Estudo
BM
[19] As dificuldades engrandecem o ser humano
Departamento de Estudo do Budismo
12/05/2022
![[19] As dificuldades engrandecem o ser humano](https://meubs.com.br/assets/images/2020-12-16_18-07-37.png)
Capítulo 1: Trechos do Gosho
Aprendendo com os Escritos de Nichiren Daishonin: Os Ensinamentos para a Vitória
Atualizado a partir da Terceira Civilização, ed. 500, abr. 2010, p. 39
Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda
O caminho direto para atingir o estado de buda: superar grandes obstáculos é a chave para transformar nosso carma
[2.3] Carta de Sado
Vinte e seis anos se passaram desde a Batalha de Hoji, e conflitos armados já ocorreram duas vezes, no décimo primeiro dia e no décimo sétimo dia do segundo mês deste ano. O ensinamento correto d’Aquele que Assim Chega não pode ser destruído por não budistas nem por inimigos do budismo; mas os discípulos do Buda, com certeza, podem destruí-lo. Conforme afirma um sutra, o leão só pode ser devorado pelos vermes que se criam dentro dele. Uma pessoa afortunada jamais será arruinada por inimigos, mas poderá ser destruída por aqueles de seu convívio. A atual batalha é o que o Sutra Mestre dos Remédios quer dizer com “revolta dentro do próprio reino”. O Sutra dos Reis Benevolentes afirma: “Quando os veneráveis partirem, os sete desastres certamente ocorrerão”. O Sutra da Luz Dourada afirma: “As trinta e três divindades celestiais se enfurecem porque o rei permite que o mal prolifere e não o detém”. Embora eu, Nichiren, não seja venerável, posso ser comparado a um, pois pratico o Sutra do Lótus exatamente como este ensina. Além disso, como obtive a compreensão dos assuntos deste mundo há muito tempo, todas as profecias que fiz nesta existência se realizaram. Por essa razão, jamais duvide de minhas palavras em relação às existências futuras.
No décimo segundo dia do nono mês do ano passado, quando fui preso, declarei em voz alta: “Eu, Nichiren, sou o pilar, o Sol, a Lua, o espelho e os olhos do clã governante de Kanto. Se a nação me abandonar, os sete desastres ocorrerão sem falta”. Essa profecia não se realizou em apenas sessenta dias e, depois, cento e cinquenta dias mais tarde? E esses conflitos foram somente os primeiros sinais. Será lamentável quando o efeito se manifestar por completo!
As pessoas ignorantes questionam por que Nichiren é perseguido pelos governantes se ele é, na verdade, uma pessoa sábia. Apesar disso, tudo está acontecendo exatamente como eu previa. O rei Ajatashatru torturou os pais, e tal atitude lhe valeu a aclamação de seis ministros reais. Quando Devadatta matou um arhat e feriu o Buda, a reação de Kokalika e de outros foi de deleite. Nichiren é o pai e a mãe do clã governante e é como um buda ou um arhatdesta época. O soberano e seus subordinados que se alegram com meu exílio são de fato as pessoas mais desprezíveis e lamentáveis de todas. Aqueles sacerdotes caluniadores que se ressentiram por seus erros terem sido expostos podem estar alegres neste momento, mas acabarão sofrendo tanto quanto meus discípulos e eu. A alegria deles é como a de Yasuhira quando matou o irmão mais novo e Kuro Hogan. O demônio que destruirá o clã governante já está presente na nação. Esse é o significado da passagem do Sutra do Lótus: “Demônios malignos se apossarão das pessoas”.
As perseguições que Nichiren tem enfrentado se devem ao carma criado em existências passadas. O capítulo “Jamais Desprezar” declara: “Quando seus crimes tiverem sido erradicados”, indicando que o bodisatva Jamais Desprezar, devido ao carma do passado, foi insultado e agredido por incontáveis caluniadores do ensinamento correto. Isso é ainda mais verdadeiro no caso de Nichiren que, nesta existência, nasceu numa família pobre e humilde da classe chandala. No coração, abrigo certa fé no Sutra do Lótus; porém, meu corpo — de aparência humana — é basicamente o de um animal. Fui concebido a partir de dois fluidos, um branco e um vermelho, de um pai e de uma mãe que subsistiam comendo aves e peixes. Meu espírito habita este corpo, assim como a Lua aparece refletida na água lamacenta ou o ouro é embrulhado em papel imundo. Uma vez que meu coração acredita no Sutra do Lótus, não temo nem a Brahma nem a Shakra; no entanto, meu corpo continua sendo o de um animal. Com tal disparidade entre meu corpo e minha mente, é natural que os tolos me desprezem. Não há dúvida de que minha mente, comparada com meu corpo, brilha como a Lua ou como o ouro. Quem sabe que calúnias devo ter cometido no passado? Talvez eu possua o espírito do monge Intenção Superior ou o de Mahadeva. Pode ser que eu descenda daquelas pessoas que perseguiram o bodisatva Jamais Desprezar e o trataram com desdém ou esteja entre os que se esqueceram da semente da iluminação plantada na vida. Pode até ser que eu tenha uma relação de afinidade com as cinco mil pessoas arrogantes ou tenha pertencido ao terceiro grupo [que não acreditou no Sutra do Lótus] nos dias do buda Excelência da Grande Sabedoria Universal. É impossível sondar o próprio carma.
O ferro, quando aquecido e forjado, torna-se uma excelente espada. Os reverenciáveis e os veneráveis são testados com calúnias. Meu atual exílio não é resultado de nenhum crime secular, mas serve somente para que eu possa expiar, nesta existência, as graves faltas que cometi no passado e me libertar dos três maus caminhos na próxima.
O Sutra do Parinirvana afirma: “No futuro, haverá pessoas que entrarão para a ordem monástica, vestirão mantos clericais e fingirão estudar meus ensinamentos. Preguiçosos e negligentes, eles agirão contra os sutras corretos e iguais. O senhor deve ter consciência de que todas essas pessoas são seguidoras das doutrinas não budistas dos dias atuais”. Os que lerem esta passagem deverão refletir profundamente sobre a própria prática. O Buda está dizendo que os atuais sacerdotes — vestidos com mantos clericais, porém, preguiçosos e negligentes — foram discípulos dos seis mestres não budistas de seus dias.
Os seguidores de Honen, que se denominam como escola Nembutsu, não só desviam as pessoas do Sutra do Lótus, dizendo-lhes para “descartar, fechar, ignorar e abandonar” o sutra, como também as incentivam a recitar apenas o nome de Amida, um buda mencionado nos ensinamentos provisórios. Os seguidores de Dainichi, conhecidos como escola Zen, afirmam que os verdadeiros ensinamentos do Buda foram transmitidos fora dos sutras. Ridicularizam o Sutra do Lótus descrevendo-o como um dedo que aponta a Lua ou um monte de palavras sem sentido. Esses sacerdotes de ambas as escolas devem ter sido seguidores dos seis mestres não budistas, que somente agora entraram para a linhagem do budismo.
De acordo com o Sutra do Nirvana, o Buda emitiu uma forte luz que iluminou os cento e trinta e seis infernos subterrâneos e revelou que ali não havia mais nenhuma pessoa que tivesse cometido más ações. Isso porque todos haviam atingido o estado de buda por meio do capítulo “A Extensão da Vida”, do Sutra do Lótus. No entanto, é lamentável que as pessoas de descrença incorrigível, ou icchantika, que haviam caluniado o ensinamento correto, tenham ficado detidas pelos guardiões do inferno. Elas se multiplicaram até se tornarem os habitantes do Japão dos dias atuais.
Uma vez que o próprio Nichiren, no passado, cometeu calúnias contra a Lei, nesta existência ele se tornou um sacerdote da Nembutsu. E, durante vários anos, também ridicularizou os praticantes do Sutra do Lótus, dizendo que “nem uma única pessoa jamais atingiu o estado de buda” por meio desse sutra, ou que “nem mesmo uma pessoa em mil” pode ser salva por esse sutra. Ao despertar da embriaguez das calúnias contra a Lei, senti-me como o filho bêbado que, ao ficar sóbrio novamente, lamenta-se por ter golpeado os pais por diversão. Apesar de se arrepender amargamente disso, já é tarde demais; o seu crime é extremamente difícil de ser erradicado. E ainda mais difíceis de eliminar são as calúnias cometidas contra o ensinamento correto, que deixam uma profunda mancha no coração de quem as cometeu. Um sutra afirma que tanto a cor preta do corvo como a cor branca da garça, na verdade, se devem a manchas profundas do carma do passado. Os não budistas, incapazes de reconhecer esse fato, defendem que isso é obra da natureza. Na presente época, quando exponho as calúnias das pessoas com o desejo de salvá-las, elas negam ter cometido esses maus atos, valendo-se de todas as desculpas possíveis, e argumentam com as palavras de Honen sobre cerrar as portas que conduzem ao Sutra do Lótus. Tal atitude não é de surpreender, pois vem dos seguidores da Nembutsu, mas até os sacerdotes das escolas Tendai e Palavra Verdadeira têm apoiado ativamente esse tipo de conduta.
No décimo sexto e no décimo sétimo dias do primeiro mês deste ano, centenas de sacerdotes e seguidores leigos da Nembutsu e de outras escolas desta província de Sado vieram debater comigo. Um líder da escola Nembutsu, Insho-bo, declarou: “O honorável Honen não nos instruiu a abandonar o Sutra do Lótus. Ele simplesmente escreveu que todas as pessoas deveriam recitar o Nembutsu e que os grandes benefícios dessa prática lhes assegurariam o renascimento na Terra Pura. Mesmo os sacerdotes do Monte Hiei e do templo Onjo-ji — exilados nesta ilha — elogiam Honen, afirmando que seu ensinamento é excelente. Como o senhor ousa refutá-lo?” Os sacerdotes locais demonstram ser ainda mais ignorantes do que os sacerdotes do Nembutsu em Kamakura. Eles são absolutamente deploráveis. (CEND, v. I, p. 318-321)
Explanação
Qual é o propósito de termos nascido? Nascemos para ser felizes e ajudar outros a conquistar a felicidade também. Para esse fim, o mais importante é vencer a si mesmo. Praticamos o Budismo de Nichiren Daishonin para vencer nossa escuridão ou ignorância, nosso destino, os obstáculos e as funções maléficas e para derrotar os “três poderosos inimigos”.1 O budismo ensina que cada um de nós possui inerente a sabedoria e o poder de triunfar em todos os campos da vida. É uma filosofia orientada para a vitória. O ponto essencial do estudo do Budismo de Nichiren Daishonin, budismo da vitória, é aprofundar nossa compreensão nesta filosofia cheia de esperança, para que possamos recorrer a ela como fonte de inspiração visando a sucessivas vitórias.
Recordo-me de que meu mestre, Josei Toda, segundo presidente da Soka Gakkai, encorajou uma integrante da Divisão Feminina de Jovens que lutava corajosamente contra o destino. O pai da jovem havia falecido quando ela ainda era criança e, tempos depois, também perdeu a mãe, seu único apoio. A jovem teve de travar uma verdadeira batalha para se manter economicamente, ao mesmo tempo em que enfrentava a própria doença. Recorreu então ao presidente Josei Toda em busca de orientação. Ele fitou a jovem com olhos cheios de bondade. As palavras, porém, eram rigorosas: “Pergunto com que seriedade está realmente lidando com seus problemas? Praticar o budismo nada mais é que enfrentar os problemas. A fé existe para tratar os conflitos e resolvê-los”.
Essas palavras sintetizam a essência do Budismo de Nichiren Daishonin. Com atitude similar, Toda sensei me disse uma vez: “Dai, a vida implica sofrimentos. Somente quando sofremos é que podemos compreender a fé e nos tornar uma pessoa grandiosa”.2 Isso foi pouco antes de me lançar à histórica Campanha de Osaka,3 em 1956.
Como praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, quando temos problemas, preocupações ou sofrimentos, enxergamos a situação como uma oportunidade de enfrentar o destino resultante dos quatro sofrimentos universais: nascimento, envelhecimento, doença e morte. Se nos deixarmos abater pela realidade adversa, ou se nos limitarmos a lamentar a situação, não teremos força para romper com a dependência do destino, que existe justamente para ser transformado. Do ponto de vista do budismo, o destino é um meio hábil para comprovarmos a grandeza da Lei Mística.
A jovem que recebeu essas palavras de encorajamento do presidente Josei Toda deixou de ter dó de si mesma e abandonou a tristeza. Compreendeu que, quando perdemos de vista nossa missão pelo kosen-rufu, nos desviamos do curso da vitória. Ela chegou a ser responsável pela Divisão Feminina de Jovens e, logo depois, pela Divisão Feminina. Empenhou-se como discípula com profundo sentimento de gratidão até o último momento da vida. A nobre vitória dessa líder da Divisão Feminina continua a inspirar muitas pessoas até hoje.
Durante o severo exílio na Ilha de Sado, Nichiren Daishonin ensinou aos discípulos a essência da fé para conquistar a vitória absoluta. No início de Carta de Sado, com o desejo de que os discípulos triunfem sobre todos os obstáculos, ele ressalta a importância de se praticar a fé com espírito abnegado e a disposição de um rei leão. Transmite a alegria ilimitada de se dedicar à Lei sem poupar a vida.
No trecho que estudaremos nesta oportunidade, Daishonin descreve as ações destemidas de um verdadeiro rei leão que ele tomou para vencer os governantes perversos e os sacerdotes errôneos. Ao mesmo tempo, usa a si próprio como exemplo para ensinar aos discípulos a chave dessa fé condutora à transformação do carma.
O tema principal desse trecho é que devemos seguir os passos inequívocos de Nichiren Daishonin e, praticando com a mesma postura digna, intrépida e imperturbável, conquistar a vitória insuperável pelo budismo e por nossa própria vida.
Trecho do escrito 1
Vinte e seis anos se passaram4 desde a Batalha de Hoji, e conflitos armados já ocorreram duas vezes, no décimo primeiro dia e no décimo sétimo dia do segundo mês deste ano.5 O ensinamento correto d’Aquele que Assim Chega não pode ser destruído por não budistas nem por inimigos do budismo; mas os discípulos do Buda, com certeza, podem destruí-lo.6 Conforme afirma um sutra, o leão só pode ser devorado pelos vermes que se criam dentro dele. Uma pessoa afortunada jamais será arruinada por inimigos, mas poderá ser destruída por aqueles de seu convívio. A atual batalha é o que o Sutra Mestre dos Remédios quer dizer com “revolta dentro do próprio reino”. O Sutra dos Reis Benevolentes afirma: “Quando os veneráveis partirem, os sete desastres7 certamente ocorrerão”. O Sutra da Luz Dourada afirma: “As trinta e três divindades celestiais8 se enfurecem porque o rei permite que o mal prolifere e não o detém”. (CEND, v. I, p. 318-319)
O cumprimento das predições formuladas em Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra
A Batalha de Hoji refere-se a um conflito ocorrido em 1247 (primeiro ano da era Hoji), no qual o regente Hojo Tokiyori destruiu o clã Miura, cujos membros exerciam considerável influência no governo. A derrota do grande rival permitiu ao clã Hojo estabelecer um regime ditatorial. Mas no vigésimo sexto ano posterior a essa batalha, irrompeu uma luta interna pelo poder no clã Hojo. Refiro-me à Revolta do Segundo Mês de 12729 [que ocorreu um mês antes de a Carta de Sado ter sido escrita, no terceiro mês]. Nesse trecho, Daishonin declara que essa recente rebelião representa a calamidade das revoltas internas ou motins dentro do próprio território, descrita no sutra Mestre dos Remédios, e declara que as predições formuladas em seu Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra haviam se cumprido.
A causa fundamental das “três calamidades e dos sete desastres”,10entre as quais se incluem as revoltas internas, reside no fato de um país perder de vista o ensinamento do Sutra do Lótus. Quando surgem sacerdotes corruptos que distorcem a Lei, o budismo é destruído a partir de dentro. Portanto, conforme Daishonin declara, as pessoas más que atuam contra a Lei são influências que destroem o budismo, comparando-as com os vermes no corpo do leão.
Os valores confusos que derivam de ideias e de crenças errôneas ativam e reforçam na vida das pessoas as funções dos três ou quatro estados inferiores, também chamados “três ou quatro maus caminhos”.11 Consequentemente, os indivíduos governados pela avareza, ira, estupidez e inveja perseguem as pessoas que propagam a Lei correta, e trata de isolá-las ou expulsá-las da sociedade. Essa é a realidade da época que chamamos de Últimos Dias da Lei. Quando uma sociedade afasta ou silencia as pessoas de sabedoria por meio da cumplicidade entre autoridades corruptas e sacerdotes errôneos, o estado de vida que prevalece entre os habitantes é o de animalidade. Como resultado, ocorrem conflitos internos que expõem o povo ao sofrimento.
Se não observarmos a realidade com os olhos do Buda e os olhos da Lei, não conseguiremos compreender que a perseguição contra o ensinamento do budismo é a causa primordial do caos e da instabilidade social. Praticar o budismo significa lutar para conquistar a vitória. Portanto, temos de nos levantar com o coração de um rei leão e triunfar.
Trecho do escrito 2
Embora eu, Nichiren, não seja venerável, posso ser comparado a um, pois pratico o Sutra do Lótus exatamente como este ensina. Além disso, como obtive a compreensão dos assuntos deste mundo há muito tempo, todas as profecias que fiz nesta existência se realizaram. Por essa razão, jamais duvide de minhas palavras em relação às existências futuras. (CEND, v. I, p. 319)
Um sábio compreende a verdadeira natureza dos fenômenos sociais
As aparências e o prestígio social não permitem avaliar se alguém é sábio ou não. São as ações e a conduta de um indivíduo que servem de parâmetro. Quem pratica o Sutra do Lótus exatamente como o Buda ensina é um autêntico sábio.
É fato que “todos os fenômenos são manifestações da Lei budista”.12 Um sábio que compreende a essência dos ensinamentos do budismo possui profunda compreensão do funcionamento social. Por ser capaz de discernir com lucidez a verdadeira natureza dos fenômenos sociais, essa pessoa terá também uma visão clara e certa do futuro.
Quando, com firme convicção, Daishonin declara em Carta de Sado que suas predições se cumpririam, as palavras dele devem ter sido fonte de imenso alento para os seguidores que perseveravam na prática budista em meio às perseguições.
Em outro escrito, Carta para Horen, Daishonin ressalta: “Quando uma pessoa que apresenta provas claras no presente expõe o Sutra do Lótus, também surgem pessoas capazes de crer.13 De acordo com essas palavras, o kosen-rufuavança de forma irrestrita quando há “provas claras”.
Nessa parte específica da Carta de Sado, Nichiren Daishonin expõe: “Todas as profecias que fiz nesta existência se realizaram. Por essa razão, jamais duvide de minhas palavras em relação às existências futuras”.14 Daishonin foi realmente um sábio que compreendeu as três existências — passado, presente e futuro. A exatidão de suas predições deve ter fortalecido ainda mais a convicção e fé dos seguidores.
Os membros da SGI também atribuem suma importância às “provas claras”, de acordo com os ensinamentos de Nichiren Daishonin, e mostram inúmeros exemplos de vitórias cotidianas na sociedade. Por isso, há tantas pessoas no mundo inteiro que confiam na SGI.
Trecho do escrito 3
No décimo segundo dia do nono mês do ano passado, quando fui preso, declarei em voz alta: “Eu, Nichiren, sou o pilar, o Sol, a Lua, o espelho e os olhos do clã governante de Kanto. Se a nação me abandonar, os sete desastres ocorrerão sem falta”. Essa profecia não se realizou em apenas sessenta dias e, depois, cento e cinquenta dias mais tarde?15 E esses conflitos foram somente os primeiros sinais. Será lamentável quando o efeito se manifestar por completo! (CEND, v. I, p. 319)
Advertência visando à felicidade das pessoas
A declaração de Daishonin de que “Eu, Nichiren, sou o pilar, o Sol e a Lua, o espelho e os olhos do clã que governa Kanto”, possui profundo significado. “Clã que governa Kanto”, especificamente, refere-se ao clã Hojo, mas também pode aludir às figuras proeminentes do governo militar e, no sentido geral, a toda a nação japonesa. “Pilar” indica a virtude de soberano; “Sol, Lua, espelho e olhos” correspondem à virtude do mestre; e “o pai e a mãe”, mencionados no parágrafo seguinte, expressam a virtude de pais. Nichiren Daishonin dá a entender, desse modo, que ele é o Buda dos Últimos Dias da Lei, possuidor das três virtudes de soberano, mestre e pais,16 as características de um buda.
Remetendo-se à passagem citada do Sutra Reis Benevolentes, “Quando os sábios partem, os sete desastres recairão sobre a nação”, Daishonin expressa a seguinte convicção: “Se a nação me abandonar, os sete desastres ocorrerão sem falta”.17 Assim, ele ressalta que os acontecimentos sucedidos até aquele momento eram apenas os “primeiros sinais”, e pede às pessoas que compreendam a verdade antes de os “efeitos se manifestarem por completo”, ou seja, a verdadeira retribuição. Os conflitos internos ou as guerras civis tinham de ser evitados a todo custo. Por isso, Daishonin insistia nas advertências, originadas do seu comprometimento altruístico. O objetivo dessas admoestações era instigar os governantes e o povo do Japão a “abrir os olhos” antes que fosse tarde demais, em prol da paz.
Trecho do escrito 4
As pessoas ignorantes questionam por que Nichiren é perseguido pelos governantes se ele é, na verdade, uma pessoa sábia. Apesar disso, tudo está acontecendo exatamente como eu previa. O rei Ajatashatru18 torturou os pais, e tal atitude lhe valeu a aclamação de seis ministros reais. Quando Devadatta19 matou um arhat20 e feriu o Buda, a reação de Kokalika21 e de outros foi de deleite. (CEND, v. I, p. 319)
Saldar a infinita dívida com o mestre
A seguir, Nichiren Daishonin se refere às críticas frequentes nessa época: se, de fato, ele era um sábio, por que as autoridades o perseguiram e o exilaram? Essa crítica, na realidade, tinha duas conotações: primeira, se ele era uma pessoa tão sábia, seria capaz de prever a ameaça da perseguição e a teria evitado; segunda, uma pessoa de genuína sabedoria certamente seria respeitada pela sociedade. Daishonin, no entanto, refuta tais ideias dizendo ser um modo de pensar próprio de “pessoas ignorantes”.
“Tudo está ocorrendo exatamente como eu previa”, diz Daishonin, indicando que sempre teve consciência de que seria perseguido. Os budas invariavelmente enfrentam grandes obstáculos e oposição. É um princípio imutável no budismo.
Quando o devoto do Sutra do Lótus é perseguido, a condição de vida de seus seguidores é claramente revelada. Nesse momento, eles se mostram sábios ou tolos? São discípulos que sentem gratidão ao mestre, que suportam todo o peso da perseguição e, por esse motivo, decidem lutar do lado dele? Ou são pessoas que se unem aos perseguidores, consentindo o mal e até ajudando a perpetrá-lo?
Certa ocasião, Toda sensei disse, comentando a passagem da Carta de Sado em que Daishonin se refere à perseguição das autoridades: “Tive a experiência de ser perseguido pelas autoridades uma vez. Se tiver boa sorte, gostaria de enfrentar perseguições novamente. (...) Estou totalmente preparado para essas adversidades. Se não estivesse, não poderia ser líder de nosso movimento”.22
Em 1957, quando fui preso sob falsas acusações relacionadas ao Incidente de Osaka,23 Toda sensei foi pessoalmente ao escritório da Promotoria Pública do Distrito de Osaka, apesar da saúde extremamente debilitada, para apresentar um protesto ao promotor-chefe. “Digam ao promotor que se a verdadeira intenção é oprimir a Soka Gakkai, então sou eu quem devem prender!’, declarou. Em outra ocasião, exigiu saber: “Quanto tempo mais pretendem manter meu discípulo que é inocente no cárcere?!”.
Toda sensei foi um mestre magnífico, inigualável. Saldar a dívida de gratidão com o mestre é o caminho do discípulo. Durante 62 anos, dediquei-me com sinceridade a seguir corretamente o caminho do discípulo. Por isso, não tenho o menor arrependimento.
Trecho do escrito 5
Nichiren é o pai e a mãe do clã governante e é como um buda ou um arhatdesta época. O soberano e seus subordinados que se alegram com meu exílio são de fato as pessoas mais desprezíveis e lamentáveis de todas. Aqueles sacerdotes caluniadores que se ressentiram por seus erros terem sido expostos podem estar alegres neste momento, mas acabarão sofrendo tanto quanto meus discípulos e eu. A alegria deles é como a de Yasuhira quando matou o irmão mais novo e Kuro Hogan.24 O demônio que destruirá o clã governante já está presente na nação. Esse é o significado da passagem do Sutra do Lótus: “Demônios malignos se apossarão das pessoas”.25 (CEND, v. I, p. 319)
Empenhar-se em estabelecer o ensinamento do budismo para a “pacificação da terra”
“Nichiren é o pai e a mãe do clã governante.”26 Que declaração magnífica! Daishonin não sentia o menor medo diante dos poderosos. Ao contrário, proclamava com audácia que ele era o pai e a mãe do clã Hojo, o mesmo clã que havia tentado executá-lo e que o tinha sentenciado ao exílio. Esse era a imensurável condição de vida do Buda dos Últimos Dias da Lei.
Com relação ao destino do soberano e dos súditos que o perseguiram e que se alegravam com os infortúnios pelos quais passava, Daishonin afirma que, sem falta, experimentariam grandes sofrimentos. Esse princípio é o mesmo em todas as épocas.
Os três primeiros presidentes da Soka Gakkai suportaram enormes perseguições e triunfaram. Espero que nunca se esqueçam dessa história solene e nobre.
Nichiren Daishonin afirma em seguida: “O demônio que destruirá o clã governante já está presente na nação”.27 Rejubilar-se em ver uma pessoa de justiça ser atormentada é característica de uma sociedade na qual “demônios malignos se apossarão das pessoas”.28 Isso se refere ao caso em que a nação está cheia de funções negativas poderosas que inibem a consciência moral da população.
Nada é mais temível que as ideias errôneas e filosofias distorcidas. É nos empenhando para estabelecer o ensinamento do budismo em prol da paz que a nação pode ser melhorada. Esse é o espírito do Budismo de Nichiren Daishonin.
Trecho do escrito 6
As perseguições que Nichiren tem enfrentado se devem ao carma criado em existências passadas. O capítulo “Jamais Desprezar” declara: “Quando seus crimes tiverem sido erradicados”,29 indicando que o bodisatva Jamais Desprezar,30 devido ao carma do passado, foi insultado e agredido por incontáveis caluniadores do ensinamento correto. Isso é ainda mais verdadeiro no caso de Nichiren que, nesta existência, nasceu numa família pobre e humilde da classe chandala.31 No coração, abrigo certa fé no Sutra do Lótus; porém, meu corpo — de aparência humana — é basicamente o de um animal. Fui concebido a partir de dois fluidos, um branco e um vermelho, de um pai e de uma mãe que subsistiam comendo aves e peixes. Meu espírito habita este corpo, assim como a Lua aparece refletida na água lamacenta ou o ouro é embrulhado em papel imundo. Uma vez que meu coração acredita no Sutra do Lótus, não temo nem a Brahma nem a Shakra;32 no entanto, meu corpo continua sendo o de um animal. Com tal disparidade entre meu corpo e minha mente, é natural que os tolos me desprezem. Não há dúvida de que minha mente, comparada com meu corpo, brilha como a Lua ou como o ouro. Quem sabe que calúnias devo ter cometido no passado? Talvez eu possua o espírito do monge Intenção Superior33 ou o de Mahadeva.34 Pode ser que eu descenda daquelas pessoas que perseguiram o bodisatva Jamais Desprezar e o trataram com desdém ou esteja entre os que se esqueceram da semente da iluminação plantada na vida.35 Pode até ser que eu tenha uma relação de afinidade com as cinco mil pessoas arrogantes36 ou tenha pertencido ao terceiro grupo [que não acreditou no Sutra do Lótus] nos dias do buda Excelência da Grande Sabedoria Universal.37 É impossível sondar o próprio carma. (CEND, v. I, p. 319-320)
A grande batalha para transformar o destino da humanidade
Carta de Sado é um escrito sobre a luta compartilhada por mestre e discípulo. Nichiren Daishonin não só registra a própria luta espiritual como um rei leão, mas também exorta aos discípulos a seguir o exemplo dele.
No início desse trecho, Daishonin descreve de que maneira, como devoto do Sutra do Lótus, ele perseverou em meio a obstáculos extremos e como, por meio de admoestações intrépidas, tornou evidente a verdadeira natureza maléfica dos sacerdotes e governantes. Nessa parte, descreve a luta destemida para a consecução do estado de buda.
Atingir o estado de buda significa transformar o próprio destino. Nesse trecho, Daishonin explica que, quando uma pessoa enfrenta perseguições ou outros obstáculos difíceis, ela pode transformar o carma gerado em existências passadas. Na postura de não poupar a vida se encontra o caminho para a felicidade eterna. As grandes dificuldades conduzem diretamente à transformação do destino. Por isso, sempre devemos nos recordar de manter o espírito de luta. Transformar o destino não é algo simples. É por essa razão que Daishonin ensina a importância de sermos assíduos e firmes na prática budista. Acima de tudo, ele nos pede que lutemos convictos contra o nosso carma até o fim.
Quando Daishonin afirma que “As perseguições que Nichiren tem enfrentado se devem ao carma criado em existências passadas”,38 ele esclarece que a hostilidade a qual sofria, independentemente de toda a dinâmica social que pudesse explicar esse ambiente opressivo, tinha a ver com as próprias ações contra a Lei cometidas em existências passadas. Ele diz que isso concorda com os ensinamentos do Sutra do Lótus e cita especificamente o princípio de que o carma se erradica com a luta contra as adversidades, tal como afirma a passagem “Quando seus crimes tiverem sido erradicados”, que se refere à luta do bodisatva Jamais Desprezar.
O bodisatva Jamais Desprezar reverenciava a natureza de buda inerente à vida das pessoas e praticava fielmente os princípios expostos no Sutra do Lótus, um ensinamento de iluminação universal. Como resultado, ele foi insultado, maltratado e até agredido pelas pessoas com pedras e bastões.39 Esses atos hostis, na realidade, eram uma retribuição pelas próprias ofensas cometidas no passado. O Sutra do Lótus explica que ele foi capaz de expiar essas ofensas e atingir finalmente o estado de buda porque persistiu na prática de reverenciar as pessoas, mesmo exposto às perseguições.
Do mesmo modo, nós também podemos transformar nosso carma acumulado em existências passadas e estabelecer uma condição de felicidade absoluta e eterna lutando contra os “três obstáculos e as quatro maldades”40 e os “três poderosos inimigos”. Esse é o benefício de atingir o estado de buda.
A seguir, com a declaração “Nichiren que, nesta existência, nasceu numa família pobre e humilde da classe chandala”, 41 Daishonin se refere às próprias origens. A afirmação demonstra que o Budismo de Nichiren Daishonin é um aliado do povo, um ensinamento genuinamente humanístico. Para os praticantes deste ensinamento, ter origem “pobre e humilde” é motivo de grande orgulho. O compromisso eterno do Sutra do Lótus é estar sempre do lado do povo. Isso é algo que nunca mudará.
Nichiren Daishonin ressalta ainda nesse trecho que o corpo dele “é basicamente o de um animal”.42 Não obstante, graças à fé inabalável no Sutra do Lótus, Daishonin conclui que o espírito dele brilha com fulgor e nobreza, com dignidade e convicção, que o tornam invulnerável ao medo. Reconhece que, devido à grande disparidade entre a natureza primitiva e animal de seu corpo e as aspirações que abrigava no coração, era natural que os demais o menosprezassem e o insultassem. Diz também que, ao pensar profundamente sobre a própria vida, sentia que ele devia possuir o mesmo tipo de escuridão e de ignorância demonstrado pelas pessoas que, no passado, perseguiram os praticantes budistas ou então abandonaram o caminho do budismo. Daishonin prossegue fazendo uma série de observações profundas a respeito.
“É impossível sondar o próprio carma”,43 afirma ele. Com essa declaração, Daishonin quis dizer que certamente cometeu faltas graves em existências passadas. Daishonin não faz concessões a ele mesmo. Contemplava a realidade de sua vida de forma rigorosa. Por meio da própria luta espiritual, abriu um caminho universal para que as pessoas, toda a humanidade, pudessem mudar o carma.
Daishonin deixou o meio para que todos os seres humanos dos Últimos Dias da Lei bloqueassem o caminho do inferno de incessante sofrimento. Os incontáveis dramas de transformação cármica protagonizados pelos membros da Soka Gakkai Internacional (SGI), proporcionam brilhantes provas reais de pessoas que, por si mesmas, se libertaram das correntes do carma por meio da fé no Budismo de Nichiren Daishonin. Sem dúvida, na história futura constará que essa grande filosofia, combinada com os esforços laboriosos de uma notável comunidade de pessoas comuns, foi uma poderosa força motriz para transformar o carma ou o destino da humanidade.
Trecho do escrito 7
O ferro, quando aquecido e forjado, torna-se uma excelente espada. Os reverenciáveis e os veneráveis são testados com calúnias. Meu atual exílio não é resultado de nenhum crime secular, mas serve somente para que eu possa expiar, nesta existência, as graves faltas que cometi no passado e me libertar dos três maus caminhos na próxima. (CEND, v. I, p. 320)
Cultivar a própria vida é o benefício supremo
Nesse trecho, Daishonin ressalta o ponto-chave da prática budista em termos da transformação do nosso destino.
Desenvolver a força interior é o benefício supremo da prática do Budismo de Nichiren Daishonin. Uma vida solidamente fortalecida assegura nossa felicidade eterna. Daishonin declara que a provação pela qual passava “não é resultado de nenhum crime secular”.44 Chega a dizer, inclusive, que foi exilado só para que transformasse o destino na presente existência.
Praticamos o budismo para fortalecer e transformar nossa vida. Conforme destaca o escritor russo Mikhail Sholokhov (1905–1984), cada um de nós é “o ferreiro da própria felicidade”.45
Meus discípulos, sejam fortes como o aço, fortes como espadas temperadas com primor! Ponham-se de pé como verdadeiros sábios e honoráveis!
Daishonin encoraja de modo vigoroso os discípulos combatentes, como se os sacudisse pelos ombros. “É preciso que transformem o destino!”, “O poder necessário para isso está dentro de vocês!”, “Não fujam das dificuldades! A verdadeira vitória implica triunfar sobre as próprias fraquezas!”, “Os grandes sofrimentos forjam uma magnífica personalidade! Sejam vencedores, persistam por toda a vida!”
Trecho do escrito 8
O Sutra do Parinirvana afirma: “No futuro, haverá pessoas que entrarão para a ordem monástica, vestirão mantos clericais e fingirão estudar meus ensinamentos. Preguiçosos e negligentes, eles agirão contra os sutras corretos e iguais. O senhor deve ter consciência de que todas essas pessoas são seguidoras das doutrinas não budistas dos dias atuais”. Os que lerem esta passagem deverão refletir profundamente sobre a própria prática. O Buda está dizendo que os atuais sacerdotes — vestidos com mantos clericais, porém, preguiçosos e negligentes — foram discípulos dos seis mestres não budistas46 de seus dias.
Os seguidores de Honen,47 que se denominam como escola Nembutsu, não só desviam as pessoas do Sutra do Lótus, dizendo-lhes para “descartar, fechar, ignorar e abandonar”48 o sutra, como também as incentivam a recitar apenas o nome de Amida,49 um buda mencionado nos ensinamentos provisórios. Os seguidores de Dainichi,50 conhecidos como escola Zen, afirmam que os verdadeiros ensinamentos do Buda foram transmitidos fora dos sutras. Ridicularizam o Sutra do Lótus descrevendo-o como um dedo que aponta a Lua ou um monte de palavras sem sentido. Esses sacerdotes de ambas as escolas devem ter sido seguidores dos seis mestres não budistas, que somente agora entraram para a linhagem do budismo.
De acordo com o Sutra do Nirvana, o Buda emitiu uma forte luz que iluminou os cento e trinta e seis infernos subterrâneos51 e revelou que ali não havia mais nenhuma pessoa que tivesse cometido más ações. Isso porque todos haviam atingido o estado de buda por meio do capítulo “A Extensão da Vida”, do Sutra do Lótus. No entanto, é lamentável que as pessoas de descrença incorrigível, ou icchantika,52 que haviam caluniado o ensinamento correto, tenham ficado detidas pelos guardiões do inferno.53 Elas se multiplicaram até se tornarem os habitantes do Japão dos dias atuais.(CEND, v. I, p. 320)
Uma terra onde prevalecem os atos contra a Lei
Nesse trecho, Daishonin muda o foco para a retribuição cármica que aguarda os que perseguem seus seguidores, ou seja, os sacerdotes que expõem ensinamentos errôneos e as pessoas de toda a nação cuja mente foi envenenada por tais ideias. Ele toma emprestadas as palavras do capítulo 16, “A Extensão da Vida d’Aquele que Assim Chega”, do Sutra do Lótus: “O veneno havia penetrado profundamente, e a mente delas [das crianças] já não raciocinava como antes”.54
De acordo com o sutra Parinirvana, esses sacerdotes corruptos, indolentes e ociosos, que atuam contra a Lei correta do Sutra do Lótus não são outros senão os descendentes espirituais dos que mantinham doutrinas não budistas e criticavam os ensinamentos de Shakyamuni durante a existência do Buda. Daishonin prossegue refutando a posição de diversos sacerdotes budistas de seus dias, que difamam o Sutra do Lótus. O que todos têm em comum é a atitude hipócrita de caluniar sem base alguma este ensinamento supremo, e de afastar as pessoas dele em benefício das próprias doutrinas. Daishonin afirma que esses sacerdotes devem ser “discípulos dos seis mestres não budistas”55 dos dias de Shakyamuni.
Num estudo sobre essa passagem do Sutra Parinirvana, Toda sensei declarou: “É provável que os maus sacerdotes que hostilizaram Daishonin surjam dentro da Nichiren Shoshu e de outras escolas budistas da época atual”. Em vista das ações insanas que, em anos recentes, Nikken Abe e seu séquito na Nichiren Shoshu cometeram — demonstrando ser inimigos do kosen-rufu —, as palavras de Toda sensei resultaram ser proféticas.
Daishonin destaca que as pessoas de todo o Japão que o hostilizaram e o caluniaram não diferenciam dos icchantika, ou pessoas de descrença incorrigível, incapazes de atingir a iluminação mesmo depois de ouvirem o buda Shakyamuni pregar o capítulo “A Extensão da Vida d’Aquele que Assim Chega”, do Sutra do Lótus. Nessa parte, Daishonin esclarece a verdadeira natureza dos inimigos do Sutra do Lótus com quem tem lutado. Os “seis mestres não budistas” e os icchantikamencionados nesse trecho representam a tendência negativa à incredulidade e à calúnia contra a Lei correta.
O que reside na raiz dessa tendência? A ilusão ou a escuridão. Uma condição de vida incapaz de compreender a essência do Sutra do Lótus — o respeito a todas as pessoas. Em termos contemporâneos, significa não respeitar a dignidade da vida, a igualdade humana e o infinito potencial de cada pessoa.
De modo penetrante, Nichiren Daishonin observou que os maus sacerdotes de sua época e os seguidores destes careciam dessa percepção e, dessa forma, rechaçavam o ensinamento do budismo que lhes teria possibilitado cultivar a verdadeira sabedoria na vida e hostilizavam todos os que o praticavam. A observação de Daishonin descreve perfeitamente a tendência de muitos japoneses de hoje, que desdenham do valor da filosofia e da religião.
O eminente estudioso budista Hajime Nakamura (1912–1999) observou: “É muito difícil estabelecer até que ponto os japoneses se devotavam ao budismo com sinceridade e reconheciam, realmente, o valor intrínseco deste ensinamento. A maioria deles se limitou a seguir a religião, distorcendo a doutrina ou o caráter do Buda como se nota nas seguintes frases: ‘O estado de buda consiste em não saber’ (na ignorância está a infelicidade) ou ‘Até o semblante do Buda muda (revela ira) depois da terceira vez” (a paciência tem limite). O Buda é representado de maneira extremamente próxima e familiar [aos seres humanos]. (...) A terminologia budista costuma ser parodiada em expressões vernáculas da língua cotidiana”.56
Muitos japoneses tendem a demonstrar pouco interesse pelos princípios budistas que tratam da essência da vida. Em vez disso, menosprezam e ridicularizam esses ensinamentos. Nessa atmosfera espiritual que predomina no Japão e que reflete falta de convicções firmes, os membros da Soka Gakkai têm se empenhado tenazmente para convidar as pessoas para o diálogo. Eles se dedicam, sem descanso, para elevar a condição de vida das pessoas.
Trecho do escrito 9
Uma vez que o próprio Nichiren, no passado, cometeu calúnias contra a Lei, nesta existência ele se tornou um sacerdote da Nembutsu. E, durante vários anos, também ridicularizou os praticantes do Sutra do Lótus, dizendo que “nem uma única pessoa jamais atingiu o estado de buda”57 por meio desse sutra, ou que “nem mesmo uma pessoa em mil”58 pode ser salva por esse sutra. Ao despertar da embriaguez das calúnias contra a Lei, senti-me como o filho bêbado que, ao ficar sóbrio novamente, lamenta-se por ter golpeado os pais por diversão. Apesar de se arrepender amargamente disso, já é tarde demais; o seu crime é extremamente difícil de ser erradicado. E ainda mais difíceis de eliminar são as calúnias cometidas contra o ensinamento correto, que deixam uma profunda mancha no coração de quem as cometeu. Um sutra afirma que tanto a cor preta do corvo como a cor branca da garça, na verdade, se devem a manchas profundas do carma do passado. Os não budistas, incapazes de reconhecer esse fato, defendem que isso é obra da natureza. Na presente época, quando exponho as calúnias das pessoas com o desejo de salvá-las, elas negam ter cometido esses maus atos, valendo-se de todas as desculpas possíveis, e argumentam com as palavras de Honen sobre cerrar as portas que conduzem ao Sutra do Lótus. Tal atitude não é de surpreender, pois vem dos seguidores da Nembutsu, mas até os sacerdotes das escolas Tendai59 e Palavra Verdadeira60 têm apoiado ativamente esse tipo de conduta.
No décimo sexto e no décimo sétimo dias do primeiro mês deste ano, centenas de sacerdotes e seguidores leigos da Nembutsu e de outras escolas desta província de Sado vieram debater comigo. Um líder da escola Nembutsu, Insho-bo,61 declarou: “O honorável Honen não nos instruiu a abandonar o Sutra do Lótus. Ele simplesmente escreveu que todas as pessoas deveriam recitar o Nembutsu e que os grandes benefícios dessa prática lhes assegurariam o renascimento na Terra Pura. Mesmo os sacerdotes do Monte Hiei e do templo Onjo-ji — exilados nesta ilha — elogiam Honen, afirmando que seu ensinamento é excelente. Como o senhor ousa refutá-lo?” Os sacerdotes locais demonstram ser ainda mais ignorantes do que os sacerdotes do Nembutsu em Kamakura. Eles são absolutamente deploráveis. (CEND, v. I, p. 320-321)
O propósito da existência do budismo é a felicidade das pessoas
Citando o exemplo dos próprios anos de estudo, Daishonin observa que as pessoas de sua época estavam confusas e, por isso, falhavam em perceber a superficialidade dos ensinamentos da Nembutsu, que promovia um movimento hostil ao Sutra do Lótus e a seus praticantes em toda a nação japonesa. Havia, porém, um problema mais grave ainda, provocado pelos que diziam praticar o Sutra do Lótus, mas que ignoravam os inimigos e nada faziam para combatê-los. Templos suntuosos, tradições e formalidades solenes, alta posição social não têm absolutamente nenhum sentido se o espírito de defender e proteger com rigor a Lei for perdido. Em circunstâncias assim, o autoritarismo se instala, ocasionando a corrupção e a decadência, deixando apenas uma concha vazia da intenção original dos ensinamentos.
O propósito da existência do budismo é a felicidade das pessoas. Porém, os ensinamentos errôneos e as más interpretações podem conduzir o povo ao sofrimento e à miséria. Fechar os olhos para essas ideias distorcidas e esquecer o desejo de conduzir as pessoas à iluminação é agir como inimigos do povo. Isso é algo que não podemos permitir. A prática do shakubuku exposta por Nichiren Daishonin, ou seja, refutar o errôneo e revelar o verdadeiro, é uma luta para restaurar o autêntico coração do budismo, reviver o verdadeiro espírito benevolente do buda Shakyamuni e elevar a condição de vida de todos os seres humanos.
Como afirmou o poeta alemão Heinrich Heine (1797–1856): “Quanto maior for a pessoa, melhor alvo será para as flechas da zombaria. É difícil alvejar os indivíduos de ínfima estatura”.62
Sem se deixar intimidar pelas críticas e pela perseguição, com o exemplo da própria vida, Daishonin ensinou o caminho supremo para transformar nosso carma e atingir o estado de buda. Ele almejava que seus discípulos se levantassem e concretizassem a vitória com base na fé “como a de Nichiren” e com “o mesmo espírito” que ele. Nós, membros da Soka Gakkai, mantemos essa brilhante tradição de mestre e discípulo.
Agora, no século 21, a Soka Gakkai resplandece fulgurante como “pilar do Japão”, “olhos” do mundo e “grande nau” da humanidade.63
Enquanto o espírito de mestre e discípulo do Budismo de Nichiren Daishonin, que foi solidificado no presente por meio da luta abnegada dos três primeiros presidentes — Makiguchi sensei, Toda sensei e eu — for mantido, a Soka Gakkai florescerá. Em especial, desejo que os membros da Divisão dos Jovens, sucessores do nosso movimento, gravem profundamente no coração esta fórmula para a vitória do nosso movimento pelo kosen-rufu.
(Daibyakurenge, edição de fevereiro de 2009)
Capítulo 2: Trechos da Nova Revolução Humana
NRH, cap. “Esvoejar’, v. 16, p. 174-175
Shin’ichi prosseguiu falando enfaticamente:
— No decorrer da vida, estamos fadados a nos deparar com todos os tipos de adversidades, não somente desastres naturais, mas acontecimentos como falência, desemprego, doença, acidentes e a morte de entes queridos. Nenhuma vida é totalmente tranquila. Na realidade, ela consiste numa infindável série de provações e tribulações, e não seria exagero afirmar que, de fato, vida é enfrentar dificuldades. A questão, então, se refere a “como não nos deixar vencer por essas provações e adornar nossa vida com vitórias”. O budismo ensina o conceito da “transformação do veneno em remédio”. Segundo esse princípio, podemos transformar até mesmo as piores circunstâncias em benefício e felicidade por meio da fé. Precisamos ter inteira convicção nisto. De outro ponto de vista, esse princípio está dizendo que, para se obter o remédio do estado de buda, da felicidade absoluta, temos de triunfar sobre o veneno do sofrimento. Em outras palavras, o sofrimento é a semente que possibilita que a flor da felicidade desabroche. Como tal, não devemos temer as adversidades. Em vez disso, devemos enfrentá-las com coragem. Somos todos bodisatvas da terra, que possuem a condição vital do estado de buda e que surgimos neste mundo para conduzir as pessoas dos Últimos Dias da Lei à iluminação. Nunca ficaremos presos num beco sem saída. A infelicidade não é causada por circunstâncias adversas. Ela é causada pelo nosso próprio desespero e negatividade.
Os ouvintes se agarraram às palavras de Shin’ichi, que eram repletas de poderosa convicção. Dando continuidade, ele ressaltou:
— Outro ponto importante é compreender que o sofrimento que estão experimentando agora possui um significado profundo. Se todos vocês que foram adversamente afetados pelo desastre natural conseguirem reconstruir sua vida de uma maneira esplêndida, terão transformado o veneno em remédio e demonstrado a grandiosidade do Budismo Nichiren à sociedade. Esse é o propósito da luta com que estão se deparando no presente. Por favor, transmitam a seguinte mensagem: “Não sejam derrotados. Espero que ultrapassem este obstáculo e se saiam vitoriosos. Continuarei enviando-lhes minhas sinceras orações”.
NRH, cap. “Canção do Triunfo”, v. 19, p. 86-87
Em seguida, ligou para Saiki para expressar quanto lamentava a situação. Além disso, disse-lhe que devia se tratar, de algum modo, da ação da sabedoria do buda e que devia existir algum significado importante. Shin’ichi compreendia profundamente a frustração e o desapontamento que Saiki provavelmente estava sentindo, e desejava, sem dúvida, que ele “transformasse o veneno em remédio”. De fato, por meio da Lei Mística, podemos converter todas as situações negativas em algo positivo para a nossa vida.
Shin’ichi declarou enfaticamente: “Existem ocasiões em que uma vitória ou um sucesso se tornam, na verdade, uma causa para a derrota ou o fracasso no futuro. Do mesmo modo, uma derrota pode se transformar na causa para a vitória grandiosa e eterna no futuro. Este é o momento para o Brasil se levantar e iniciar um novo avanço, fazendo desse obstáculo a causa para um enorme desenvolvimento e crescimento. Um compromisso sincero na fé torna isso possível”.
Shin’ichi reuniu toda a sua energia vital ao dizer a Saiki: “No longo prazo, o trabalho e esforços árduos nos fortalecem. O budismo ensina isso. Talvez não possa ir ao Brasil desta vez, mas no futuro irei aí sem falta e incentivarei nossos membros”.
NRH, cap. “Ilha da Vitória”, v. 28, p. 348-349
De Hong Kong, ele entrou em contato com o líder da província de Kagoshima e, além da solicitação para ele se deslocar imediatamente até as áreas afetadas a fim de incentivar os companheiros, confiou-lhe uma mensagem.
Os membros que tiveram sua casa destruída e estavam perdidos sem saber o que fazer se emocionaram com a vinda tão rápida do líder. E sentiram a coragem emergir ao ouvir as palavras de Shin’ichi contidas na mensagem: “O budismo possibilita sem falta a transformação do veneno em remédio”.
Renovados, os membros se levantarem na linha de frente para a reconstrução da localidade. Desejando sinceramente a transformação do próprio destino e também da localidade, deram início a intensos diálogos a respeito do budismo. A propagação avançou de maneira expressiva.
No final de outubro, Shin’ichi, que ouviu esse relato de um líder que viera da província de Kagoshima para Tóquio, disse-lhe:
— Sinto muito por todo o ocorrido. Na vida, pode acontecer de sermos atingidos por desastres naturais. De certa forma, pode-se dizer que a vida é como uma sucessão de contínuas dificuldades e provações. O importante é como se age nesses momentos: desespera-se e diz “Tudo acabou para mim...” ou se levanta decidido e brada “Não vou ser derrotado por uma coisa destas! Sem falta vou superar isso!”. O verdadeiro significado de realizar a prática da fé está em construir um eu forte que não é derrotado por nenhum tipo de sofrimento ou adversidade. Meu sincero desejo é que os membros que foram atingidos por esse desastre não sejam derrotados por essa provação e se levantem resolutamente e continuem a irradiar a luz da esperança e da coragem a todas as pessoas à sua volta.
Notas:
1. “Três poderosos inimigos”: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem os que propagam o Sutra do Lótus na era maléfica posterior à morte do buda Shakyamuni. São descritos no trecho da estrofe de vinte versos, que consta no capítulo 13, “Encorajamento à Devoção”, do Sutra do Lótus. O grande mestre Miaole, da China, classifica os “três poderosos inimigos” em: (1) leigos arrogantes; (2) sacerdotes arrogantes; e (3) sábios falsos e arrogantes.
2. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 323.
3. Campanha de Osaka: Em maio de 1956, os membros de Kansai, unidos ao jovem Daisaku Ikeda, que fora designado pelo presidente Josei Toda para apoiá-los, concretizaram a conversão de 11.111 famílias ao Budismo de Nichiren Daishonin. Na eleição realizada dois meses mais tarde, a Soka Gakkai conquistou uma cadeira na Câmara Alta, feito considerado impossível na época.
4. Na realidade, 25 anos se passaram desde que a Batalha de Hoji ocorreu, mas segundo o método de contagem tradicional japonês, isso corresponde a 26 anos.
5. Os combates ocorreram no décimo primeiro dia e no décimo quinto dia do segundo mês de 1272. Mais detalhes, leia a nota número 9.
6. “Vermes no corpo do leão”: Metáfora empregada para descrever os que, apesar de serem seguidores do budismo, destroem os ensinamentos, tal como os vermes devoram o corpo do leão por dentro. A intenção dessa metáfora é ressaltar que os membros da Ordem budista, mais que os não budistas, possuem a capacidade de destruir o budismo.
7. Ver nota número 10.
8. Trinta e três divindades celestiais: Divindades que, segundo a crença, vivem num platô no topo do Monte Sumeru. Shakra governa de seu palácio, que fica no centro do planalto, e as demais trinta e duas divindades habitam os quatro picos, e oito delas ocupam uma das quatro extremidades do platô.
9. Revolta do Segundo Mês de 1272: Também conhecida como Revolta de Hojo Tokisuke. Rebelião que ocorreu dentro do clã governante Hojo. Resultou em lutas armadas em Quioto e em Kamakura. No segundo mês de 1272, Hojo Tokisuke, influente oficial em Quioto, liderou um motim contra o meio-irmão mais novo, o regente Hojo Tokimune, numa tentativa de tomar-lhe o poder. Os conspiradores de Tokisuke em Kamakura foram aniquilados pelas tropas do governo no décimo primeiro dia do segundo mês, enquanto Tokisuke foi atacado e morto em Quioto no décimo quinto dia. A referência feita em Carta de Sado ao décimo sétimo dia ou se baseia em informação inexata ou é um erro introduzido durante a transcrição do documento original.
10. “Três calamidades e sete desastres”: As três calamidades são a guerra, a peste e a fome. Costumam ser mencionadas em conjunto com os sete desastres. Acredita-se que os sete desastres são causados pelos atos contra a Lei correta. O Sutra Mestre dos Remédios define os sete desastres da seguinte forma: (1) peste; (2) invasão estrangeira; (3) conflitos internos; (4) mudanças incomuns no céu; (5) eclipses solar e lunar; (6) tempestades fora de estação; e (7) secas fora de estação.
11. Os “três maus caminhos” são o mundo do inferno, o mundo dos espíritos famintos e o mundo dos animais, ou seja, os três estados inferiores dentro da escala dos “dez mundos”. Os quatro maus caminhos referem-se aos três maus caminhos mais o mundo dos asura. São chamados de “maus” porque se caracterizam pelo sofrimento.
12. WND, v. II, p. 906.
13. CEND, v. I, p. 535.
14. CEND, v. I, p. 319.
15. Não está claro a que incidente Daishonin se refere quando fala das sucessivas ocorrências sessenta dias depois da Perseguição de Tatsunokuchi. Pode ter se referido a alguma rebelião ou incidente específico. Há os que identificam o incidente com a chegada de outro emissário mongol no décimo primeiro mês de 1271. O evento que ocorreu 150 dias depois se refere à Revolta do Segundo Mês de 1272.
16. Três virtudes de soberano, mestre e pais: A virtude de soberano é o poder de proteger os seres vivos, a virtude de mestre corresponde à sabedoria de instruí-los e guiá-los à iluminação, e a virtude de pais é a compaixão de nutrir e apoiá-los.
17. CEND, v. I, p. 319.
18. Rei Ajatashatru: Rei de Magadha, na Índia, que viveu nos dias de Shakyamuni. Incitado por Devadatta, conquistou o trono assassinando o próprio pai, o rei Bimbisara, seguidor de Shakyamuni. Também cometeu atentados contra o Buda e os seguidores deste, soltando um elefante embriagado contra eles a pedido de Devadatta.
19. Devadatta: Primo de Shakyamuni que, a princípio, foi seguidor do Buda. Porém, logo, devido à arrogância, se tornou inimigo de Shakyamuni e cometeu diversos atos de maldade extrema como atentar contra a vida do Buda. Acredita-se que, como resultado das más ações, tenha caído vivo no inferno.
20. Arhat: Pessoa que atingiu o estágio mais elevado da iluminação contemplado pelo budismo Hinayana. Arhat significa “digno de respeito”.
21. Kokalika: Membro da tribo Shakya da Índia antiga e inimigo do buda Shakyamuni. No início foi discípulo do Buda, mas, com o tempo, sob influência de Devadatta, caluniou os discípulos Shariputra e Maudgalyayana.
22. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 6, p. 555, 1986.
23. Incidente de Osaka: Ocasião em que Daisaku Ikeda, então coordenador da Secretaria da Divisão dos Jovens da Soka Gakkai, foi preso e acusado injustamente de violar a lei eleitoral na campanha de renovação parcial da Câmara Alta de Osaka, em 3 de julho de 1957. No fim do julgamento, que se estendeu por quase cinco anos, ele foi inocentado de todas as acusações.
24. “Yasuhira” refere-se a Fujiwara Yasuhira (1155–1189), filho de Fujiwara Hidehira, senhor feudal da província de Mutsu, nordeste do Japão. Yasuhira assassinou o irmão e usurpou-lhe o poder. Minamoto no Yoritomo, xogum de Kamakura, ordenou-lhe que matasse Kuro Hogan Yoshitsune, irmão de Yorimoto, o que ele fez para provar a lealdade. Mais tarde, porém, Yorimoto mandou executá-lo para consolidar o próprio poder no norte do Japão.
25. Frase do capítulo 13, “Encorajamento à Devoção”, do Sutra do Lótus.
26. CEND, v. I, p. 319.
27. Ibidem.
28. Ibidem.
29. “Quando seus crimes tiverem sido erradicados”: Este verso do capítulo 20, “Bodisatva Jamais Desprezar”, do Sutra do Lótus, significa que o bodisatva Jamais Desprezar expiou os atos contra a Lei praticados no passado, suportando perseguições em prol da Lei. Foi dessa forma que ele conseguiu atingir o estado de buda. Leia em LS, cap. 20, p. 270.
30. Bodisatva Jamais Desprezar: Bodisatva descrito no capítulo 20, “Bodisatva Jamais Desprezar”, do Sutra do Lótus. Esse bodisatva, que em existências posteriores seria o próprio Shakyamuni, viveu no fim dos Médios Dias da Lei depois da morte de um buda chamado Rei do Som Imponente. Ele venerava a todos e lhes dizia: “Eu os reverencio profundamente, jamais ousaria tratá-los com desdém ou arrogância. Por quê? Porque todos estão praticando o caminho do bodisatva e infalivelmente atingirão o estado de buda”. Mesmo atacado por pessoas arrogantes, continuou a perseverar na prática e, como resultado, atingiu o estado de buda.
31. Chandala: Casta dos intocáveis, inferior à mais baixa das quatro classes do sistema de castas da Índia antiga. As pessoas dessa casta realizavam tarefas associadas à morte e à matança de seres. Viviam expostas à discriminação extrema. Daishonin declara ser membro de uma família chandala porque era filho de um pescador. Ensina que mesmo alguém proveniente do nível mais baixo da sociedade pode atingir a iluminação suprema.
32. Brahma e Shakra: São as duas principais divindades protetoras do budismo.
33. Intenção Superior: Monge que viveu na última era posterior à morte do buda Rei do Som do Leão. De acordo com o Sutra da Não Substancialidade de Todos os Fenômenos, ele caluniou o monge Raiz da Alegria, que ensinava a doutrina correta e, por esse motivo, caiu no inferno.
34. Mahadeva: Monge que viveu cerca de cem anos após Shakyamuni e que provocou a primeira cisão dentro da Ordem budista. Antes de se unir à Ordem, assassinou o pai, a mãe e um arhat. Mais tarde, Mahadeva começou a impor ideias arbitrárias em relação ao budismo e as controvérsias resultantes delas provocaram uma cisão na Ordem.
35. “Os que se esqueceram da semente da iluminação plantada na vida” são pessoas que, devido aos atos contra a Lei, não se recordam de ter recebido de Shakyamuni as sementes do estado de buda há kalpa tão numeroso quanto as partículas de pó de incontáveis grandes sistemas de mundos.
36. De acordo com o capítulo “Meios Apropriados”, do Sutra do Lótus, cinco mil pessoas — monges, monjas, leigos e leigas — abandonaram a assembleia quando Shakyamuni começou a pregar a “substituição dos três veículos pelo veículo único”, porque acreditavam ter atingido o que na realidade não haviam conseguido atingir.
37. Isso é descrito no capítulo “Parábola da Cidade Imaginária”, do Sutra do Lótus, no trecho que narra a história do buda Excelência da Grande Sabedoria Universal e de seus dezesseis filhos. Em um passado de kalpa tão numerosos quanto as partículas de pó de um grande sistema de mundos, o buda Excelência da Grande Sabedoria Universal pregou o Sutra do Lótus aos seus dezesseis filhos. Estes, por sua vez, pregaram o sutra para muitas pessoas. Algumas delas abraçaram a fé e atingiram a iluminação. O terceiro grupo é formado por aqueles que ouviram o Sutra do Lótus naquele momento, mas não o abraçaram. E, apesar de essas pessoas terem nascido na época do Buda, ainda assim não acreditaram no Sutra do Lótus.
38. CEND, v. I, p. 319.
39. Cf. LS, cap. 20, p. 267.
40. “Três obstáculos e quatro maldades”: Vários obstáculos e adversidades que tentam impedir a prática budista. Os “três obstáculos” são: (1) obstáculo dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma, que pode se manifestar na forma de oposição do cônjuge ou dos filhos; e (3) obstáculo da retribuição, também interpretado como obstáculos causados pelas pessoas às quais o praticante deve obediência, como governantes e pais. As “quatro maldades” são: (1) maldade dos cinco componentes; (2) maldade dos desejos mundanos; (3) maldade da morte; e (4) maldade celestial.
41. CEND, v. I, p. 319.
42. Ibidem.
43. CEND, v. I, p. 320.
44. Ibidem.
45. Artigo do Seikyo Shimbun, 16 de dezembro de 2008.
46. Seis mestres não budistas: Termo geral que se refere a pensadores que desfrutavam prestígio na época de Shakyamuni.
47. Honen (1133–1212): Também conhecido como Genku. Fundador da escola budista Terra Pura (Nembutsu) no Japão. Propunha a prática exclusiva da Nembutsu, ou a recitação do nome do buda Amida. Em sua obra Nembutsu como Escolha Exclusiva, Honen exorta às pessoas a descartar todos os sutras, incluindo o Sutra do Lótus, salvo três escrituras deste nas quais a escola Terra Pura se fundamentava. Em Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, Daishonin repudia a Nembutsu como “o mal” causador dos vários desastres ocorridos no Japão, na época.
48. Honen não usa exatamente essa sequência de palavras juntas. Nichiren Daishonin, no entanto, as extrai da obra Nembutsu como Escolha Exclusiva, e as agrupa numa mesma frase.
49. Amida é um buda descrito nos sutras da escola Terra Pura. Nesses sutras consta que ele vive na Terra Pura da Perfeita Felicidade, situada a oeste. É venerado pelos seguidores da escola Nembutsu ou Terra Pura.
50. Dainichi [s.d.]: Também chamado Nonin. Sacerdote do século 12 e um dos pioneiros a difundir o ensinamento do Zen no Japão. Ele propagou os ensinamentos do Zen mesmo antes de Eisai, fundador da escola Rinzai. Em 1189, Dainichi enviou dois discípulos à China para que os ensinamentos por ele propagados fossem legitimados pelo mestre zen Zhouan Deguang. A escola de Dainichi ficou conhecida como Nihon Daruma, ou escola japonesa Bodhidarma.
51. Em Profundo Significado do Sutra do Lótus, o grande mestre Tiantai descreve 136 tipos de inferno: oito grandes infernos, cada um com dezesseis infernos subsidiários. O último e pior de todos é o inferno de incessante sofrimento.
52. Icchantika: Pessoas de descrença incorrigível, que não aspiram à iluminação e, por essa razão, não têm nenhuma perspectiva de atingir o estado de buda. As noções sobre a possibilidade ou impossibilidade de que os icchantika atinjam a iluminação diferem segundo os sutras.
53. Guardiões do inferno: Na mitologia budista, demônios que atormentam os transgressores que caíram no inferno. Trabalham para o rei Yama (Emma), rei do inferno, que julga e determina a retribuição cármica negativa dos falecidos.
54. Nichiren Daishonin diz: “As palavras ‘O veneno havia penetrado profundamente’ (LS, cap. 16, p. 228) se referem às pessoas que se envolveram profundamente com os ensinamentos provisórios, ato que constitui uma ação contra a Lei. Por essa razão, elas não acreditam ou não aceitam o remédio altamente eficaz do Sutra do Lótus. Mesmo que alguém lhes dê uma dose desse remédio, recusam-se a tomá-lo ou cuspam-no fora porque ‘não percebem quão benéfico é’ (LS, cap. 16, p. 228); ou seja, não lhes é agradável” (OTT, p. 132).
55. CEND, v. I, p. 320.
56. NAKAMURA, Hajime. Ways of Thinking of Eastern Peoples: India, China, Tibet, Japan [Métodos de Pensamento dos Povos Orientais: Índia, China, Tibete e Japão]. WIENER, Philip P. (ed.) Honolulu: East-West Center Press, 1969. p. 528.
57. Coletânea de Ensaios sobre o Mundo da Paz e do Deleite, de Daochuo.
58. Louvor ao Renascimento na Terra Pura, de Shandao.
59. Escola Tendai: Escola do Budismo Tiantai no Japão. Foi fundada no início do século 9 pelo sacerdote japonês Dengyo (767–822), também conhecido como Saicho. Nos tempos de Daishonin, a Tendai perdeu o espírito de se basear estritamente no Sutra do Lótus, mostrando-se tolerante em relação aos ensinamentos errôneos de outras escolas como Palavra Verdadeira, Terra Pura (Nembutsu) e Zen.
60. Escola Palavra Verdadeira: Escola japonesa budista fundada por Kobo (774–835), também conhecido como Kukai, que segue as doutrinas e práticas esotéricas do Sutra Mahavairochana e do Sutra Coroa de Diamantes.
61. Insho-bo: Detalhes sobre a sua pessoa são desconhecidos.
62. HEINE, Heinrich. Die romantische Schule [A Escola Romântica]. In: Sämtliche Werke [Obras Completas]. KAUFMANN, Hans (ed.). Munique: Kindler Verlag, v. 9, p. 149, 1964.
63. Em Abertura dos Olhos, Daishonin declara: “Eu serei o pilar do Japão. Eu serei os olhos do Japão. Eu serei a grande nau do Japão. Este é o meu juramento, e jamais renunciarei a ele!” (CEND, v. I, p. 293).
Compartilhar nas