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há 15 horas

Ser feliz em primeiro lugar! Tudo começa a partir desse ponto

Seikyo Shimbun

09/06/2025

Ser feliz em primeiro lugar! Tudo começa a partir desse ponto

Alunos do quarto e quinto anos do ensino fundamental 1 que frequentam a Escola Eça de Queiroz com muita energia. A instituição é encarregada dos anos iniciais do ensino fundamental (equivalente ao ensino do primeiro ao quinto ano do primário do Japão) do sistema educacional do Brasil. Foto — Seikyo Shimbun

Em 06 de junho de 2025, aniversário natalício de 154 anos do Prof. Tsunesaburo Makiguchi, Seikyo Shimbun lança série especial sobre as práticas da educação Soka no Brasil. Nesta edição, conheça a história da Escola Estadual Eça de Queiroz, em Diadema

“Os olhos falam tanto quanto a boca” é um provérbio japonês que também se aplica ao Brasil.

Podíamos observar os olhos das crianças que chegavam à Escola Eça de Queiroz, tentando passar primeiro pelo portão principal, sob o olhar atento dos professores e funcionários que recebiam cada uma delas com abraços. O “bom-dia” sonoro como o cantar dos passarinhos da manhã transmitia uma sensação calorosa que ia além de um cumprimento matutino.

“Empenhamo-nos para que as crianças se sintam abraçadas e bem-vindas à escola”, declarou o diretor da instituição, Prof. Edimício Flausídio Silva.

“Isso porque uma de nossas crenças é agir pensando constantemente: ‘Se fosse o Prof. Makiguchi, o que ele faria?’.” Assim dizendo, ele apontou para um monitor instalado no hall de entrada, que mostrava a ilustração de Makiguchi sensei.

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Em seguida, ele apresentou o Espaço Professor Tsunesaburo Makiguchi, inaugurado na escola em junho de 2021. O espaço possui brinquedos que permitem aos alunos movimentarem o corpo inteiro. Além disso, conta com uma horta onde eles podem aprender sobre a relação do alimento com a vida. E, ainda, há um espaço de diálogo com água correndo e muito verde, idealizado pelo diretor Silva.


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Como o diretor Silva, católico devoto, conheceu a educação Soka? Ele revela que foi por meio do Projeto Makiguchi, promovido pela Coordenadoria Educacional da BSGI em todo país desde 1994. O diretor põe em prática uma educação socioemocional na qual crianças, professores e pais trabalham juntos para realizar jardinagem, fazer trabalhos manuais, desenvolver teatro criativo, entre outras atividades alicerçadas na teoria educacional Soka, que estabelece como máxima prioridade a “felicidade das crianças”. Até hoje, mais de 920 escolas e 210 mil crianças e alunos passaram por essa experiência, a qual foi muito bem avaliada.

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Apenas no município de Diadema cinco escolas implementaram o projeto em meados dos anos 2000. Na época, o Prof. Edimício era um dos responsáveis pela Diretoria de Ensino de Diadema. A partir de então, disse: “Comecei o intercâmbio com o pessoal da SGI e tomei conhecimento sobre o Prof. Makiguchi”. Ele explica que ficou admirado ao saber que a educação Soka foi sucedida pelo segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, e pelo terceiro presidente, Daisaku Ikeda, e se expandiu para o mundo. Em 2005, a Diretoria de Ensino concedeu o título de Educador Emérito ao presidente Ikeda. E, no ano seguinte, o município recebeu o Dr. Ikeda e sua esposa, Kaneko, como cidadãos honorários.

Posteriormente, o diretor Silva continuou estudando sobre a educação Soka, assumindo o atual posto em 2020. Em paralelo aos trabalhos da escola, Silva escreveu e publicou um livro que retrata os pontos em comum entre o pensador brasileiro Paulo Freire e o professor Makiguchi.


Rumo à superação dos desafios no campo educacional


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“Esses dois grandes educadores [Paulo Freire e Tsunesaburo Makiguchi] se empenharam para que a pobreza e outras dificuldades não gerassem desigualdades de aprendizado entre as crianças. Por meio da aprendizagem baseada no diálogo, buscaram cultivar ‘seres humanos criativos’ e promover a transformação rumo a uma sociedade democrática e pacífica. Mesmo diante da perseguição por parte do poder político, nunca se curvaram e continuaram lutando pelo povo”, afirmou o diretor Silva.

Os desafios que a sociedade brasileira enfrenta atualmente são a desigualdade econômica e a desigualdade educacional. Há apontamentos que mostram que o ambiente precário causado pela pobreza é uma das causas da alta incidência de crimes juvenis. Muitos pais que não receberam educação adequada não percebem a importância da escola e, com frequência, priorizam o trabalho doméstico dos filhos. O papel dos professores também é subestimado e seus salários não condizem com a carga de trabalho intensa. E a cidade de Diadema não é exceção a essa realidade.

“É justamente por conta desse cenário que, por meio da educação Soka, quero compartilhar com as crianças a ‘felicidade de aprender’, com os pais e responsáveis a ‘importância da educação’ e com os professores e funcionários a ‘confiança e disposição’”, enfatizou o diretor.

Por exemplo, em uma aula, aproveitam a horta escolar. Primeiro, o professor pergunta: “Qual é a merenda favorita de vocês?”. Então, juntos, pensam no cardápio. Isso abre a ‘porta do interesse’ das crianças e leva ao cultivo de vegetais. Elas aprendem que criar uma vida exige muitos preparativos e cuidados. Encontram-se com os cozinheiros da escola e ouvem suas histórias. Saboreiam a merenda feita com os vegetais com os colegas e professores. Ao verem os sorrisos de todos, a alegria se multiplica. Sentem que a comida também enriquece o coração. Algumas crianças, motivadas por essa experiência, até se arriscam a cozinhar em casa.

De um simples pedaço de vegetal nascem muitas relações e se cria valor. Os professores concentram seus esforços em fazer com que os alunos vivenciem esse processo, e que isso traga uma mudança na consciência e nas ações de cada um deles, dispondo-se de sua criatividade e sabedoria para isso.

Além do mais, como parte da incorporação prática dos princípios dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as famílias dos alunos colaboram na coleta de lacres de latas e de tampas garrafas PET. Esses materiais são trocados por dinheiro, usado para comprar cadeiras de roda ou apoiar tratamentos contra o câncer.

A escola também se dedica à alfabetização e à educação em habilidades linguísticas. A riqueza das palavras é a base que dá tanto a profundidade ao “'pensamento” — o diálogo interno consigo — quanto a riqueza na comunicação com os outros. O princípio do professor Makiguchi era “Sem educação intelectual, não há educação moral”.

Na placa instalada no Espaço Professor Tsunesaburo Makiguchi está gravada a crença do educador: “As crianças devem ser felizes na escola”.

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Chega a hora de as crianças saírem da escola e os responsáveis buscarem-nas. Um aluno começou a falar, “Sabe, na aula de hoje aconteceu isso...”. A mãe ouvia atenta com um sorriso no rosto. Ambos foram caminhando para a casa de mãos dadas. As costas de mãe e filho nos contaram uma história de felicidade verdadeira.

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