Não deixar para trás aqueles que mais sofrem

O presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, em sua Proposta de Paz apresentada em janeiro de 2021 à Organização das Nações Unidas (ONU), reflete sobre a necessidade de se combater a difusão de informações errôneas sobre o novo coronavírus, fato que foi amplificado pelas redes sociais. Ele alerta:

A disseminação descontrolada de desinformação ou incitamento, por vezes designada pelo neologismo “infodemia” (infodemic, em inglês), pode intensificar a discriminação e o preconceito, erodindo os próprios fundamentos da sociedade humana. Esse é outro tipo de pandemia, comparável à propagação da verdadeira doença.¹

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em seu folheto informativo publicado em abril de 2020, elucida o conceito de infodemia. A palavra se refere ao aumento no volume de informações associadas a um assunto específico, como a pandemia atual, cujo conteúdo pode se multiplicar exponencialmente em pouco tempo. “Nessa situação, surgem rumores e desinformação, além da manipulação de informações com intenção duvidosa. Na era da informação, esse fenômeno é expandido pelas redes sociais e se alastra rapidamente, como um vírus”.²

O estudo diz ainda que, no contexto da atual pandemia, a desinformação pode afetar profundamente todos os aspectos da vida e, mais especificamente, a saúde mental das pessoas.

Estão circulando informações imprecisas e falsas sobre todos os aspectos da doença: como o vírus se originou, a causa, o tratamento e o mecanismo de propagação. A desinformação pode circular e ser absorvida muito rapidamente, mudando o comportamento das pessoas e possivelmente levando-as a correr riscos maiores. Tudo isso torna a pandemia muito mais grave, afetando mais pessoas e comprometendo o alcance e a sustentabilidade do sistema global de saúde.³

Como consequência dessa infodemia, o fenômeno denominado sinofobia acentuou-se, sobretudo nos Estados Unidos. O sentimento contra a China, seu povo ou cultura, fez com que pessoas de origem asiática sofressem ataques de ódio em função dos primeiros casos da doença terem sido identificados nesse país. Além desse episódio, outras situações tiveram repercussão em diversos locais do mundo pela disseminação de notícias falsas (fake news).

A jornalista filipina Maria Ressa, premiada em 2021 com o Nobel da Paz ao lado do russo e também jornalista Dmitry Muratov, em entrevista concedida a um programa de televisão do Brasil assegurou que “quando você repete uma mentira um milhão de vezes, ela vira um fato”.⁴ Em vista dessa reflexão, torna-se indispensável checar em fontes seguras os conteúdos compartilhados nas redes de contatos para evitar que equívocos como a sinofobia venham a acontecer em nosso meio.

Assim como consta nas palavras do presidente Ikeda em sua proposta — para que ninguém tenha sua dignidade negada — torna-se imperativo observar não somente a dor da discriminação motivada pela desinformação mas outras mazelas decorrentes do novo coronavírus, como o sofrimento decorrente do processo de enfrentamento e recuperação da doença, o agravamento de quadros relacionados à saúde mental na população mundial, além da intensa crise econômica e social, principalmente nos países emergentes.

Nesse contexto, o ensinamento de Nichiren Daishonin praticado pelos membros da SGI assegura a importância de se respeitar a dignidade da vida humana e apresenta o caminho para valorizar todo ser humano como único, começando consigo próprio. O Dr. Ikeda tece comentários a respeito dessa reflexão em sua Proposta de Paz:

O Sutra do Lótus é uma narrativa que revela a dramática revitalização da vida humana. Quando uma pessoa após a outra tem contato com essa noção de que todos, sem exceção, possuem de forma inerente a condição de vida mais sublime, e quando elas despertam continuamente para a própria dignidade preciosa e insubstituível, elas passam a reconhecer o peso e o valor da dignidade dos outros. Em consequência, elas mutuamente aprofundam sua determinação para construir um mundo no qual a dignidade tanto de si como dos demais brilhe radiantemente.⁵

Desse modo, desejosos de que as autoridades mundiais acolham com ainda mais cuidado aqueles que enfrentam intensas dificuldades e, acima de tudo, cada qual à sua maneira, impulsionado pela compaixão budista, vamos contribuir com ações construtivas para o progresso da humanidade nestes tempos desafiadores, seja evitando a disseminação de informações falsas ou opondo-se a ações discriminatórias, e não deixar para trás aqueles que mais sofrem.

Notas:

1. Terceira Civilização, ed. 633, maio 2021, p. 22.

2. https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52054/Factsheet-Infodemic_por.pdf?sequence=16. Acesso em: 14 out. 2021.

3. Ibidem.

4. https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2021/10/10/reconhecimento-da-importancia-da-liberdade-de-expressao-diz-jornalista-ganhadora-do-nobel-da-paz.ghtml. Acesso em: 14 out. 2021.

5. Terceira Civilização, ed. 633, maio 2021, p. 26.