Lidar com pontos de vista diferentes

Dentre as orientações do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, encontramos diversas citações sobre a importância do diálogo para a construção da paz. Porém, às vezes, conversar com outras pessoas, principalmente com aquelas que possuem pontos de vista diferentes do nosso, é uma tarefa desafiadora — isso quando não aparenta ser um feito impossível.

Julia Dhar, palestrante e especialista em economia comportamental, já lidou com muitas situações semelhantes, inclusive de forma profissional. Ela compartilha algumas dicas: buscar o progresso, em vez da vitória (ou a construção conjunta no lugar de fazer prevalecer um ponto sobre o outro); escolher agir com curiosidade, em vez de confronto; mudar o foco de questões pequenas para uma perspectiva mais ampla. De todos citados, um dos mais essenciais é o propósito.¹ Em uma palestra, ela explica:

A grande questão de conversar com curiosidade é entender a perspectiva da outra pessoa, ver o que há “do outro lado da cerca”. Assim, da próxima vez que alguém falar algo que você instintivamente discorde, ao que reagiria violentamente, só precisará de uma frase e de uma pergunta: “Nunca pensei sobre isso dessa forma antes. O que você pode compartilhar que me ajudaria a enxergar o que está vendo?”. O que é extraordinário sobre [o ato de] conversar com curiosidade é que as pessoas para quem você demonstra curiosidade se tornam curiosas sobre você. (...)

Se estamos mais focados no que nos faz diferentes, então todo debate é um combate. (...)
[Mas se encaramos cada encontro como oportunidade de] escolher curiosidade acima do confronto, buscar desenvolvimento de ideias por meio da discussão e se ancorar no propósito em comum (...), nosso mundo se desenvolverá também.²

Essas dicas práticas são fundamentais, principalmente quando aplicadas de maneira racional no dia a dia. De modo complementar, o budismo esclarece que há um nível ainda mais profundo a ser transformado para então lidarmos de forma mais elevada com tais situações. Segundo o presidente Ikeda:

É natural que existam diferenças de personalidade e de temperamento. Mas o fato de as pessoas serem diferentes de nós não significa que podemos discriminá-las, excluí-las ou menosprezá-las. (...) O que importa é respeitarmos e aceitarmos as diferenças recíprocas com uma atitude ampla e abarcadora que não permita discriminação nem distinção. (...)
A escuridão fundamental (a força negativa inata da vida) é a raiz da discriminação e da desarmonia. Quando essa força o domina, sua mente fica iludida e investe nas diferenças. Quando o estado de buda vence a negatividade, a mente tem discernimento, ampla sabedoria e encara cada pessoa como única, especial e digna do mais alto respeito.³

Com seu exemplo, o Mestre nos ensina a importância de elevar a condição de vida, o que nos permite transformar diversos aspectos da realidade, incluindo hábitos e questões relacionados ao âmbito interpessoal. A matéria de Capa deste mês, alinhada a esse propósito, mostra de que maneira podemos sair do automático e alcançar vitórias consideradas impossíveis, e a editoria Na Prática esclarece como aplicar o conceito de “transformação do carma” no dia a dia. A Série apresenta o trecho do diálogo entre o Dr. Felix Unger e o Dr. Daisaku Ikeda sobre a importância do propósito na educação e na tecnologia, e no Especial lemos o significado da concessão do título de doutor honorário pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ao Dr. Ikeda. Já na seção Reflexões sobre a Nova Revolução Humana, Ikeda sensei relata de que forma seu mestre, Josei Toda, dialogava e incentivava cada pessoa.

Compartilhando do sentimento compassivo dos mestres, esperamos que esta edição contribua para você fortalecer sua prática da fé, sair do automático, transformar o carma e lidar com pontos de vista diferentes, estabelecendo diálogos positivos, produtivos e sábios daqui em diante.

Excelente leitura!

Redação

Notas:

1. TED. Julia Dhar: How to Have Constructive Conversations [Julia Dhar: Como Estabelecer Conversas Construtivas]. Disponível em: https://www.ted.com/talks/julia_dhar_how_to_have_constructive_conversations. Acesso em: 11 jan. 2022.

2. Ibidem.

3. Brasil Seikyo, ed. 2.174, 6 abr. 2013, p. A4.