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há 2 meses
“Mobilizando a solidariedade global para enfrentar os desafios da crise climática”
Antecedendo à COP 30 no Brasil, SGI emite declaração
Redação
07/11/2025

A 30ª Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima será realizada em Belém, no Brasil, a partir do dia 10 de novembro de 2025. Antecedendo à conferência, a Soka Gakkai Internacional (SGI) divulgou uma declaração intitulada “Mobilizando a solidariedade global para enfrentar os desafios da crise climática”.
Essa declaração da SGI que dá continuidade à “Declaração sobre a Prevenção de Armas Nucleares”, divulgada em janeiro deste ano [2025], é focada em questões globais. Foi elaborada principalmente pelo Comitê de Perspectivas Globais da SGI, composto por líderes de países que promovem movimentos pela paz em diversas regiões do mundo (Ásia-Pacífico, Europa, África, América do Norte e América Latina).
A declaração menciona, inicialmente, que o aumento da temperatura média global vem causando desastres mais frequentes devido a eventos climáticos extremos e ao derretimento acelerado das geleiras, ameaçando os alicerces da sobrevivência de muitas pessoas. Por outro lado, a cooperação internacional para reduzir de maneira significativa a emissão de gases de efeito estufa não está progredindo como esperado.
Diante do perigo de não se atingir a meta de limitar o aumento da temperatura média a 1,5 grau Celsius, estabelecida no Acordo de Paris,1 a declaração enfatiza a importância de a sociedade civil criar um “pilar de ação que jamais desista de solucionar o problema”. Para impulsionar esse movimento, a declaração apresenta a proposta de as diversas religiões trabalharem juntas de forma a se tornar a fonte para cada pessoa manifestar a “consciência humana”, apoiando ações para a construção de uma sociedade global sustentável.
Além disso, apresentando os movimentos em que jovens de todo o mundo estão criando uma nova tendência para a mudança dos tempos em busca da superação da crise climática, ela propõe o estabelecimento do “Conselho da Juventude” como instituição permanente no contexto do Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês). A declaração clama para o desafio de proteger o futuro de todas as pessoas que vivem neste mesmo planeta Terra, fortalecendo a participação da geração mais jovem.
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A declaração da SGI:
“Mobilizando a solidariedade global para enfrentar os desafios da crise climática”
Neste momento crítico, duas ameaças existenciais põem em risco a sobrevivência tanto das gerações presentes quanto das futuras: o “risco crescente do uso de armas nucleares”, em seu nível mais alto desde o fim da Guerra Fria, e a intensificação da crise climática que se torna tão urgente a ponto de ser descrita como “ebulição global”.
Em janeiro deste ano [2025], a Soka Gakkai Internacional (SGI) divulgou uma declaração apelando pela prevenção do uso de armas nucleares. Em consonância com esse compromisso com a sobrevivência, a organização divulga agora uma declaração direcionada à superação da crise climática, às vésperas da 30ªConferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 30), que será realizada em Belém, no Brasil, a partir de 10 de novembro [de 2025].
A ocorrência de frequentes eventos climáticos anormais causa o aumento do nível do mar
Neste ano [2025], temperaturas anormais vêm sendo registradas no mundo inteiro, ultrapassando as do ano anterior [2024], oficialmente considerado o “ano mais quente” historicamente. Além disso, têm ocorrido chuvas torrenciais e inundações em escala sem precedentes, causando enormes danos.
Com níveis recordes da concentração atmosférica de dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa, todas as principais geleiras do mundo estão derretendo, e o nível médio global do mar subiu para um recorde pelo 13º ano consecutivo. Além do mais, o crescente aumento de incêndios florestais de grandes proporções vem impulsionando o rápido e intenso desmatamento em todo o mundo. As áreas florestais perdidas vêm alcançando níveis recordes na história.
Observa-se que “o futuro já não é o que costumava ser”.
No passado, mesmo diante de diversas mudanças na sociedade, o futuro era considerado de alguma forma previsível. Porém, hoje, em relação à temperatura e aos desastres naturais, as crises se manifestam de forma tão drástica e inegável em todos os lugares a ponto de as pessoas de muitos países sentirem que entramos em uma dimensão radicalmente diferente de tudo o que conhecíamos anteriormente. Com o aumento acelerado da incerteza em relação ao futuro, cresce a preocupação de que estejamos nos aproximando de um ponto crítico em relação à crise climática em dois aspectos principais.
O primeiro aspecto é em relação aos valores médios das temperaturas propriamente ditas. A meta de limitar o aumento da temperatura média a 1,5 grau Celsius, estabelecida no Acordo de Paris, um acordo internacional sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa, está agora seriamente ameaçada.
Na situação atual, os efeitos da crise climática já estão causando sérios danos, especialmente aos países insulares da região do Pacífico. O número de pessoas que recebem profundos impactos nos locais em que residem ou em seus meios de sobrevivência não para de crescer. Caso a temperatura continue subindo de forma a desviar significativamente do objetivo de mantê-la abaixo de 1,5 grau, é inevitável que surjam graves prejuízos à dignidade da vida e aos meios de subsistência das pessoas de todo o mundo.
O segundo aspecto é o crescente risco do enfraquecimento da solidariedade internacional, indispensável para a solução dos problemas. Nos últimos anos, um acordo entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento vem se tornando cada vez mais difícil. Adicionalmente, com a perspectiva de crescentes incertezas na economia global devido a fatores como o aumento das tarifas alfandegárias, a cooperação internacional para a redução significativa da emissão de gases de efeito estufa enfrenta agora sérios obstáculos.
Diante dessa crescente situação internacional incerta e instável, um sentimento de resignação pode se instalar entre as pessoas, criando uma atmosfera de que “talvez a solução da crise climática esteja além da nossa capacidade”. Se esse desespero se espalhar, não apenas minará o ímpeto para ampliar as ações climáticas, mas também ameaçará o compromisso com os esforços já em andamento.
O poder infindável de cada pessoa
Todavia, ainda há muitas áreas em que nós, como membros da sociedade civil, possamos gerar uma grande onda de mudanças ao nos manifestarmos e agirmos.
A energia renovável, que antes era considerada difícil de implementar em vários países, deverá agora ultrapassar o carvão como a maior fonte de eletricidade do mundo, no máximo, até o próximo ano, de acordo com uma previsão da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
O Brasil, sede da COP 30, é também o país onde ocorreu a Cúpula da Terra2 em 1992 (Rio-92 ou Eco-92) em que a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) e a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD, na sigla em inglês) começaram a ser assinadas. Conforme simbolizado por esses tratados históricos, como também pela cooperação internacional nos últimos anos para superar a pandemia da Covid-19 (uma epidemia global), nós, seres humanos, possuímos inerentemente o poder de “traçar rumos para avançar juntos”, ultrapassando as fronteiras nacionais, e somos capazes de demonstrar o “espírito de juntos proteger a vida e a dignidade uns dos outros”, sem desistir, mesmo diante de uma crise sem precedentes.
A exposição Sementes da Esperança e Ação — Tornando os ODS uma Realidade, fruto da parceria entre a Soka Gakkai Internacional (SGI) e a iniciativa Carta da Terra Internacional. Acima, Luciano Gonçalves, diretor-presidente do Instituto Soka Amazônia mostra painel interativo com imagens do Instituto Soka aos presentes. (São Paulo, jun. 2025). Foto: BS
Com base nessa convicção, nós, da SGI, coproduzimos com a Carta da Terra Internacional a exposição ambiental Sementes da Esperança e Ação: Tornando Realidade as ODS, exibida em dez idiomas, em 24 países e territórios, com o objetivo de conscientizar a população civil sobre questões ambientais, inclusive a crise climática. A Soka Gakkai do Japão também tem trabalhado em todo o mundo para construir uma sociedade global sustentável, por exemplo, a colaboração com a Organização Internacional de Madeiras Tropicais (ITTO, na sigla em inglês) para apoiar o reflorestamento na África Ocidental desde 2021.
Exposição Sementes da Esperança e Ação — Tornando os ODS uma Realidade. Foto: BS
Dar voz às pessoas em situação de vulnerabilidade nos fóruns de discussão
Com base na experiência adquirida por meio das nossas atividades realizadas até hoje, desejamos, nesta declaração, apresentar duas propostas visando fortalecer a solidariedade internacional para superar a crise climática.
A primeira proposta diz respeito à mobilização da sociedade civil. Para enfrentar a crise climática, inclusive por meio de esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, medidas isoladas em nível nacional não são suficientes. O que se faz urgentemente necessário é unir a vontade das pessoas em todos os lugares na busca por um futuro de esperança e segurança. As iniciativas da sociedade civil oferecem uma base para ações enraizadas na determinação inabalável de resolver essa crise.
Um dos principais fatores que podem impulsionar esse desafio são as comunidades religiosas com diferentes origens de fé. Sobre esse ponto, em um evento organizado pelo Comitê de Ligação Inter-religiosa (ILC, na sigla em inglês) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima na COP 29, no Azerbaijão, em novembro passado [2024], um representante da SGI enfatizou a seguinte questão: “Considerando-se que mais de 80% da população mundial possui algum tipo de crença ou fé religiosa, as comunidades de fé estão numa posição única para inspirar a transformação comportamental, essencial para enfrentar a crise climática”.
Ao trabalhar com outras organizações não governamentais (ONGs) para abordar a questão das mudanças climáticas, a SGI tem se concentrado em três pontos principais: 1) disseminar informações precisas sobre as mudanças climáticas; 2) dar voz às pessoas em situação de vulnerabilidade — incluindo aquelas que sofrem diretamente os impactos das mudanças climáticas — e garantir sua inclusão nos fóruns de discussão e de tomada de decisões; e 3) como pessoas de fé, defender a perspectiva baseada na humanidade e nas realidades da vida cotidiana das pessoas comuns no centro das discussões relacionadas ao clima.
Destes, os pontos 2 e 3 baseiam-se na abordagem do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, que, durante a sua vida, se dedicou consistentemente ao diálogo e desenvolveu propostas concretas para abordar as questões comuns que a humanidade enfrenta, incluindo as mudanças climáticas.
Em sua Proposta de Paz de 2020, o presidente Ikeda enfatizou a importância de jamais abandonar aqueles que lutam em circunstâncias difíceis. Nesse sentido, ele fez referência específica à situação das pessoas em nações insulares que enfrentam crises como a submersão de terras causada pela elevação do nível do mar. O Dr. Ikeda também compartilhou os esforços do Instituto Toda pela Paz, que fundou em 1996, observando que a instituição vem realizando pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas nos países insulares do Pacífico desde 2018. Ele alertou:
Mesmo que essas pessoas se mudem para outra ilha e consigam alcançar segurança material, continuarão privadas daquilo que o relatório descreve como a “segurança ontológica” que experimentavam vivendo em sua própria ilha. O projeto conclui que a atenção a esse tipo de sofrimento irreparável deve fazer parte de qualquer esforço para combater as mudanças climáticas.
O presidente Ikeda insistiu ainda:
Ao discutir os impactos das mudanças climáticas, as pessoas tendem a focar na magnitude das perdas econômicas ou em outros indicadores quantificáveis. Mas acho importante que atentemos para o sofrimento real de muitos indivíduos que esses índices macroeconômicos podem esconder, e que façamos disso o ponto central de nossos esforços para nos unirmos na busca de soluções.
Segundo as projeções do Banco Mundial, se o aumento das temperaturas globais continuar no ritmo atual, o número de refugiados climáticos forçados a abandonar sua casa poderá ultrapassar 200 milhões em todo o mundo até 2050. Nesse contexto, o apelo do presidente Ikeda ressoa ainda com maior urgência e importância hoje.
O papel das religiões para estimular a consciência do ser humano
A Organização da Nações Unidas (ONU) e o Brasil, como anfitrião da próxima COP 30, defenderam que as futuras ações climáticas sejam moldadas não apenas por políticas e análises científicas, mas também por compromisso ético e inclusão. Nesse sentido, o Balanço Ético Global (GES, na sigla em inglês) foi desenvolvido como uma estrutura de diálogo que vai além de metas numéricas, como a redução de gases de efeito estufa, e que, em vez disso, insta a uma reavaliação fundamental do que nós, como seres humanos, estamos fazendo com o meio ambiente de uma perspectiva ética. O GES busca despertar um senso de vontade coletiva, transcendendo fronteiras nacionais, e inspirar a humanidade a escolher novas formas de viver e construir um mundo com fortes fundamentos éticos. No cerne desses esforços está a compreensão de que, sem uma transformação genuína nos comportamentos e nas prioridades da humanidade, mesmo as soluções tecnológicas mais avançadas não poderão demonstrar plena eficácia.
Como primeiro passo nessa direção, a SGI expressou seu apoio, como organização com base em fé religiosa (FBO, na sigla em inglês), à implementação do Balanço Ético Global. A SGI contribuiu ativamente para o processo do GES, particularmente por meio da iniciativa da geração jovem, e recentemente apresentou um relatório com os resultados à presidência da COP 30.
Esperamos contribuir para o fortalecimento da solidariedade mútua entre as diversas tradições religiosas, de modo a permitir que iniciativas tão vitais ganhem força e sirvam de base para ações concretas, incluindo a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Agora, mais que nunca, todas as tradições religiosas devem servir como fontes da consciência como ser humano, guiando os indivíduos a agir em resposta aos desafios globais que enfrentamos. Além disso, elas são chamadas a desempenhar um papel mais proativo que nunca, inspirando a resiliência do espírito humano — um espírito que se recusa a ceder, por maior que seja a adversidade, e que se ergue para enfrentar até as provações mais difíceis.
Desse ponto de vista, a SGI propõe que sejam criadas mais oportunidades nas conferências da COP para que organizações religiosas e as FBO se reúnam, compartilhem boas práticas, aprendam umas com as outras e trabalhem juntas para desenvolver caminhos para enfrentar a crise climática e construir uma sociedade global sustentável.
Recomendações inovadoras da Corte Internacional de Justiça
A segunda proposta diz respeito ao fortalecimento da estrutura institucional. A SGI gostaria de apresentar, nessa ocasião, a criação de um conselho permanente da juventude no âmbito do Secretariado da UNFCCC.
Nos últimos anos, os jovens têm levantado a voz, clamando urgentemente por ações climáticas mais enérgicas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e compartilhando ideias e iniciativas em seu respectivo país e comunidade local. Subjacente a essas ações está uma determinação profunda e inabalável de salvaguardar os alicerces não apenas para a própria sobrevivência, mas também para as gerações futuras. No cerne dessas ações reside um forte desejo de construir um futuro promissor com as próprias mãos.
Como as decisões tomadas pela comunidade internacional agora terão maior impacto sobre os jovens de hoje e sobre as gerações futuras, as demandas por sua inclusão nos processos decisórios têm se intensificado. Isso é essencial para alcançarmos a justiça climática.
Nesse contexto, em 2022, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou uma resolução histórica reconhecendo o “direito humano a um ambiente limpo, saudável e sustentável”. Essa foi a primeira vez que a Assembleia Geral da ONU reconheceu formalmente esse direito. Notavelmente, a resolução também se referiu às gerações futuras como as beneficiárias desse direito.
Ao longo dos anos, a SGI tem enfatizado a importância de integrar uma perspectiva de direitos humanos à ação climática. Os fóruns onde fizemos isso incluem o Conselho de Direitos Humanos da ONU e as conferências anuais da COP, bem como um evento paralelo durante a sexta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-6, na sigla em inglês), realizada no Quênia, em 2024. A SGI também faz parte da iniciativa Global Call(Chamada Global) para o reconhecimento universal do acesso a um ambiente limpo, saudável e sustentável como um direito humano.
Em julho deste ano, a Corte Internacional de Justiça (ICJ, na sigla em inglês) emitiu um parecer consultivo inovador declarando que os Estados têm a obrigação de proteger o meio ambiente das emissões de gases de efeito estufa. A Corte afirmou que o cumprimento dessa obrigação exige que os Estados exerçam a devida diligência e cooperem uns com os outros na adoção de medidas eficazes.
Foram os jovens que desempenharam papel catalisador nesse processo histórico. Inspirado pela defesa dos direitos dos jovens liderada pela organização Pacific Island Students Fighting Climate Change (PISFCC) (Estudantes das Ilhas do Pacífico Lutando contra as Mudanças Climáticas), a nação insular de Vanuatu tomou a iniciativa que levou à adoção de uma resolução da Assembleia Geral da ONU em março de 2023, solicitando um parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça (ICJ), dando início ao processo judicial.
A paixão e a vitalidade da juventude precisam ser incorporadas à estrutura internacional para enfrentar a crise climática, permitindo que ela impulsione poderosas ondas de transformação.
Refletir ativamente as opiniões dos jovens
“O futuro já não é o que costumava ser.” Essa foi a observação cautelosa legada à humanidade do século 21 pelo Dr. Aurelio Peccei, cofundador e primeiro presidente do Clube de Roma. O Dr. Peccei, contudo, não se referia a essas palavras apenas como um alerta sobre as crises que a humanidade enfrentaria no futuro. Ele acreditava, antes, que se o futuro de fato divergiu tão drasticamente da forma como era entendido, então os métodos e sistemas convencionais já não seriam suficientes para lidar com os desafios que se aproximavam. Implícita em suas palavras estava a convicção de que a liderança na busca por soluções eficazes deveria ser confiada às gerações mais jovens.
Evento preparatório para a Conferência de Cúpula Y20 (conferência internacional de jovens de vinte principais países e territórios), realizada em junho do ano passado [2024], em Belém, no Brasil, cidade-sede da COP 30. Representantes da Divisão dos Jovens da BSGI e do Instituto Soka Amazônia também participaram e discutiram temas globais, como o de mudanças climáticas. Foto: Instituto Soka Amazônia
Em sua Proposta de Paz de 2020, divulgada quatro meses após a histórica Cúpula da Juventude sobre o Clima das Nações Unidas, o presidente Ikeda refletiu sobre a crença compartilhada por ele e pelo Dr. Peccei no potencial ilimitado dos jovens, conforme alertado em sua coletânea de diálogos intitulada Antes que Seja Tarde Demais (1984):
Ao contrário de questões como a poluição e o esgotamento de recursos, que eram pontos de preocupação no período que antecedeu a publicação de Os Limites do Crescimento3e cujas causas podem, em grande parte, ser desagregadas, os fatores que causam as mudanças climáticas estão integrados em todas as áreas da nossa vida diária e da nossa atividade econômica, tornando muito mais difícil encontrar soluções. Precisamente por ser tão complexo e exigir uma abordagem multifacetada, podemos encarar o desafio das mudanças climáticas como uma notável diversidade de oportunidades para os seres humanos expressarem seu potencial ilimitado.
Mesmo antes dessa proposta, o presidente Ikeda já enfatizava consistentemente a importância crucial de incorporar ativamente as vozes da juventude na busca por soluções para os desafios globais. Em uma proposta de reforma da ONU de 2006, por exemplo, ele defendeu a criação de uma agência especializada dedicada ao engajamento dos jovens do mundo, ou um departamento da juventude dentro do Secretariado da ONU. Alinhado a essa proposta, o Escritório da Juventude das Nações Unidas foi criado no âmbito do Secretariado da ONU em dezembro de 2023. Esse escritório visa dinamizar e expandir o engajamento e a influência dos jovens no sistema da ONU.
Essa expansão do envolvimento dos jovens precisa ser prioridade máxima para as estruturas internacionais que abordam a crise climática, uma questão urgente para a humanidade do século 21.
O desafio de criar um futuro promissor para a humanidade
Nesse sentido, Mary Robinson, forte defensora da justiça climática e do diálogo intergeracional e ex-presidente do The Elders (Os Anciãos) — um grupo de ex-chefes de Estado e de governo, defensores dos direitos humanos e outros estadistas —, e Felipe Paullier, chefe do Escritório da Juventude das Nações Unidas, fizeram o seguinte apelo em janeiro de 2025:
Nossos complexos desafios globais exigem a força moral não apenas para lidar com os problemas atuais, mas também com os riscos e oportunidades de longo prazo. Essa liderança não está inerentemente ligada a nenhuma geração específica, mas se fortalece quando a tomada de decisões inclui diversas perspectivas, inclusive a dos jovens. Envolver os jovens como parceiros iguais enriquece o processo decisório, incorporando ideias inovadoras e pensamento voltado para o futuro em soluções que beneficiam tanto as gerações presentes quanto as futuras.
Em consonância com esses esforços, o Instituto Budista Italiano Soka Gakkai tem participado ativamente da iniciativa internacional Youth4Climate(Y4C),4coliderada pelo governo italiano e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Essa iniciativa capacita jovens líderes climáticos e organizações lideradas por jovens a desenvolver e implementar soluções inovadoras e impactantes para as mudanças climáticas. Até o momento, a Y4C forneceu apoio financeiro a cem projetos liderados por jovens em 52 países.
Em março de 2024, jovens da SGI no Japão trabalharam com outros grupos da sociedade civil para organizar o Festival de Ações para o Futuro, no Estádio Nacional do Japão, em Tóquio, evento que clamava por ações imediatas contra a crise climática e pela abolição das armas nucleares. A voz de cerca de 120 mil pessoas, coletada por meio de uma pesquisa realizada antes do evento, serviu de base para uma declaração conjunta que tem sido utilizada desde essa ocasião em atividades contínuas de conscientização. Em setembro de 2024, representantes da SGI participaram da Cúpula do Futuro, realizada na sede das Nações Unidas, onde coorganizaram eventos paralelos que compartilharam com a Cúpula as perspectivas da juventude.
Estamos firmemente convencidos de que a promoção de iniciativas que integrem o envolvimento da juventude no contexto do crescente ativismo da sociedade civil, junto com a criação de um conselho permanente da juventude no âmbito do Secretariado da UNFCCC, será um poderoso prenúncio de mudanças genuínas. Agora é o momento de criar espaços e oportunidades para que os jovens possam desenvolver plenamente seu potencial e desempenhar seus papéis.
Ignorar as graves realidades que se desenrolam diante dos nossos olhos não impedirá a aceleração da crise. Com base nos dois pilares propostos na presente declaração — “mobilização global de base, em nível popular” e “construção de instituições mais fortes que integrem os jovens” —, trabalhemos juntos para enfrentar este desafio histórico: proteger não apenas as vidas, a dignidade e os meios de subsistência daqueles que vivem neste planeta hoje, mas também os das gerações futuras.
Participantes manejam sementes florestais e frutíferas em atividade realizada no Instituto Soka Amazônia (Manaus, nov. 2025). Foto Instituto Soka Amazônia
Notas:
1. Acordo de Paris: Acordo internacional para medidas de combate às mudanças climáticas, adotado em dezembro de 2015. Ele estabelece a meta de “limitar o aumento da temperatura média global a 1,5 grau Celsius” e insta os países a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
2. Cúpula da Terra: Nome comum da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, Brasil, em junho de 1992.
3. Os Limites do Crescimento: Relatório publicado pelo Clube de Roma em 1972. Suas previsões futuras sobre população, produção de alimentos, recursos e poluição ambiental desempenharam papel relevante na conscientização sobre a importância de abordar as questões ambientais globais.
4. Youth4Climate (Y4C): Essa iniciativa sobre questões de mudança climática é liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pelo governo italiano. O Instituto Budista Italiano Soka Gakkai tem fornecido apoio por meio de fundos alocados com base no imposto “8/1000” do acordo religioso Intesa daquele país.
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