Estudo
BM
[17] Gratidão
Departamento de Estudo do Budismo
23/08/2021
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Capítulo 1: Trechos do Gosho
Budismo do Sol — Iluminando o Mundo - Terceira Civilização, ed. 615, nov. 2019, p. 50-65 - Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda
[20] Cumprir o juramento seigan de concretizar o kosen-rufu é saldar as dívidas de gratidão
Explanação
Meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, comentou certa vez:
Nem é preciso dizer que a imensurável dívida de gratidão que tenho com Makiguchi sensei me capacita a liderar o kosen-rufu hoje. Como discípulo e alguém que o respeita como pai, estou determinado a guardá-lo em meu coração e saldar minha dívida de gratidão com ele por toda a vida, não, por toda a eternidade.
Toda sensei se ergueu sozinho em meio às ruínas do Japão pós-guerra e iniciou a reconstrução da Soka Gakkai. Em seu coração ardia a determinação indômita de saldar a dívida de gratidão com Makiguchi sensei, presidente fundador da organização, e de realizar o kosen-rufu sem falta. Movido pelo desejo de eliminar a miséria da face da Terra, seguiu em frente com o intuito de concretizar o extraordinário empreendimento da sua vida de a Soka Gakkai realizar a propagação do budismo para 750 mil famílias.
O caminho de mestre e discípulo é o caminho de quitar as dívidas de gratidão. Eu me devotei a apoiar Toda sensei, que me ensinou o nobre modo de vida dedicado à propagação da Lei Mística. No árduo período de recessão econômica depois da Segunda Guerra Mundial, os negócios dele enfrentaram sérios problemas financeiros. Enquanto os outros funcionários o abandonaram um após o outro, permaneci sozinho ao seu lado, apoiando-o e fiz tudo para auxiliá-lo. Era uma forma de saldar minha dívida de gratidão com ele.
O caminho da sincera devoção a ser trilhado como ser humano
Em dezembro de 1950, depois de percorrermos a cidade de Omiya, província de Saitama, na esperança de manter seus negócios em atividade, meu mestre e eu caminhávamos à margem de um rio. Era uma linda noite estrelada.
Cantarolei uma melodia [que se tornara] popular no obscuro período pós-guerra, alterando a letra de “No fluxo das estrelas (...), quem me transformou nesse tipo de mulher?” para “No fluxo das estrelas (...), quem me transformou nesse tipo de homem?”. Toda sensei, que caminhava ao meu lado, virou-se para mim e disse sorrindo: “Fui eu!”. Meu coração se aqueceu com aquela alegre observação do meu mestre.
Jamais me esquecerei do juramento que selei, na ocasião, de avançar eternamente ao seu lado. Decidi que, apesar de as empresas dele enfrentarem uma série de dificuldades, lutaria com espírito invencível por toda a vida como seu discípulo, não obstante a situação, e alcançaria a vitória infalivelmente.
Alguns anos mais tarde, com a fotografia do meu mestre no bolso interno do paletó, parti para cumprir o sonho dele de concretizar o kosen-rufuda Ásia e do mundo. Estou sempre junto dele. Até hoje continuo pondo em prática seus ensinamentos e suas orientações, e converso com ele em meu coração todos os dias.
Saldar a dívida de gratidão é o caminho da sincera devoção a ser trilhado como ser humano. A vida de Nichiren Daishonin é marcada pelo compromisso inabalável de saldar suas dívidas de gratidão. Nesta oportunidade, vamos nos aprofundar no verdadeiro espírito de quitar as dívidas de gratidão, estudando as passagens dos escritos Saldar as Dívidas de Gratidão e As Quatro Dívidas de Gratidão.
Trecho do escrito 1
Saldar as Dívidas de Gratidão
A velha raposa jamais se esquece da colina onde nasceu.1A tartaruga branca retribuiu ao ato de bondade de Mao Bao.2 Se mesmo criaturas inferiores têm essa consciência, os humanos deveriam ter muito mais! Assim, Yu Rang, um digno homem de épocas passadas, lançou-se contra a própria espada a fim de saldar a dívida que tinha para com seu senhor Zhi Bo.3 E por razões semelhantes, o ministro Hong Yan abriu o próprio ventre e nele inseriu o fígado de seu senhor morto, o duque Yi de Wei.4 Então, o que podemos dizer das pessoas que estão se devotando ao budismo? Com certeza, elas não devem se esquecer das dívidas de gratidão que têm para com seus pais, seus mestres e sua nação.
No entanto, se uma pessoa tem a intenção de saldar essas grandes dívidas de gratidão, ela somente conseguirá fazer isso se compreender profundamente o budismo e, assim, tornar-se uma pessoa de sabedoria. (CEND, v. I, p. 722)
Tratado em tributo à memória do mestre
Dozen-bo5 foi o mestre de Nichiren Daishonin na infância, durante o período em que Daishonin estudou no templo Seicho-ji, na província de Awa (região sul da atual província de Chiba). Entre os discípulos de Dozen-bo próximos a Daishonin naquele tempo estavam Joken-bo e Gijo-bo,6 que eram seus veteranos.
No sexto mês de 1276, Nichiren Daishonin soube da morte de Dozen-bo, e um mês depois escreveu Saldar as Dívidas de Gratidão para louvar a memória do seu falecido mestre e quitar sua dívida de gratidão com ele.
Na carta de apresentação desse escrito, Daishonin solicita que o tratado seja lido em voz alta diante do túmulo de Dozen-bo:
Portanto, peço que apenas os dois — o senhor [Joken-bo] e Gijo-bo — façam com que essa leitura seja feita no pico de Kasagamori [um arvoredo numa colina do terreno do templo Seicho-ji], em voz alta e duas ou três vezes, e que o leitor seja o sacerdote portador desta carta. Por favor, assegurem-se de que ele também leia uma vez diante da sepultura de Dozen-bo. (CEND, v. I, p. 771)
A busca pelo caminho e a propagação do budismo para saldar a dívida de gratidão com o mestre
Em Saldar as Dívidas de Gratidão, Nichiren Daishonin descreve sua vida, voltada para buscar o caminho e propagar o budismo para quitar a dívida de gratidão com seu mestre. Também foi uma vida dedicada à luta para “refutar o errôneo e revelar a verdade” a fim de conduzir todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei à iluminação.
Ele acrescenta: “No tratado que acompanha esta carta, escrevi sobre questões de extrema importância” (CEND, v. I, p. 771), referindo-se ao fato de ter revelado o Nam-myoho-renge-kyo das “três grandes leis secretas”,7 abrindo o caminho para assegurar um futuro radiante para toda a humanidade.
No início desse tratado, ele apresenta o exemplo da velha raposa e da tartaruga branca para demonstrar que até os animais quitam suas dívidas de gratidão, salientando que tal postura é ainda mais importante no caso dos seres humanos. Em seguida, cita o exemplo de Yu Rang e Hong Yan, afirmando que, uma vez que até os homens dignos da antiguidade mantinham a conduta de serem gratos, os discípulos do Buda não deveriam se esquecer da sua dívida de gratidão com os pais, os mestres, o país e a sociedade.
De que maneira os budistas podem saldar suas dívidas de gratidão? Daishonin nos mostra que podemos fazê-lo estudando e obtendo profunda compreensão dos ensinamentos do budismo, tornando-nos assim pessoas dotadas de genuína sabedoria e nos empenhando para guiar aqueles com quem temos dívida de gratidão.
“Reconhecer o que fizeram por nós”
Façamos uma pausa para considerar o significado de saldar dívidas de gratidão.
Esse ato está profundamente arraigado na natureza humana, independentemente da época ou do lugar, e faz parte da vida, assim como demonstram os contos e as histórias citados por Nichiren Daishonin no tratado.
No Japão atual, a expressão “saldar dívidas de gratidão” muitas vezes é associada com relações hierárquicas do período feudal, mas isso, na realidade, constitui apenas um pequeno aspecto desse conceito.
Acredita-se que os ideogramas chineses que os sutras usavam em “saldar dívidas de gratidão” (ho’on, em japonês; bao en, em chinês) são uma tradução da expressão sânscrita krita-jna, que literalmente significa “reconhecer (jna) aquilo que fizeram em benefício da pessoa (krita)”.
Reconhecendo que a nossa existência no presente momento se deve ao auxílio e ao apoio de muita gente, devemos agora trabalhar em prol das pessoas, manifestando gratidão. Esse ato significa “reconhecer” e “quitar” a dívida de gratidão.
Saldar dívidas de gratidão é prova da nossa natureza humana. No budismo, isso não se limita àquilo que se deve a um grupo específico de pessoas, como os pais ou o governante do país. Uma vida de profunda e genuína gratidão reconhece naturalmente sua dívida de gratidão com todos os seres vivos.
Como quitamos nossa dívida de gratidão com todos os seres vivos? Daishonin nos ensina que nesse esforço também é importante “compreender profundamente o budismo” (cf. CEND, v. I, p. 722).
O trecho que estamos estudando neste ensejo é seguido pelas palavras “Será que um navio conduzido por alguém que não sabe nem dizer qual é a direção do vento poderá levar mercadores viajantes até as montanhas que abrigam tesouros?” (CEND, v. I, p. 722). Isso quer dizer que a menos que conquistemos verdadeira sabedoria por meio da prática do budismo não seremos capazes de conduzir os outros à verdade. No budismo, saldar dívidas de gratidão denota desenvolver em nós mesmos ampla condição de vida, para assim transmitir nosso reconhecimento aos outros e reconhecer, num âmbito profundo, o que fizeram por nós.
No Budismo Nichiren, quitar dívidas de gratidão significa empreender ações, levantando-se com o juramento seigan de conduzir as pessoas à felicidade. O escrito Saldar as Dívidas de Gratidão nos ensina isso registrando os grandiosos esforços e a luta pessoal de Daishonin por esse propósito.
Trecho do escrito 2
Saldar as Dívidas de Gratidão
Se uma pessoa deseja aprender sobre o budismo e dominá-lo, ela somente poderá fazê-lo se dedicar seu tempo a isso. E se deseja ter esse tempo, ela não poderá continuar seguindo seus pais, seu mestre e seu soberano. Até que alcance a estrada que conduz à emancipação, ela não deve se deixar guiar pelos desejos nem pelos sentimentos de seus pais e mestres, não importando quão sensatos eles possam parecer.
Muitas pessoas podem acreditar que esse tipo de conselho contraria as virtudes seculares e também o espírito budista. Porém, na verdade, textos seculares como o Clássico da Devoção Filial deixam claro que, para ser um ministro leal ou um filho dedicado, haverá momentos em que a pessoa precisará se recusar a satisfazer os desejos de seu soberano ou de seus pais. E nas escrituras sagradas do budismo consta: “Ao renunciar às próprias obrigações e ingressar na vida budista, as pessoas poderão saldar todas as dívidas de gratidão”.8 Bi Gan recusou-se a continuar apoiando os desejos de seu soberano e tornou-se conhecido como um homem venerável.9O príncipe Siddhartha [buda Shakyamuni] desobedeceu ao pai, o rei Shuddhodana e, apesar disso, ele se tornou o filho mais dedicado em todo o mundo tríplice. Esses são exemplos do que quero dizer. (CEND, v. I, p. 722)
Tornar-se uma pessoa de sabedoria capaz de conduzir os outros à iluminação
Quando ingressou no templo Seicho-ji aos 12 anos, Nichiren Daishonin selou o juramento de se tornar “a pessoa mais sábia de todo o Japão” (CEND, v. I, p. 184). Podemos interpretar esse fato como o juramento seigan de buscar o caminho para conduzir seus pais e toda a humanidade à iluminação, mencionado na passagem que examinamos anteriormente:
Com certeza, elas [pessoas que estão se devotando ao budismo] não devem se esquecer das dívidas de gratidão que têm com seus pais, seus mestres e sua nação. No entanto, se uma pessoa tem a intenção de saldar essas grandes dívidas de gratidão, ela somente conseguirá fazer isso se compreender profundamente o budismo e, assim, tornar-se uma pessoa de sabedoria. (CEND, v. I, p. 722)
Tornar-se uma pessoa de sabedoria capaz de conduzir os outros à iluminação — esse foi o início da busca de Daishonin pelo caminho do budismo e também o ponto de partida dos seus esforços pela propagação que prosseguiu por toda a sua vida.
Nichiren Daishonin afirma que para se tornar essa “pessoa de sabedoria”, é preciso se devotar à prática do budismo de corpo e alma. O ato de manter tal prática e dominar o caminho para assegurar a felicidade indestrutível para todos é a forma de quitar efetivamente a dívida de gratidão aos pais e ao mestre, correspondendo às expectativas deles.
Em Carta para os Irmãos, Nichiren Daishonin também afirma: “Em todos os assuntos seculares, é dever dos filhos obedecer aos pais. No entanto, no caminho para o estado de buda, a desobediência aos pais indica, em essência, a devoção filial” (Ibidem, p. 521).
Alcançar o caminho que leva ao estado de buda é a conduta fundamental da devoção filial, assegura ele. Isso porque ao revelarmos nosso estado de buda por meio da fé na Lei Mística, evidenciamos ilimitada sabedoria e compaixão e conduzimos nossos pais e toda a humanidade à iluminação.
Buscar a verdade para conduzir os pais e o mestre à iluminação
Nesse trecho, Daishonin revela que um ministro leal ou um filho dedicado, como descrito nos textos não budistas, ou uma pessoa dotada do verdadeiro senso de saldar as dívidas de gratidão, como mencionado nas escrituras budistas, não se referem necessariamente a alguém que obedece à vontade dos pais ou do soberano. Ele cita o caso de Bi Gan, que não seguiu as instruções do rei Zhou, da dinastia Yin, mas mesmo assim se tornou respeitado como um homem digno; e relata que, quando Shakyamuni deixou o palácio para buscar o caminho, desobedeceu à ordem do seu pai, mas ainda assim foi considerado depois “o filho mais dedicado em todo o mundo tríplice” (CEND, v. I, p. 722).
Nichiren Daishonin também contrariou a vontade dos seus pais e do seu mestre, e desacatou até o governante do país ao continuar buscando o caminho, plenamente ciente de que ao propagar a Lei Mística estaria sujeito a severas perseguições.
Mais à frente, em Saldar as Dívidas de Gratidão, Daishonin escreve:
Se, nesta existência, eu temer tanto pela minha vida a ponto de não dizer o que deve ser dito, então, em que existência futura atingirei o estado de buda? Ou em que futuro poderei salvar meus pais e meu mestre? Com esses pensamentos dominando a minha mente, decidi fazer minhas declarações. (CEND, v. I, p. 760)
Makiguchi sensei sublinhou essa passagem em seu exemplar do Gosho (Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin).
Não houve, no verdadeiro sentido da palavra, filho mais dedicado que Daishonin. O ponto primordial do Budismo Nichiren consiste em saldar as dívidas de gratidão. Independentemente da época, isso jamais mudará. Por essa razão, gostaria que os jovens fizessem da atitude de ser bons filhos em relação aos pais o ponto inicial do seu juramento seiganna vida. Amar os pais é a base para amar todas as demais pessoas.
Sinto imensa alegria em ver tantos jovens Soka trilhando uma vida de tamanha nobreza e gratidão. Acredito resolutamente que esses jovens bodisatvas da terra, que lutam munidos do mais sublime espírito, são os preciosos “valores humanos” da Soka Gakkai e o tesouro da humanidade.
A nobre existência de viver para saldar a dívida de gratidão com o mestre
Nichiren Daishonin expressa:
Fiz tudo isso com o único propósito de saldar a dívida [de gratidão] que tenho com meus pais, com meu mestre, com os três tesouros do budismo e com minha nação. Em benefício de todos eles, estava pronto para destruir meu corpo e renunciar a minha vida. (CEND, v. I, p. 762)
O budismo expõe as quatro dívidas de gratidão — cuja definição varia levemente dependendo da fonte. No Sutra da Contemplação da Mente como Solo,10 são enunciados como as dívidas que se tem com os pais, os seres vivos, o soberano, e os três tesouros.
As citações apresentadas por Nichiren Daishonin em As Quatro Dívidas de Gratidão e em outros escritos foram extraídas dessa fonte. Contudo, em Saldar as Dívidas de Gratidão, ele incorpora a dívida com todos os seres humanos àquela que se tem com os pais, e acrescenta no lugar dela a dívida com o mestre. Podemos inferir que isso seja uma expressão do seu espírito de quitar sua dívida de gratidão com Dozen-bo, seu mestre na juventude.
Na realidade, embora Dozen-bo fosse o mestre de Daishonin, ele era medroso e covarde. Não defendeu Nichiren Daishonin quando este foi perseguido e também não conseguiu se desfazer totalmente do seu apego ao ensinamento da Terra Pura (Nembutsu). Apesar disso, Daishonin nutria imensa consideração por ele. No tratado Saldar as Dívidas de Gratidão, ele afirma que ao saber da morte de Dozen-bo teve vontade de ir depressa, de Minobu a Awa, ao túmulo dele e realizar uma cerimônia em sua memória (cf. CEND, v. I, p. 763). Esse fato indica como são profundos os laços entre mestre e discípulo.
O brilho de uma religião genuinamente dedicada ao bem das pessoas
Como é nobre e valiosa a vida dedicada ao drama da revolução humana e da transformação do destino por ter se encontrado com o genuíno mestre do kosen-rufu! Nós estamos edificando o palco de nossa inigualável existência.
O mestre nunca deixa de desejar o crescimento dos discípulos. O discípulo, por sua vez, abriga a decisão incessante de saldar sua dívida de gratidão com o mestre. A relação de mestre e discípulo é a sublime sinfonia do espírito humano.
Nichiren Daishonin ensinou esse extraordinário caminho de mestre e discípulo — uma estrada que ele mesmo trilhou buscando encontrar a melhor maneira de herdar e dar continuidade ao Budismo de Shakyamuni e saldar a dívida de gratidão com Dozen-bo, seu primeiro mestre budista.
Ao trilharmos pelo caminho de mestre e discípulo — o Budismo de Nichiren Daishonin, religião dedicada ao bem das pessoas —, nossa vida continuará emitindo um brilho indestrutível. O modo de vida alicerçado no caminho de mestre e discípulo, a mais elevada conduta como ser humano, proporciona uma direção positiva e esperança para os jovens. Além disso, tem o poder de elevar a condição de vida da humanidade e guiar pessoas de todos os cantos à felicidade.
A grande batalha de conduzir todos à iluminação
Nichiren Daishonin dedicou-se sem poupar a própria vida com o intuito de saldar as quatro dívidas de gratidão. Em outras palavras, trabalhou de modo incansável para cumprir o juramento seigando Buda de conduzir todas as pessoas ao estado de buda.
A busca de Daishonin pela verdade essencial do budismo o levou a estabelecer o daimoku do Nam-myoho-renge-kyo, ao anunciar pela primeira vez seu ensinamento [no templo Seicho-ji, em 1253]. Com isso, seu juramento seigan de se tornar “a pessoa mais sábia de todo o Japão” (CEND, v. I, p. 184), para quitar as dívidas de gratidão com seus pais e com todos os que faziam parte de sua vida, foi concretizado na forma do estabelecimento da Lei.
Essa concretização da busca pelo budismo foi seguida de uma nova jornada, a da propagação da Lei budista. Propagando a Lei Mística e beneficiando a humanidade, ele pôde cumprir seu juramento seigan no sentido mais profundo. Portanto, ele expressa nesse trecho que abriu o caminho para libertar as pessoas do sofrimento pelo eterno futuro.
Saldar as Dívidas de Gratidãodescreve as ações de Nichiren Daishonin, que se levantou sozinho para proclamar o ensinamento do budismo nos Últimos Dias da Lei. Ele prosseguiu propagando a Lei Mística, dedicando-se a esse trabalho sem poupar sua vida, em meio a ataques e perseguições. Era uma luta que demandava força interior e resistência descomunais, que exigia “uma batalha como a travada entre a divindade Shakra e os asura, ou entre o Buda e o rei demônio” (Ibidem, p. 749).
As perseguições enfrentadas por ele eram tão intensas que o levaram a expressar: “Não encontrei um único local em que eu pudesse descansar com segurança [nem por um único dia, ou uma simples hora] nas sessenta e seis províncias e duas ilhas do Japão” (Ibidem, p. 761). No entanto, ele seguiu em frente, incansável, para saldar a dívida de gratidão com todos os seres vivos.
Após declarar que finalmente foi capaz de cumprir seu grande juramento seigan, Daishonin conclui o tratado Saldar as Dívidas de Gratidão com a afirmação: “Assim, a flor retornará à raiz, e a essência da planta permanecerá na terra. O benefício sobre o qual venho falando com certeza se acumulará na vida de Dozen-bo” (Ibidem, p. 770).
Nichiren Daishonin quis dizer que o benefício de propagar a Lei Mística pelos dez mil anos dos Últimos Dias da Lei e mais, engrandecendo assim a vida das pessoas, também fará com que benefícios se acumulem na vida do falecido Dozen-bo, o que revela a infinita compaixão de Daishonin. Ele elucida que até um mestre como Dozen-bo atingirá o estado de buda por meio do benefício da Lei Mística. Essa é a essência suprema do caminho para saldar as dívidas de gratidão indissociável do juramento seigande Daishonin.
Trecho do escrito 3
As Quatro Dívidas de Gratidão
Se não fosse por eles [todos os seres vivos], seria impossível fazer o voto de salvar inúmeros seres vivos.11 Além disso, se não fosse pelas pessoas más que perseguem os bodisatvas, como estes poderiam desenvolver virtudes?12 (CEND, v. I, p. 44)
Os membros da Soka Gakkai põem em prática o juramento dos bodisatvas
No que concerne a saldar dívidas de gratidão, vamos passar agora para a passagem do escrito As Quatro Dívidas de Gratidão.
Como confirmamos até agora, no budismo as dívidas de gratidão que temos para quitar envolvem todos os seres vivos, incluindo nossos pais e outros que fazem parte da nossa vida.
Em As Quatro Dívidas de Gratidão, Nichiren Daishonin declara: “Se não fosse por eles [todos os seres vivos], seria impossível fazer o voto de salvar inúmeros seres vivos” (CEND, v. I, p. 44). Ou seja, a dívida de gratidão com todas as formas de vida inspira os bodisatvas a firmar o juramento de conduzir os seres vivos a atingir a iluminação. Na época atual, quem está cumprindo esse juramento de bodisatva para saldar a dívida de gratidão com todos os seres vivos somos nós, membros da Soka Gakkai.
Toda sensei certa vez externou com forte emoção: “Makiguchi senseimorreu dizendo que havia deixado para o mundo sua pouco conhecida teoria de valor e seus discípulos. Portanto, como discípulo dele devo realizar uma luta sem arrependimentos”.
Como principal discípulo de Tsunesaburo Makiguchi, e com o propósito de quitar sua dívida de gratidão com seu mestre, Toda sensei se dedicou de corpo e alma para tornar a teoria de valor formulada por Makiguchi senseiconhecida no mundo inteiro.
Eu também gravei no coração cada projeto e ideia que meu mestre, Josei Toda, tinha para o futuro, sem deixar escapar nada.
Concretizar o sonho de Toda sensei
Certo dia, um integrante da Divisão dos Estudantes (DE) me perguntou:
— Qual é o seu sonho?
— É tornar realidade o sonho do meu mestre, Josei Toda — respondi.
Esse é o caminho direto para a concretização da paz mundial e da transformação do destino da humanidade.
Na mesma ocasião, eu também disse aos nossos jovens membros:
— Espero que no futuro vocês sejam excelentes cientistas e líderes da sociedade. Esse é um dos meus maiores sonhos.
Nesta nova era do kosen-rufumundial, jovens de todo o Japão e do mundo estão se esforçando para tornar esse sonho realidade.
Sempre que fico sabendo de suas vitórias, imagino Toda sensei sorrindo feliz.
Só conseguimos saldar de fato nossas dívidas de gratidão pelo apoio e pela bondade que os outros nos concederam ao estendermos esse mesmo gesto à geração seguinte.
“O Nam-myoho-renge-kyo se propagará por dez mil anos e mais, por toda a eternidade”
Voltando ao escrito Saldar as Dívidas de Gratidão, depois de Daishonin afirmar que cumpriu seu juramento seigan, há um trecho em que ele faz uma imponente declaração de concretizar o kosen-rufu — ou a ampla propagação da Lei Mística — nos Últimos Dias da Lei:
Se a compaixão de Nichiren for realmente grande e abrangente, o Nam-myoho-renge-kyo se propagará por dez mil anos e mais, por toda a eternidade, pois é dotado do poder benéfico de abrir os olhos cegos de todos os seres vivos do Japão. (CEND, v. I, p. 770)
Nichiren Daishonin abriu o nobre caminho da concretização do juramento seigan que é a própria conduta de saldar as dívidas de gratidão — ou seja, é a grande estrada do kosen-rufu para realizar a felicidade de toda a humanidade. Hoje, a Soka Gakkai e a SGI estão fazendo desse fato realidade; o que as torna dignas da denominação “Buda Soka Gakkai”. Não há como o grande poder e o benefício do Buda deixarem de impregnar a vida de cada um dos membros da nossa organização.
Exatamente por essa razão, o desafio mais importante para nós agora é transmitir o vibrante espírito da Soka Gakkai de um jovem para outro. Devemos mantê-lo fluindo para sempre, e consolidar a estrada que assegurará que nosso movimento em prol do kosen-rufu prossiga eternamente de uma geração para outra. Sem o desenvolvimento contínuo da Soka Gakkai — organização em total conformidade com a ordem e o desejo do Buda — o kosen-rufu mundial, a ampla propagação do Budismo de Nichiren Daishonin, não terá continuidade por mais de dez mil anos nos Últimos Dias da Lei.
O avanço Soka é um brilho de esperança.
A união Soka é a força para a vitória.
O triunfo Soka é fonte de paz e prosperidade.
Vamos sempre viver com o positivo e vibrante espírito Soka de saldar as dívidas de gratidão!
Avancemos ao lado dos amigos do mundo na marcha alegre da nova era!
Com minha sincera gratidão aos meus preciosos companheiros de todos os cantos, que registraram mais uma etapa de brilhantes vitórias neste ano que se encerra (2016).
(Daibyakurenge, edição de dezembro de 2016)
Com a colaboração/revisão do Departamento de Estudo do Budismo (DEB) da BSGI
Capítulo 2: Trechos da Nova Revolução Humana
NRH, cap. “Novo Século”, v. 22, p. 79
O budismo também ensina sobre gratidão. No budismo, gratidão não é algo que reforça as relações hierárquicas da sociedade. Em vez disso, ele fala da gratidão por todos os seres vivos, preconiza que estimula a pessoa a estar aberta para sociedade, aceitar os outros e cultivar o espírito de confiança mútua.
Shin’ichi Yamamoto indagou a Matsushita qual era sua visão sobre gratidão. O empresário atribuiu grande relevância a essa virtude, declarando que gratidão e reconhecimento eram a base de sua convicção e de sua vida, e também um dos princípios fundamentais aos negócios que ele compartilhava com seus funcionários.
“O espírito de gratidão”, escreveu, “transmite imensa alegria e vitalidade ao nosso coração e, enquanto tivermos noção clara disso, ele atuará como fonte que nos permitirá ultrapassar todas as formas de adversidade e ensejar a verdadeira felicidade. A gratidão enriquece a vida numa magnitude incomparável”.
Os comentários de Matsushita sobre o assunto causaram forte impressão em Shin’ichi.
Matsushita continuou expondo seu ponto de vista, afirmando que gratidão é um tesouro interior inestimável, que pode se alastrar infinitamente e produzir algo muito valioso. Conforme indica a expressão japonesa “como uma moeda de ouro para um gato”, até algo tão precioso como o ouro é inútil para alguém que não reconhece seu valor. No entanto, o espírito de gratidão tem exatamente o efeito oposto. Possibilita que a pessoa reconheça o valor até mesmo de uma moedinha de ferro. A gratidão tem o poder de transformar ferro em ouro. E aqueles imbuídos desse espírito de gratidão naturalmente procuram retribuir à moedinha de ferro com algo tão precioso como uma moeda de ouro. Se todos pensassem assim, conjecturou Matsushita, o mundo se tornaria mais rico, tanto espiritual como materialmente.
Obviamente, jamais se deve exigir ou obrigar que as pessoas reconheçam ou se esforcem para saldar suas dívidas de gratidão, acrescentou ele. Em vez disso, sugeriu Matsushita, seria melhor tentar estimulá-las a compreender a importância da gratidão e nos empenharmos para difundir esse valor na sociedade, facultando, ao mesmo tempo, total liberdade de escolha às pessoas.
“Assim como damos grande ênfase à educação acústica par cultivar a sensibilidade estética das pessoas, necessitamos de uma educação moderna que ensine sobre valor, para cultivar a sensibilidade moral das pessoas, especialmente o senso de gratidão”, concluiu Matsushita.
Ao praticar e propagar amplamente o Budismo Nichiren, que ensina o caminho da gratidão e do apreço, bem como a importância da gratidão aos pais e a todos os seres vivos, a Soka Gakkai vem implementando exatamente esse tipo de educação.
NRH, cap. “Luta Conjunta”, v. 25, p. 124
Em seguida, Shin’ichi se dirigiu aos membros da época pioneira da Campanha de Yamaguchi.
— Aqueles que tinham 40 ou 50 anos naquele tempo agora estão na faixa dos 60 ou 70 anos, período para dar os retoques finais na vida. Portanto, gostaria de discorrer brevemente sobre esse significado. Como disse antes, o primeiro ponto é possuir espírito de gratidão e dedicar-se ao kosen-rufu enquanto viver, continuando, ao mesmo tempo, a fortalecer sua fé. Embora sua posição de liderança possa ter mudado, nunca deve inferir que tenha se aposentado ou obtido o diploma de formatura na fé. Ainda estão no campo de batalha, mas com uma função diferente. Do contrário, tudo o que prometeram, determinaram e disseram aos outros até agora de nada adiantará. Se os mais novos na prática virem que desistiram, vão se sentir desanimados e abatidos, e isso poderá fazê-los perder a fé no budismo. Como afirma Nichiren Daishonin: “Aceitar é fácil; manter é difícil. Porém, para se atingir o estado de buda é necessário manter a fé” (CEND. v. I, p. 492). Certifiquemo-nos de manter a chama da fé intensamente até o fim.
NRH, cap. “Fortaleza de Pessoas Capazes”, v. 25, p. 286-287
Se adotarem a postura de que a oposição do seu pai à prática budista de vocês e a fuga dele deixando-os com todas as dívidas estão contribuindo para torná-los pessoas de forte fé e notável caráter, então, de maneira diferente, ele está agindo como um buda para vocês. De nada adianta odiar seu pai. Em vez disso, o que devem fazer é recitar Nam-myoho-renge-kyo com espírito de gratidão a ele, empenhar-se ao máximo e encontrar uma saída positiva para a situação.
Daishonin escreveu: “Elas não devem se esquecer das dívidas de gratidão que têm para com seus pais, seus mestres e sua nação” (CEND, v. I, p. 722).
Praticantes budistas genuínos são aqueles capazes de expressar gratidão às outras pessoas. Se agirem com gratidão em tudo o que fizerem, cultivarão seu coração e mente e terão uma vida de grande riqueza espiritual.
NRH, cap. “Avanço Intrépido”, v. 26, p. 305
Shin’ichi abriu seu discurso falando sobre a gratidão na prática da fé:
— O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, costumava dizer: “Aqueles que sempre são gratos ao Gohonzon desfrutarão prosperidade e boa sorte cada vez maiores”. Aqueles que perdem o senso de gratidão constatam que sua boa sorte começa a se apagar. “Sempre fui protegido. Tudo é graças ao Gohonzon”. Desse espírito de gratidão nasce alegria, coragem e esperança. A gratidão enriquece nosso coração. Por outro lado, se estivermos sempre insatisfeitos e descontentes, empobreceremos nosso próprio coração. Participando das atividades cotidianas da Soka Gakkai com espírito de gratidão ao Gohonzon, podemos transformar nossa condição de vida. Oferecimentos são uma forma de manifestar nossa gratidão ao Gohonzon e ao Buda. Tradicionalmente no budismo há dois tipos de oferecimento: (1) oferecimentos materiais, como alimento, roupas, e outros bens; e (2) oferecimentos da Lei, tais como prestar reverência ao Buda, louvá-lo e honrá-lo. Propagar o budismo e incentivar os companheiros da organização incidem na categoria dos oferecimentos à Lei. Mesmo que não seja evidente de imediato, ao participarmos das atividades da Soka Gakkai e realizarmos com alegria esses oferecimentos à Lei, estaremos acumulando boa sorte gradativamente. Com o tempo, ela se manifestará como um grande benefício. Isso se chama benefício inconspícuo. Por meio desse processo, podemos construir uma base inabalável para nossa vida e consolidar um estado de felicidade absoluta.
Capítulo 3: Trechos do Diálogo sobre Religião Humanística
DRH, cap. “O Cumprimento do Juramento Seigan de Daishonin e sua Perpetuação pelos Discípulos”, v. 3, p. 192-194
Morinaka: Muitas pessoas hoje parecem considerar o conceito de saldar as dívidas de gratidão como algo antiquado, remanescente dos tempos feudais.
Pres. Ikeda: Isso deriva da tendência a considerar um benefício ou favor recebido (que se converte numa dívida de gratidão) como uma transferência unilateral, de cima para baixo — por exemplo, no caso de um bem concedido por um senhor feudal a um vassalo ou por um pai a um filho. Visto dessa forma, um favor ou um benefício recebido de alguém se torna uma pesada obrigação que submete a pessoa e a aprisiona.
Mas o conceito de Daishonin de saldar as dívidas de gratidão é muito mais abrangente, é universal. Baseia-se essencialmente no conceito de origem dependente,13um dos princípios budistas mais importantes.
Saito: É provável que os ideogramas chineses usados nos sutras para designar “saldar as dívidas de gratidão” (ho’on, em japonês; bao en, em chinês) sejam uma tradução da expressão sânscrita krita-jna, cujo significado literal é: “reconhecimento (jna) pelo bem que alguém fez (krita)”.
Pres. Ikeda: Jamais seríamos o que somos sem a ajuda e o apoio de outras pessoas. Reconhecer sinceramente esse fato e nos dedicarmos pelos outros com um profundo senso de gratidão por toda a assistência que temos recebido é o verdadeiro sentido de reconhecer o que os outros têm feito por nós e de saldar-lhes nossa dívida de gratidão.
O Sutra do Lótus, que expõe a consecução do estado de buda universal, considera a forma máxima de retribuição como aquela que devemos em gratidão a todos os seres vivos. Em outras palavras, isso representa a prática de compaixão, a prática de kosen-rufu — ou seja, a ampla propagação da Lei Mística pela felicidade de toda a humanidade. No Sutra do Lótus, o desejo de retribuir pelas dívidas que temos por todos os seres vivos corresponde ao juramento do Buda de ajudar todas as pessoas a atingirem o estado de buda.
Saito: Com relação à dívida que temos para com todos os seres vivos, Daishonin diz:
Se não fosse por eles, seria impossível fazer o voto de salvar inúmeros seres vivos. Além disso, se não fosse pelas pessoas más que perseguem os bodisatvas, como estes poderiam desenvolver virtudes? (CEND, v. I, p. 44)
O “juramento de salvar inúmeros seres vivos” é o primeiro dos quatro juramentos universais14 que os bodisatvas fazem quando se lançam pela primeira vez ao caminho da prática budista. Este é o voto de salvar todas as pessoas do sofrimento.
Pres. Ikeda: É o primeiro juramento porque o desenvolvimento do compromisso benevolente de se dedicar pela felicidade de todas as pessoas é o primeiro passo do caminho do estado de buda.
A existência daqueles que vivem em meio ao sofrimento e à infelicidade desperta esse compromisso altruísta em nós. Essas pessoas são, portanto, nossas benfeitoras. Da mesma forma, os indivíduos maus que nos perseguem e nos atacam são, para nós, grandes agentes positivos, pois nos possibilitam forjar e desenvolver nossa vida. Portanto, são pessoas com as quais temos dívidas de gratidão. É isso o que Daishonin nos ensina.
Morinaka: Em uma análise do capítulo 4 do Sutra do Lótus, “Fé e Compreensão”, que consta no Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Daishonin menciona o débito que os seres vivos têm para com o Mundialmente Reverenciado, ou Shakyamuni. Ele declara que é defendendo o Sutra do Lótus e conduzindo todas as pessoas à iluminação que podemos saldar nosso imenso débito ao Buda.15
Pres. Ikeda: A ideia que Daishonin tem de retribuição das dívidas de gratidão corresponde justamente a que é encontrada no Sutra do Lótus. Portanto, ela concorda perfeitamente com o juramento do Buda de possibilitar a todas as pessoas atingirem o estado de buda.
Eis por que Daishonin proclama ter cumprido seu juramento após revelar as três grandes leis secretas, os quais, na carta de apresentação que acompanha Saldar as Dívidas de Gratidão, ele descreve como “questões de extrema importância” (CEND, v. I, p. 771).
Notas:
1. Essa passagem aparece nos “Nove Trechos” das Elegias de Chu e em outras obras chinesas. Um comentário sobre as Elegias de Chu, por Zhu Xi, da dinastia Song, afirma: “A velha raposa quando morre, volta a cabeça para a colina. Isso porque ela jamais se esquece do local onde nasceu” (CEND, v. I, p. 773).
2. Essa história consta da Coletânea de Histórias e Poemas. Quando o jovem Mao Bao, que mais tarde se tornou general da dinastia Jin, caminhava ao longo do rio Yang-tsé, ele viu um pescador se preparando para matar a tartaruga que havia pescado. Sentindo pena dela, Mao Bao ofereceu a própria roupa ao pescador em troca da vida da tartaruga e a salvou. Tempos depois, quando estava sendo perseguido por seus inimigos, Mao Bao foi parar na beira do rio Yang-tsé. A tartaruga que ele salvara quando jovem apareceu e o carregou até a outra margem.
3. De acordo com os Registros do Historiador, Yu Rang de Jin serviu primeiro às famílias Fan e Zhonghang, porém não obteve nenhuma posição importante. Mais tarde, Yu Rang serviu a Zhi Bo, que lhe proporcionou grande favores. Mas logo Zhi Bo foi morto por Xiangzi, senhor feudal de Zhao. A fim de vingar seu senhor, Yu Rang se disfarçou de alguém com hanseníase, cobrindo seu corpo com laca, e bebeu lixívia para perder a voz. Assim, tentou se aproximar de Xiangzi. No entanto, sua tentativa de assassinato falhou e ele foi pego. Xiangzi, compreendendo o sentimento de lealdade de Yu Rang, ofereceu-lhe o próprio traje. Mas Yu Rang golpeou o traje três vezes com a espada, demonstrando inimizade com o homem que havia assassinado seu senhor e, em seguida, usou a espada contra si próprio.
4. Essa história aparece em Registros do Historiador. Enquanto Hong Yan estava viajando, os inimigos atacaram o estado de Wei e assassinaram o senhor feudal de Hong Yan, o duque de Yi, e devoraram o corpo dele, deixando apenas o fígado intacto, e partiram. Quando Hong Yan retornou e viu a cena trágica, caiu em prantos. Então, ele abriu o próprio ventre e inseriu o fígado de seu senhor feudal a fim de salvá-lo da desonra, e assim morreu.
5. Dozen-bo (m. 1276): Sacerdote do templo Seicho-ji, na província de Awa, Japão, com quem Nichiren Daishonin iniciou seus estudos budistas a partir dos 12 anos. Quando Daishonin declarou seu ensinamento pela primeira vez em Seicho-ji em 1253, sua refutação dos ensinamentos da Terra Pura (Nembutsu) enfureceu Tojo Kagenobu, administrador da área e fervoroso seguidor dessa escola, que lhe ordenou a prisão. Na ocasião, Dozen-bo ajudou Daishonin a escapar secretamente. No entanto, temia se opor a Kagenobu e, por essa razão, nunca conseguiu tomar coragem para se converter ao ensinamento de Nichiren Daishonin. Depois da Perseguição de Komatsubara em 1264, Dozen-bo visitou Daishonin e, na oportunidade, indagou se seria possível para ele atingir o estado de buda. Em resposta, Daishonin refutou os ensinamentos da Nembutsu, que Dozen-bo seguia, e o encorajou a se devotar ao ensinamento do Sutra do Lótus. Ao que parece, Dozen-bo desenvolveu certo grau de fé a partir de então, mas morreu sem se converter oficialmente.
6. Joken-bo e Gijo-bo: Sacerdotes do templo Seicho-ji que, como discípulos de Dozen-bo, apoiaram Daishonin durante o período inicial de seus estudos. Quando Nichiren Daishonin anunciou o estabelecimento do seu ensinamento em Seicho-ji, em 1253, eles o ajudaram a escapar quando a vida dele esteve ameaçada pelo administrador local, Tojo Kagenobu, que ficou furioso por ele ter denunciado os ensinamentos da Terra Pura. Posteriormente, tornaram-se seguidores de Daishonin e receberam vários de seus escritos.
7. “Três grandes leis secretas”: Princípio essencial do Budismo de Nichiren Daishonin: (1) o objeto de devoção do ensinamento essencial; (2) a recitação ou o daimoku do Nam-myoho-renge-kyo; e (3) o santuário ou o local em que se recita o daimoku diante do objeto de devoção. A Lei do Nam-myoho-renge-kyo engloba todos os três.
8. Sutra da Salvação Obtida por Homens de Fé Pura. Apesar de esse sutra não existir mais, o trecho mencionado, extraído dele, é citado em O Bosque de Joias no Jardim da Lei. “A vida budista”, no contexto do sutra, significa uma vida monástica, mas, nesta carta, Daishonin interpreta a frase como uma vida fundamentada na fé na Lei Mística.
9. Essa história consta de Registros do Historiador. O rei Zhou da dinastia Yin estava tão cego de amor por sua consorte Da Ji que se descuidou totalmente dos assuntos de estado. Ao ser repreendido por seu ministro Bi Gan, o rei ficou tomado pela ira e o matou.
10. Sutra da Contemplação da Mente como Solo: Sutra traduzido pelo monge indiano Prajna, que viajou para a China em 781. A obra explica que os estados de buda, bodisatva, pratyekabuddha, arhat, e ouvinte da voz se originam da mente dos mortais comuns. Então, compara a mente ao solo, que produz grãos. O sutra também define as quatro dívidas de gratidão — a que se tem com os pais, todos os seres vivos, o soberano e os três tesouros — e exalta os benefícios de se observar a mente num lugar tranquilo e remoto.
11. Um dos quatro juramentos universais firmados pelos bodisatvas ao iniciarem a prática budista. Os quatro juramentos são: (1) salvar inumeráveis seres vivos; (2) erradicar incontáveis desejos mundanos; (3) dominar incalculáveis ensinamentos budistas; e (4) alcançar a iluminação suprema.
12. O escrito As Quatro Dívidas de Gratidão foi redigido no décimo sexto dia do primeiro mês de 1262, durante o exílio de Nichiren Daishonin em Izu, e foi endereçado a um seguidor chamado Kudo, que morava na vila de Tojo, distrito de Nagasa, província de Awa (atual região sul da província de Chiba). Na carta, Daishonin expressa seu senso de gratidão em relação àqueles que o exilaram — uma sentença que materializava a profecia do Sutra do Lótus e o forçava a ler o sutra com a própria vida — e ensina o modo de saldar efetivamente as dívidas de gratidão.
13. Origem dependente: Doutrina budista que expressa a interdependência entre todas as coisas. Ensina que nenhum ser ou fenômeno existe por si só; eles existem ou ocorrem por causa de sua relação com outros seres e fenômenos. Tudo no mundo vem a existir em resposta a causas e condições, nada pode existir independente de outras coisas ou manifestar-se isoladamente.
14. Quatro juramentos universais: Também “quatro grandes juramentos” ou simplesmente “quatro juramentos”. Quatro votos que os bodisatvas fazem quando decidem iniciar a prática budista. Esses votos são: (1) salvar inumeráveis seres vivos; (2) erradicar incontáveis desejos mundanos; (3) dominar incalculáveis ensinamentos budistas; e (4) alcançar a iluminação suprema.
15. Em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Daishonin analisa o trecho inicial “O Mundialmente Reverenciado em sua grande compaixão...” (LSOC, cap. 4, p. 132), dizendo: “O Mundialmente Reverenciado é o buda Shakyamuni. A grande compaixão é o Nam-myoho-renge-kyo. Se desejamos retribuir à grande compaixão do buda Shakyamuni, devemos abraçar e manter o Sutra do Lótus. Este é o caminho para reconhecer a compaixão do buda Shakyamuni.... Agora, Nichiren e seus seguidores recitam Nam-myoho-renge-kyo com o intento de salvar todas as pessoas do Japão. Não seria este um exemplo de grande compaixão do Mundialmente Reverenciado?” (GZ, p. 727).
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