Entrevista
TC
O poder de ser a sua melhor versão
Redação
04/12/2024
Lou Marinoff é professor e presidente do setor de filosofia da Universidade da Cidade de Nova York, nos Estados Unidos. É também presidente e fundador da Associação Americana de Profissionais de Filosofia, além de editor do jornal da organização, Prática Filosófica. Marinoff escreveu best-sellers internacionais (incluindo Mais Platão, Menos Prozac, traduzido para 27 idiomas) que aplicam a filosofia à resolução de problemas cotidianos.
Em outubro, Marinoff esteve no Brasil para participar da 9a edição do Horasis Global Meeting. Nesse evento, a Editora Brasil Seikyo (EBS) expôs o livro O Filósofo Interior — Conversas sobre o Poder Transformador da Filosofia, fruto de um diálogo entre Lou Marinoff e Daisaku Ikeda, lançado neste ano. Terceira Civilização publica a primeira parte da entrevista que Marinoff concedeu em diálogo com representantes da Juventude Soka da Sub. Espírito Santo, CRE Leste.
Terceira Civilização: Na sua juventude, Daisaku Ikeda, antes de conhecer o budismo, buscava na filosofia respostas para suas angústias, para os dramas da vida e, principalmente, para as questões que a população japonesa enfrentava com o fim da guerra. Quando foi convidado a participar de sua primeira reunião para conhecer o budismo, seus amigos lhe disseram que era uma atividade sobre filosofia de vida. Portanto, o jovem Ikeda perguntou a eles: “Filosofia? (...) É de Bergson?” [referindo-se ao filósofo francês]. Então, já sabíamos que filosofia estava na base da formação de Daisaku Ikeda.
Ao termos contato com o livro O Filósofo Interior, ficamos curiosos para saber como se deu a oportunidade de um encontro entre ambos.
Lou Marinoff: Olá, pessoal! É ótimo estar com vocês hoje! Estou muito feliz em vê-los! E obrigado também à BSGI por organizar este encontro. Nós nos conhecemos por causa de uma confluência de eventos. Eu estava na Holanda [atualmente conhecida como Países Baixos] em 2002 dando uma palestra para a Sociedade Holandesa de Prática Filosófica. Somos um grupo muito menor que a SGI de filósofos e cidadãos comuns, que também são filósofos no pensamento e nas artes, e usamos a filosofia na vida cotidiana. Fui um dos pioneiros desse movimento, de alcance global. Na plateia, estava um rapaz holandês chamado Sebastian, estudante da Universidade Soka no Japão. Enquanto almoçávamos todos juntos, ele veio até mim e disse: “Você já conheceu Daisaku Ikeda?”. Respondi: “Não, ainda não!”. Então, ele falou: “Bem, vocês dois precisam se encontrar!”. Ele voltou para o Japão e contou ao seu orientador, o professor Terasaki, sobre a nossa missão como praticantes filosóficos.
Naquela época, eu também tinha um livro muito popular no Japão sobre filosofia para a vida cotidiana. Acredito que o Dr. Ikeda descobriu sobre isso — conforme relataram a ele — e combinamos de nos encontrar. Alguns meses depois, eu estava em Tóquio sendo apresentado ao sistema de educação Soka e à Associação de Concertos Min-On — e a todos os empreendimentos que o Dr. Ikeda construiu — e isso levou ao nosso diálogo. Creio que a moral da história é que se você está em um bom caminho, coisas boas podem acontecer muito rapidamente. Isso é para todos nós.
Lou Marinoff, professor e presidente do setor de filosofia da Universidade da Cidade de Nova York, durante a entrevista
TC: Lawrence Edward Carter, pastor da igreja batista e diretor da Capela Internacional, da Faculdade Morehouse, escreveu um livro em que buscou esclarecer, nas palavras dele, “Como a minha jornada inter-religiosa com Daisaku Ikeda fez de mim um cristão melhor”. Em uma entrevista, o senhor compartilhou que trabalhar no livro O Filósofo Interior contribuiu para a sua transformação de forma significativa. Gostaríamos de saber qual foi a influência provocada por Daisaku Ikeda em seu pensamento filosófico e, de maneira prática, em relação à vida em si?
LM: Esta é uma pergunta muito importante. Obrigado por perguntar. Na verdade, há duas partes. A primeira parte tem a ver com [o fato de] Lawrence Carter ter mencionado como seu encontro com o presidente Ikeda aprofundou sua fé cristã. Esse é um dos poderes do budismo e da filosofia budista. Ela não disputa com você, não diz “Oh, nosso Deus é mais forte que o seu Deus!”. Não cria divisões entre as pessoas por causa de sua fé religiosa. Eu vi isso acontecer com [pessoas de] outras religiões também. Conheço muitos judeus que encontram no budismo o fortalecimento de suas [próprias] crenças. E muitos cristãos — e estou falando em todo o mundo agora — também viram o budismo como uma forma de se empoderarem e realmente fortalecerem sua fé.