 benefícios das orelhas, língua e mente, e que por meio desses benefícios os seis órgãos são apurados e purificados.
19. Consulte a nota 11.
20. Cf. IKEDA, Daisaku. Mahayana Buddhism and Twenty-first-Century Civilization [O Budismo Mahayana e a Civilização do Século 21]. A New Humanism: The University Addresses of Daisaku Ikeda [Um Novo Humanismo: Os Discursos de Daisaku Ikeda em Universidades]. Nova York: Weatherhill, 1995. p. 157.
21. “Três venenos” — avareza, ira e estupidez: Males fundamentais inerentes à vida, que originam o sofrimento humano. No Tratado sobre Grande Perfeição da Sabedoria do renomado estudioso do Mahayana, Nagarjuna, os três venenos são considerados a fonte de todas as ilusões e desejos mundanos. Os “três venenos” são denominados assim por contaminarem a vida das pessoas e operarem para impedir que elas voltem o coração e a mente para o bem.
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