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há 14 horas
"A juventude é a luz da esperança": ex-líder da ONU fala sobre futuro e legado de Ikeda
Seikyo Shimbun | Redação
21/11/2025

Daisaku Ikeda conversa com Yasushi Akashi, então subsecretário-geral das Nações Unidas (Memorial Makiguchi, Hachioji, Japão, jun. 1999). Quando Akashi comentou que seus amigos estrangeiros leram os diálogos com Arnold Toynbee, Ikeda sensei respondeu: “Quero que minhas ações se estendam às próximas gerações. Foi por isso que também quis registrar nossa conversa de hoje”. Fotos: Seikyo Press
O dia 15 de novembro marca o segundo aniversário de falecimento de Daisaku Ikeda. Enquanto rememoramos suas grandiosas ações, Seikyo Shimbun entrevistou o ex-subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Yasushi Akashi, que manteve laços longevos com Ikeda sensei. Na ocasião em que a ONU completa 80 anos, ele compartilhou sua estima pelo apoio inesgotável de sensei e sua esperança com as novas gerações da Soka Gakkai.
Quais são suas maiores lembranças ao lado de Ikeda sensei?
Tive muitos encontros com o Ikeda sensei. Lembro de ouvir suas preciosas perspectivas sobre o papel da ONU e sobre a construção da paz durante suas visitas à sede de Nova Iorque e à minha casa.
As diversas contribuições sociais da Soka Gakkai realizadas sob a liderança de Daisaku Ikeda tiveram grande impacto sobre mim. A ação pacificadora no Camboja, iniciada em 1992 e tida como o maior desafio da ONU, foi uma que ficou na minha memória. Nesse período, durante a administração do secretário-geral Boutros-Ghali, fui alocado para o Camboja com a atribuição de representante especial da secretaria da Autoridade Transitória das Nações Unidas no Camboja (UNTAC).1 Após o fim da guerra civil, que se estendeu por 20 anos, minha principal missão era garantir o cumprimento do processo eleitoral. No entanto, a presença de uma oposição turbulenta gerou uma cobertura pessimista por parte da imprensa internacional, que achava impossível haver eleições democráticas no Camboja.
Nesse momento, foram os membros da Soka Gakkai que prestaram apoio às nossas atividades. Naquela época, grande parte da população local era analfabeta. Por conta disso, fiz um pedido à juventude da Soka Gakkai: queria distribuir rádios usados para que a população pudesse ouvir e se inteirar sobre a campanha eleitoral. Fui prontamente atendido e cerca de 28 mil aparelhos foram enviados ao país. Essa campanha ficou conhecida como Voice Aid.
A postura proativa e prestativa da juventude da Soka Gakkai foi verdadeiramente corajosa e destacou-se da apatia internacional. Fomos capazes de propiciar um importante ponto de virada para o processo democrático: as eleições aconteceram sem impedimentos e contou com participação de 90% da população apta para votar.
O que o senhor pensa sobre o papel da religião na sociedade atual?
Não sou uma pessoa religiosa, mas tenho respeito pelas pessoas que são.
Venho observando diálogos sobre a fé e o compartilhamento de ideais entre líderes e seguidores de diversas religiões, bem como o esforço para direcionar o mundo a uma condição de segurança pacífica.
Para que as religiões contribuam para a paz mundial e a defesa dos direitos humanos, é necessária a uma cooperação entre elas que supere as fronteiras de seus países. Por exemplo, sou inspirado pela postura dos países africanos, nos quais existem inúmeras religiões, mas que, no âmbito das Nações Unidas, superam suas diferenças e cooperam em prol da humanidade. Atualmente, a ONU é composta por 193 países signatários, dos quais 30% são africanos e desempenham um papel central na instituição.
O sul-africano Tshilidzi Marwala é o atual reitor da Universidade das Nações Unidas, a única agência da ONU com sede no Japão. Tenho muita proximidade com ele, já fomos até a ópera juntos. O reitor acredita no poder da cultura, das artes e da música para unir pessoas e países. Ele assumiu o cargo há apenas dois anos e meio e já visitou mais da metade do território japonês!
Em maio do ano passado, o reitor Marwala nos agraciou com sua presença no Festival de Ações para o Futuro, que aconteceu no Estádio Nacional do Japão e foi co-organizado pela juventude da SGI e entidades civis. Em seu discurso, ele afirmou: “A juventude é a luz da esperança para a solução dos problemas do mundo e tem o poder de promover mudanças” e “Desejo que unamos forças na construção de um futuro possível e na concretização de um mundo pacífico”. Ele também participou do evento “O papel dos jovens na extinção das armas nucleares durante a era da inteligência artificial” organizado pela Liga Jovem de Hiroshima, no Memorial da Paz Ikeda, em Hiroshima, em agosto passado. Achei esse evento incrível!
Acredito que a iniciativa da Soka Gakkai, junto com o reitor Marwala, de transmitir a mensagem antinuclear e pacifista do Japão, único país vítima da bomba atômica, é o valoroso desafio desta era. Peço que se mantenham firmes nesse propósito.
Quanto ao horizonte da IA, muitas questões da ONU deverão ser repensadas no transcorrer do tempo. Por outro lado, há coisas que jamais devem mudar, como o eixo central das Nações Unidas.
O senhor diria que o eixo central da ONU seria o respeito à vida e à humanidade?
Sim. Em todo o mundo, neste instante, há pessoas sendo assoladas pela violência e tendo os direitos básicos violados. Parece-me que, talvez por conta de o Japão ser um país relativamente pacífico, há um certo desinteresse pelo sofrimento das outras pessoas e pelas ameaças sofridas por outros países.
Há de se concordar que é importante não se fechar numa tranquilidade individual e buscar conhecer as dificuldades dos que estão distantes e saber como podemos ajudá-los. Por meio de uma proposta minha, desde 2010, uma assembleia internacional formada por Japão, China e Coreia do Sul vem cooperando e organizando um fórum juvenil para debater formas de cooperação.
Além disso, tenho me dedicado à função de liderar as Conferências sobre o Futuro da Ásia, encontros que reúnem pesquisadores de toda a Ásia e fortalecem a troca de conhecimento.
O caminho para a paz mundial também perpassa pelo aprofundamento mútuo da amizade e da confiança entre países vizinhos. Quero que os jovens olhem para as nações à sua volta, evitem o isolamento no próprio pensamento e nutram uma perspectiva de paz que inclua o lugar do outro.
Conheça o Sr. Yasushi Akashi
Ele nasceu em 1931, na cidade de Akita, no Japão. Em 1957, tornou-se o primeiro membro japonês nas Nações Unidas, onde atuou como dirigente do sindicato dos trabalhadores das Nações Unidas, subsecretário-geral de informações públicas e subsecretário-geral para o desarmamento. No papel de representante especial da Secretaria Geral da ONU, trabalhou no governo provisório do Camboja (1992 – 1993) e em missão de paz na antiga Iugoslávia (1994 – 1995). Akashi se aposentou da diplomacia no final de 1997. Atualmente, trabalha na diretoria do Centro de Conferências Internacional de Quioto. Em 1991, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Soka. Publicou diversas obras sobre suas experiências na ONU e no Camboja.
Nota:
1. Em 1970, um golpe de estado no Camboja desencadeou uma guerra civil que durou 20 anos. Com os Acordos de Paz de Paris, em 1991, foi inaugurada a Autoridade Transitória das Nações Unidas no Camboja (UNTAC), responsável pela supervisão do cessar-fogo e do desarmamento, pela realização de eleições, pela assistência no retorno de refugiados e pelo monitoramento das ações do governo.
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