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Carta de Ano Novo

Escrito de Nichiren Daishonin para o Gongyo de Ano-NovoEscrito de Nichiren Daishonin para o Gongyo de Ano-Novo

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Redação

14/12/2024

Carta de Ano Novo

Trecho do Gosho

Recebi cem bolinhos de arroz cozidos a vapor e uma cesta de frutas. O dia de Ano-Novo representa o primeiro dia, o primeiro mês, o começo do ano e o início da primavera.1 A pessoa que celebra esse dia acumulará virtudes e será amada por todos (...).

Em primeiro lugar, sobre a questão de onde exatamente se encontram o inferno e o buda, um sutra diz que o inferno está abaixo da terra, e outro afirma que o buda reside no oeste. No entanto, um exame mais cuidadoso revela que ambos existem em nosso corpo de um metro e meio de altura. Isso deve ser verdade, pois o inferno está no coração da pessoa que, em seu íntimo, despreza seu pai e ignora sua mãe.

É como a semente de lótus, que contém flor e fruto ao mesmo tempo. Do mesmo modo, o buda habita nosso próprio coração. Por exemplo, a pederneira tem o potencial de produzir fogo, e as gemas possuem alto valor intrínseco. Nós, pessoas comuns, não conseguimos enxergar os próprios cílios, que estão bem perto, nem o céu distante. De modo semelhante, não percebemos que o buda existe em nosso coração.2

Cenário histórico

Nichiren Daishonin escreveu esta carta para a esposa de Omosu, irmã mais velha de Nanjo Tokimitsu, para expressar sua gratidão pelos presentes enviados por ela no início do ano: cem bolinhos de arroz cozidos a vapor e uma cesta de frutas. Seu marido, Ishikawa Shimbei Yoshisuke, também conhecido como Ishikawa no Hyoe, era o regente da vila de Omosu.

Em 1278, o casal havia perdido a filha, que faleceu devido a uma doença. A jovem havia enviado várias cartas a Daishonin e, antes de morrer, escreveu-lhe dizendo que provavelmente aquela seria sua última carta, compartilhando um estado de serenidade enquanto se preparava para a morte.

No escrito Carta de Ano Novo, Nichiren Daishonin explica, de forma clara, o funcionamento do princípio dos “dez mundos”.3 Ele revela que tanto o estado de buda quanto o estado de inferno existem na vida de todos os seres humanos. A pessoa domina­da pelo ódio vive no mundo do inferno, enquanto aquela que cultiva a fé no Sutra do Lótus experimenta o mundo do estado de buda.

É certo que, a cada Ano-Novo, a esposa de Omosu renovava sua determinação de seguir firme em sua prática budista como discípula de Nichiren Daishonin, não apenas pelo próprio bem, mas também em memória da filha falecida. Ao se aproximar do novo ano, ela provavelmente reafirmava essa decisão ao enviar os presentes a Daishonin. Em resposta, ele expressa profunda admiração pela sinceridade e pela vibrante determinação dela.

Trechos extraídos da explanação do presidente Ikeda publicada na revista Terceira Civilização, ed. 577, set. 2016. O escrito pode ser lido na íntegra na Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin (CEND), v. II, p. 405.

Explanação

Determinação para transformar a realidade diariamente

O primeiro dia do ano novo é um marco de novos começos, oferecendo a oportunidade de recomeçar com uma determinação renovada e revigorante. Esse momento é ideal para nos despertar para o espírito budista da “verdadeira causa”4 — a disposição de seguir em frente, sempre a partir do presente. Quando agimos com essa mentalidade, nossa vida transborda de uma alegria profunda e duradoura.

Nichiren Daishonin ensina que, ao celebrar esse dia com base na Lei Mística, uma pessoa acumula virtude e benefícios constantes, sendo amada por todos. No entanto, a verdadeira determinação para alcançar o estado de buda deve ser cultivada de forma constante e diária, no íntimo do nosso ser.

O inferno e o estado de buda existem dentro de nós

Nessa carta, Nichiren Daishonin assegura que o buda não pode ser encontrado em algum lugar distante, mas sim dentro do próprio coração.

Ao explicar a “possessão mútua dos dez mundos”,5 Daishonin começa ilustrando como o estado de inferno está presente dentro de cada ser humano. Ele descreve, por exemplo, como o “coração de uma pessoa que, em seu íntimo, despreza o pai e ignora a mãe” pode refletir esse estado.

A lei de causa e efeito que opera nas profundezas da vida é infalível. Embora os efeitos das causas nem sempre sejam imediatamente visíveis, elas sempre geram resultados, negativos ou positivos. Daishonin compara essa dinâmica com a semente de lótus, que contém simultaneamente “flor e fruto”. Da mesma forma, tanto o inferno como o estado de buda existem dentro de cada um de nós.

Para manifestar esse potencial, é importante que façamos um grandioso juramento com grande determina­ção de evidenciar o Buda que existe dentro de cada um de nós.

Desejamos que o “Ano do Alçar Voo da Soka Gakkai de Força Jovem Mundial” represente um novo recomeço, marcado pela determinação renovada mais uma vez, para a vitória de cada um de nós. Vamos reafirmar nosso juramento ao Mestre e receber 2025 como um ano repleto de crescimento e fortalecimento na nossa jornada da revolução humana!

No topo: Getty Images

Notas:

1. De acordo com o calendário lunar japonês, a primavera começa no primeiro mês; ou seja, por esse sistema oficial, inicia-se no dia de Ano-Novo. No calendário gregoriano, essa data corresponde a algum dia entre 21 de janeiro e 19 de fevereiro.

2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 405, 2018.

3. “Dez mundos” (jap. jikkai): Dez mundos distintos ou categorias de seres descritos nos sutras budistas. Do mais baixo ao mais elevado, eles são: (1) mundo do inferno; (2) mundo dos espíritos famintos; (3) mundo dos animais; (4) mundo dos asura; (5) mundo dos seres humanos; (6) mundo dos seres celestiais; (7) mundo dos ouvintes da voz; (8) mundo dos que despertaram para a causa; (9) mundo dos bodisatvas; e (10) mundo dos budas. Originalmente, os “dez mundos” eram vistos como locais fisicamente distintos, cada um deles habitado pelos respectivos seres. Entretanto, o Sutra do Lótus ensina que cada um dos dez mundos contém inerentemente todos os dez. Com base nessa perspectiva, o conceito de dez mundos pode ser interpretado como estados de vida potenciais existentes em cada ser, ou seja, dez condições ou estados de vida que toda pessoa pode manifestar ou experimentar a qualquer momento. Assim, os dez mundos correspondem, respectivamente, aos estados de: (1) inferno; (2) fome; (3) animalidade; (4) ira; (5) tranquilidade ou humanidade; (6) alegria; (7) erudição; (8) autorrealização; (9) bodisatva; e (10) buda.

4. “Verdadeira causa”: Também chamada de princípio místico da “verdadeira causa”. O Budismo de Nichiren Daishonin expõe diretamente a verdadeira causa para a iluminação, como o Nam-myoho-renge-kyo, a lei da vida e do universo. Ele ensina uma forma de prática budista de sempre avançar a partir deste momento e superar todos os problemas e dificuldades com base nesta lei fundamental.

5. “Possessão mútua dos dez mundos” (jap. jikkai-gogu): Princípio formulado por Tiantai com base no Sutra do Lótus. Segundo esse princípio, cada um dos dez mundos possui o potencial inerente a todos os dez. É um dos componentes principais da doutrina “três mil mundos num único momento da vida” também formulado por Tiantai. Da ótica dos estados de vida potenciais, “possessão mútua” significa que a vida não se fixa a um ou a outro dos dez mundos, mas pode manifestar qualquer um dos dez — do estado de inferno ao estado de buda — a qualquer momento. Quando um dos dez mundos se manifesta, os demais nove permanecem latentes, em estado de não substancialidade. O ponto fundamental desse princípio é que todos os seres, em quaisquer dos nove mundos, possuem a natureza de buda. Assim, cada pessoa tem o potencial para manifestar o estado de buda, da mesma forma que um buda também possui os nove mundos, não sendo, portanto, separado ou diferente das pessoas comuns.

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