BS
Caderno Especial
há 7 anos
Capítulo “Juramento Seigan”
Volume 30, Partes 89 a 92
06/10/2018

PARTE 89
Shin’ichi Yamamoto sentiu-se profundamente grato pela solicitação de Rosa Parks de que desejava publicar a foto do diálogo com ele no livro Talking Pictures [Fotografias que Falam].
Algum tempo depois lhe foi entregue um exemplar do livro de fotos. Conforme as palavras dela, havia sido publicada a foto em que trocava cumprimentos com Shin’ichi durante o encontro em Los Angeles. Na foto, brilhava o belo e gentil sorriso da “mãe do movimento pelos direitos humanos”, com um breve comentário:
“Essa fotografia é sobre o futuro. Não consigo imaginar nenhum outro momento tão importante como esse em toda a minha vida”.¹ Ela também disse que, apesar das diferentes origens culturais, as pessoas podem se unir, e que considerou seu encontro com Shin’ichi uma nova oportunidade de se empenhar pela paz mundial.²
Durante essa viagem aos Estados Unidos, Shin’ichi visitou o Museu da Tolerância em Los Angeles.
Nesse local estavam expostos aspectos focalizando a repressão aos direitos humanos em diversas partes do mundo, como também o Holocausto (extermínio em massa dos judeus), a maior atrocidade na história da humanidade. Observando a crueldade sofrida pelo povo judeu nessa visita ao museu, Shin’ichi comentou com os responsáveis pela instituição:
— Visitando o museu, fiquei profundamente comovido! Ou melhor, indignado! E, mais ainda, despertou em mim uma profunda determinação rumo ao futuro de que, em qualquer país e em qualquer época, jamais podemos permitir que esse tipo de tragédia se repita.
A opressão e a discriminação por causa de diferenças étnicas, ideológicas e religiosas e, ainda, o coração do ser humano que aceita e tolera essa situação – aí se encontra a natureza demoníaca latente nas profundezas da vida. Lutar contra essa natureza demoníaca é a missão dos praticantes do Budismo Nichiren.
O primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, morreu na prisão por suas crenças combatendo a opressão do governo militarista que, durante a Segunda Guerra Mundial, implantou a censura ideológica para fins bélicos. O segundo presidente da organização, Josei Toda, que foi preso junto com Makiguchi, reagiu após o término da guerra, defendendo o ideal de cidadania global. Essa ação de mestre e discípulo era uma luta contra todos os tipos de intolerância que separam as pessoas. O kosen-rufu é um processo de construção e expansão dos laços de solidariedade em favor dos direitos humanos.
PARTE 90
No dia 6 de fevereiro, Shin’ichi Yamamoto voou de Miami, Flórida, para a Colômbia. Era sua primeira visita ao país latino-americano, que a convite do presidente César Gaviria Trujillo e do Ministério da Cultura da Colômbia. Empossado em agosto de 1990, aos 43 anos, como o mais jovem líder da história daquele país, o presidente Gaviria se engajou firmemente no combate ao terrorismo e aos cartéis de drogas.
Pouco antes da partida da comitiva de Shin’ichi de Miami ocorreu um incidente na capital da Colômbia, Santa Fé de Bogotá (atual Bogotá), em que um carro-bomba explodiu num setor comercial movimentado da capital colombiana, matando e ferindo muitas pessoas. Na época houve uma longa série de ataques terroristas liderados por cartéis de drogas, e foi decretado estado de emergência.
Na Colômbia, estava prevista a participação de Shin’ichi na cerimônia de abertura da exposição Eternos Tesouros do Japão, do acervo do Museu de Arte Fuji de Tóquio. A exposição aconteceu ao mesmo tempo que a Mostra Colombiana de Ouro: O Lendário Tesouro de El Dorado que havia sido apresentada no Museu de Arte Fuji de Tóquio, três anos antes (em 1990).
O gabinete da Presidência havia consultado Shin’ichi sobre sua viagem à Colômbia mesmo após a recente explosão da bomba. Ele respondeu sem hesitar:
— Por favor, não se preocupe comigo. Pretendo visitar a Colômbia conforme planejado. Eu me comportarei como um cidadão da Colômbia, cujo povo é incrivelmente corajoso.
Esse foi o juramento de Shin’ichi.
Na época em que recebeu a comenda Grã Cruz da Ordem Nacional de Mérito da Colômbia do ex-presidente Virgilio Barco Vargas, quatro anos antes, durante a visita dele ao Japão, Shin’ichi disse:
— Nosso desejo é contribuir positivamente com o mesmo espírito de um cidadão do seu país.
Shin’ichi acreditava que a confiança deve ser sempre retribuída com confiança em qualquer circunstância, pois esse é o verdadeiro caminho do ser humano e da amizade.
Em 7 de fevereiro, dia seguinte à sua chegada à Colômbia, foi fundado um distrito da Soka Gakkai Internacional (SGI), e Shin’ichi incentivou os membros tirando uma foto comemorativa.
No dia 8, ele fez uma visita de cortesia ao presidente Gaviria e à primeira-dama Ana Milena Muñoz no palácio presidencial, conhecido como Palácio Nariño. Nessa ocasião ele presenteou o presidente com um longo poema enaltecendo a coragem e as ações do grandioso líder jovem, e expressando sua esperança: “Que haja glórias no futuro da Colômbia!”.
PARTE 91
O presidente colombiano César Gaviria recebeu Shin’ichi Yamamoto calorosamente e outorgou-lhe a comenda nacional Ordem San Carlos no Grau de Grã Cruz.
Naquele mesmo dia, Shin’ichi participou da abertura da exposição Eternos Tesouros do Japão durante a qual recebeu uma medalha em homenagem por suas contribuições à cultura das mãos do diretor-geral do Instituto Colombiano de Cultura, uma divisão do Ministério da Educação.
Em 9 de fevereiro, Shin’ichi voou para o Rio de Janeiro, no Brasil.
No Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, um senhor de idade avançada aguardava sua chegada por duas horas.
Com espessos cabelos brancos, o rosto estava marcado com rugas que retratavam sua jornada de corajosas lutas. Devido à idade avançada, seus passos eram cambaleantes, mas sua aparência resoluta desmentia seus 94 anos; ele lembrava um destemido leão. Era Austregésilo de Athayde, presidente da Academia Brasileira de Letras, um importante bastião do pensamento e do intelecto latino-americanos e uma das instituições que havia convidado Shin’ichi para uma visita ao Brasil.
Depois de se formar em direito no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, Athayde tornou-se jornalista e, na década de 1930, lutou contra a ditadura dominante no país. Foi preso e chegou a ser obrigado a viver no exílio por três anos. Após a Segunda Guerra Mundial, representou o Brasil na terceira convenção da Assembleia Geral das Nações Unidas (em 1948), desempenhando um importante papel na elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos em conjunto com a campeã dos direitos humanos, Eleanor Roosevelt, e o ganhador do Prêmio Nobel da Paz René Cassin, entre outros. Mais tarde, como colunista, continuou travando sua luta contra a discriminação e, mesmo após ser nomeado presidente da Academia Brasileira de Letras, prosseguiu em sua batalha ativista com palavras.
O presidente Athayde tomou conhecimento de Shin’ichi por intermédio de um amigo que morava na Europa. Ao ler suas obras e dialogando com membros da Associação Brasil SGI (BSGI), ele desenvolveu um forte interesse e concordância com pensamentos e ações do presidente Yamamoto, e desejava ardentemente encontrá-lo.
No aeroporto, o presidente Athayde esperava ansiosamente pela chegada de Shin’ichi. Preocupado com sua saúde, um líder da SGI recomendou que ele se sentasse e descansasse. Porém Athayde simplesmente disse:
— Eu esperei por esse encontro com o presidente Yamamoto por 94 anos. Portanto, uma ou duas horas a mais não é nada.
PARTE 92
Shin’ichi Yamamoto desembarcou no aeroporto do Rio de Janeiro às 21 horas do dia 9 de fevereiro. A comitiva foi recebida com calorosos sorrisos de Austregésilo de Athayde, presidente da Academia Brasileira de Letras.
Nascido em 1898, Athayde era contemporâneo do mestre de Shin’ichi, Josei Toda, que nasceu em 1900. Para Shin’ichi, Athayde lembrava o professor Josei Toda, e ele sentiu como se seu mestre estivesse ali para recebê-lo.
Após a saudação, Athayde e Shin’ichi envolveram-se num cordial abraço.
— O senhor, presidente Yamamoto, é uma figura definidora deste século. Vamos juntar forças e mudar a história da humanidade!.
Shin’ichi recebeu humildemente as palavras tão elogiosas de Athayde. E sentiu que expressavam o ardente desejo e a expectativa para a proteção dos direitos humanos rumo ao futuro. Shin’ichi respondeu, então:
— O senhor é meu companheiro! É meu amigo! O senhor é o tesouro do mundo.
As barreiras da discriminação cresciam em todo o mundo. Os direitos humanos estavam sendo violados pelo autoritarismo, pelo poder econômico e pela violência. Para tornar realidade o espírito da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a humanidade tinha um longo e árduo caminho pela frente. Sem dúvida Athayde estava seriamente em busca de pessoas a herdar o bastão desse empreendimento.
No dia seguinte, 10 de fevereiro, Shin’ichi participou da Conferência de Representantes da BSGI do Rio de Janeiro realizada nessa cidade. Lembrando que o dia seguinte, 11 de fevereiro, marcaria o 93º aniversário de nascimento de Josei Toda, Shin’ichi explanou sobre o budismo e sua aplicação na vida diária e na sociedade com base nas orientações do seu mestre.
— Toda sensei afirmava: Há pessoas que têm a ideia simplista de que por terem abraçado o Gohonzon receberão benefícios mesmo que não pensem sobre como conduzir seus negócios nem se esforcem. Esse é um grande erro e deve ser classificado como calúnia contra a Lei [pois vai contra os ensinamentos do budismo].³
Assim, Toda sensei salientou que o Budismo Nichiren nada tinha a ver com uma prática da fé que busca dependência a algo, mas sim um ensinamento para criar valor na própria vida, extraindo e aplicando com dedicação a sabedoria e a força intrínsecas que possuímos pela recitação do daimoku ao Gohonzon.
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