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Relato
há 5 meses
O que é sentir a verdadeira alegria
Fernando recebe tardiamente o diagnóstico de autismo, não sem antes comprovar que nada lhe roubaria seus sonhos
Redação
03/07/2025

Fernando posa feliz e realizado como professor de História. Foto: Arquivo pessoal
Sou Fernando Rossini de Moura, tenho 38 anos. Eu fui aquela criança que recusava o peito da mãe, pois não existia o contato visual normal na amamentação. Os transtornos no desenvolvimento ficaram mais gritantes com a idade: atraso para rolar, sentar, engatinhar, andar e falar.
Em Brasília, DF, onde moro até hoje, minha amada mãe, Andréa, começou a praticar o budismo antes mesmo de eu vir ao mundo. Ela estava convicta de que transformaria aquelas condições, porque, apesar de termos acesso aos melhores médicos, eles não conseguiram identificar o que eu tinha. Minha mãe sempre me estimulou, fortalecendo minha autoestima. Com a boa sorte adquirida por meio da prática da fé, encontrei pessoas e programas maravilhosos que me ajudaram muito. Contudo, havia um longo caminho a percorrer.
A Soka Gakkai sempre esteve presente na minha vida. Desde bebê, minha mãe me levava pela cidade de Brasília inteira para participar das reuniões. Meus amigos de infância estão todos na organização. Após um tempo, fomos morar em Anápolis, GO. Foi lá que passei por um dos momentos mais difíceis da minha vida.
Com a mãe, Andréa, forte estímulo para que jamais desistisse
Vencer o preconceito
A escola onde estudava sugeriu que fosse feita a minha transferência para uma instituição de ensino especial. Minha família foi contra e, com muita luta, passei por uma junta médica. A conclusão foi de que eu “tinha alguma coisa” que não sabiam diagnosticar, mas poderia continuar no ensino regular. A diretora da escola não aceitou. “Ele nunca vai conseguir concluir o ensino médio”, sentenciaram. Senti que fui discriminado e meu psicológico ficou abalado. Recitar Nam-myoho-renge-kyo acendeu a chama da esperança. Não seria derrotado.
Por uma série de motivos, minha mãe resolveu voltar para Brasília, e fomos recebidos de braços abertos pelos membros locais. Logo, meu irmão Marlon e eu começamos a frequentar os núcleos culturais. Meus olhos se voltaram para o Sokahan, grupo de bastidor dos jovens Soka. Estava com 11 anos, idade inferior à dos demais. Com determinação e oração, fui aceito na academia do grupo e depois me tornei membro oficial. Foram dezoito anos de atuação. Não tenho palavras para agradecer por tudo. Quando se abraça um jovem, independentemente de suas capacidades, florescem as virtudes inatas. A Soka Gakkai é esse lugar de acolhimento.
Profissão dos sonhos
Minha vida no colégio não foi fácil: fui vítima de bullying. Porém, contrariando todas as expectativas, terminei o ensino médio. Aprendi na organização de base e nas reuniões dos Estudantes que persistir até conseguir é o objetivo dos budistas. Fiz a faculdade dos meus sonhos. Cursei história, formando-me aos 24 anos. Aquele desejo de criança se cristalizou e me tornei professor dessa disciplina.
Inicialmente, não tive muitas oportunidades, mas apareceu a chance de ingressar como professor temporário na Secretaria de Educação do Distrito Federal. São doze anos de atuação como educador. Posso dizer que alcancei a realização profissional e sou reconhecido pela qualidade do meu trabalho.
Diagnóstico tardio
No ano 2020, depois de muita luta e sofrimento, finalmente obtive o diagnóstico que tanto me afetou e causou as dificuldades que passei na vida: Transtorno do Espectro Autista (TEA). Durante a pandemia, mantive a estabilidade profissional e contribuí para a continuidade das atividades da organização local. Passado esse período, no entanto, tive de fazer uma prova para continuar como professor.
Venci mais uma vez, fazendo valer a justiça! E nunca mais tive problemas com pessoas questionando o meu diagnóstico. Com alegria, faço dos meus dias com os alunos momentos especiais, valorizando cada vida. Transformei o “veneno em remédio”, como aprendemos no Budismo Nichiren. Nós podemos tudo, e a deficiência não é impeditivo para sermos verdadeiramente felizes. Assim venho comprovando!
Juramento selado
Este mês de julho é muito significativo. Eu me despeço da Juventude Soka com muita gratidão, em especial do grupo Brasil Ikeda Myo-on Kai, onde atuei como secretário por sete anos, com muitos desafios, dificuldades e crescimento. Sinceros agradecimentos à Comunidade Águas Claras, CRE Oeste, palco da minha missão nos últimos três anos; e ao Departamento de Estudo do Budismo (DEB), no qual alcancei o grau de professor-adjunto. Quanto aprendizado em minha vida!
Agora, inicia-se a minha jornada na Divisão Sênior, com orgulho e juramento de criar, junto com os jovens, memórias afetivas para todos.
Agradeço aos que me acompanharam nesses anos e aos Mestres Soka — Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda — por criarem, expandirem e estabilizarem essa organização maravilhosa.
Encerro meu relato com um incentivo de Daisaku Ikeda, o mestre que escolhi:
Na vida, há momentos de sofrimento e de alegria. Às vezes, vencemos; outras, perdemos. O sofrimento e a alegria fazem parte da vida — essa é a realidade. Por essa razão, nos momentos tristes ou nos felizes, devemos continuar a recitar Nam-myoho-renge-kyo, como Daishonin ensina. Se assim o fizermos, atingiremos a condição de suprema felicidade por meio da sabedoria e do poder da Lei Mística. Desfrutaremos uma existência em que nada nos derrotará.1
Muito obrigado a todos!
Fernando Rossini de Moura, 38 anos. Educador. Na BSGI, é responsável pela Juventude Soka da Comunidade Águas Claras, CRE Oeste, CGRE.
Nota:
1. IKEDA, Daisaku. Sabedoria para Criar a Felicidade e a Paz. Parte 1: A Felicidade. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2024. p. 181.
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