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Série
há 2 anos
Takasugi Shinsaku
Heróis que superaram adversidades - Parte 16
Redação
02/10/2023

“Apenas não diga que está perdido.” Essa era sua crença.
Ficar parado lamentando que está em apuros não resolve nada. Somente quando damos um passo adiante, tanto a vida como a época começam a se mover. “É bom as pessoas se encontrarem num beco, pois, assim, conseguem visualizar uma saída numa direção inesperada.” “O que sei é que a verdadeira satisfação se encontra em meio ao sofrimento.”
Shinsaku disse certa vez: “Numa batalha, se você iniciá-la um dia antes, terá a vantagem de um dia. Antes de tudo, deve lançar-se a ela. As ideias podem vir depois disso”.
Seu nome é Takasugi Shinsaku. Patriota de destaque, nascido em Choshu (atual província de Yamaguchi) durante um período turbulento da história do Japão, foi também discípulo de Yoshida Shoin, pensador do fim do xogunato Tokugawa.
A vida de Shinsaku, o qual passou rápido por um mundo agitado, mas o marcou com suas ideias excêntricas e ações ousadas, ainda fascina as pessoas.
Aos 19 anos, ele entrou para a academia Shokason-juku. Aplicado, empenhou-se arduamente e acabou se destacando entre seus companheiros. Estudou com seu mestre apenas por um ano. Não chegava a cem a quantidade de alunos na academia, e a sala de aula, no início, era apertada, de oito tatames [aproximadamente 13 m2]. Contudo, foi a partir dali que surgiram muitos jovens talentosos que se lançaram ao palco da mudança da história.
Em outubro de 1859, seu mestre Shoin foi alvo da Purga Ansei [1858~1860] e condenado à morte, tendo seus propósitos interrompidos. Shinsaku registrou sua ira e sua dor dilacerante enxugando lágrimas de sangue: “Dia e noite, apenas choro copiosamente, lembrando-me de meu mestre”.
Quatro anos depois, no Dia de Ano-Novo, os restos mortais de Shoin, o qual havia sido enterrado como um criminoso, seriam removidos e enterrados em outro local. No trajeto, um guarda parou o grupo que o carregavam. Disse que a ponte por onde atravessaria servia aos generais, portanto não poderia permitir que algo impuro passasse por ali. Shinsaku bradou, furioso: “O que ousa dizer!? Estamos transportando os restos mortais de um leal súdito para ser enterrados! Mesmo que eu morra, jamais perdoarei alguém que insulta o grandioso mestre!” Diante do fervoroso espírito de Shinsaku, o guarda recuou imediatamente.
Shinsaku declamou perante o túmulo do seu mestre: “Estou envergonhado porque ainda não consegui vingar meu mestre. E, definitivamente, farei isso!”.
Numa vida devotada à relação de mestre e discípulo, não existe medo nem hesitação. No coração do discípulo de unicidade flamejava ardentemente o espírito de luta para “vingar o mestre”.
“Se for se mover, seja como o raio e o trovão; se for se lançar, seja como uma tempestade.” Não perder tempo e agir com a velocidade da luz — esse era o verdadeiro valor do herói dos tempos difíceis Takasugi Shinsaku, que criou a fama de ser “imbatível em qualquer batalha”.
Seu mestre, Yoshida Shoin, defendeu o So-mo-kukki cujo significado indica que, quando o povo se levanta, manifesta uma força descomunal. Shoin dizia que a origem disso estava em Nichiren Daishonin. Shinsaku, que herdou esse conceito, fundou em junho de 1863 o Kiheitai [milícia irregular]. A condição para ingressar nele não era o status nem a experiência, mas se a pessoa possuía ou não a “aspiração”.
Em março de 1864, Shinsaku é preso pelo crime de se tornar um samurai sem um senhor. Ele foi enviado, misticamente, para Noyamagoku, a mesma prisão em que Shoin ficou.
No jovem espírito de Shinsaku não havia um pingo de pessimismo ou de tristeza, conforme se percebe pelas suas palavras: “Seguindo meu mestre, finalmente estou em Noyamagoku”. Mesmo estando na prisão, em seu coração brilhava a confiança e o orgulho de que estava sucedendo seu mestre, concretizando as aspirações dele.
Após suportar três meses no cárcere, ele foi finalmente libertado. Pouco tempo depois, quando da primeira expedição de Choshu [expedição militar punitiva do xogunato Tokugawa contra o domínio Choshu], preocupado com a trágica situação de sua terra natal, que sucumbira ao xogunato, ele se muda de Kyushu, onde estava exilado, para Shimonoseki.
Shinsaku se levantou sozinho, bradando: “Vamos salvar nossa terra e lutar pela justiça!”. De início, oitenta pessoas responderam ao seu chamado, e a legião de pessoas que se juntou a eles chegou a 3 mil integrantes. A situação mudou completamente, e o processo para a derrubada do xogunato se acelerou.
Em 1866, irrompeu a segunda expedição Choshu. Nessa ocasião, apesar de bem menor, o exército de Choshu derrotou as forças do xogunato, compostas por cerca de 150 mil homens, com o poder da união. O fascinante drama de reviravolta que “tornou possível o impossível” se transformou em um sino do alvorecer que anunciava a grande mudança rumo à Restauração Meiji.
No entanto, enquanto todos transbordavam de euforia, uma nova provação assolava Shinsaku. Ele cai enfermo com tuberculose, doença incurável na época.
É nesse período que Shinsaku compõe em seu leito o famoso poema:
Tornar divertido
o mundo que nada tem
de divertido.
Um poeta que fora visitá-lo, respondeu, então, com outro poema:
Aonde chegar,
tudo depende
do coração.
De nada adianta ficar lamentando as circunstâncias que cercam sua vida. Onde a vida encontrar impasse — tudo se definirá da maneira como conduz seu coração.
Shinsaku faleceu aos 27 anos, em abril de 1867, sem ter visto o alvorecer do Japão moderno. Dizem que ele, que realizou os ideais do seu mestre e o vingou, repetiu várias vezes a um companheiro que foi visitá-lo pouco antes de ele morrer: “Chegamos até aqui, por isso o importante é a partir de agora. Continuem firmes na luta, continuem firmes na luta”.
Reflexões do presidente Ikeda sobre Takasugi Shinsaku
O mestre de Daisaku Ikeda, professor Josei Toda, colocou Takasugi Shinsaku no topo da lista das “pessoas da história com quem gostaria de se encontrar e de dialogar”. Ele espelhou, no aspecto real da relação de mestre e discípulo de Shinsaku com Yoshida Shoin, sua relação com o professor Tsunesaburo Makiguchi e também a ligação dele com Ikeda sensei.
Em outubro de 1956, cem anos após Shoin iniciar suas palestras no Shokason-juku, o jovem Daisaku Ikeda dá seu primeiro passo na campanha de propagação em Yamaguchi, a pedido de Toda sensei.
Na época, Ikeda sensei estava com 28 anos. Em seu diário, registrou sua determinação de realizar uma feroz batalha para conquistar resultados de grandes proporções: “[Sensei] disse-me também que no próximo mês deveríamos realizar uma campanha de propagação intensa na prefeitura de Yamaguchi. Assumirei total responsabilidade… Lutarei como Yoshitsune ou Shinsaku. Será uma batalha pela Lei que ficará na história” (em 5 de setembro de 1956).1
Anos depois, sensei relembrou:
Quando Toda sensei me pediu para que eu liderasse a “campanha de propagação de Yamaguchi”, antes de tudo, corri para Shimonoseki, em Okayama. (...) Lá, conclamei todos a lutar como “Shinsaku”, que se ergueu em Shimonoseki. Vamos salvar o povo! Vamos derrotar os inimigos. Vamos aumentar os aliados!
Em quatro meses, a partir de então, nessa Yamaguchi, estabeleci uma história de criação e de expansão de dez vezes mais “valores humanos” da justiça. O verdadeiro discípulo é aquele que supera todas as mais árduas batalhas e reverbera seu grito de vitória para o mundo.2
E sensei veio transmitindo aos companheiros o modo de viver do discípulo que pode ser aprendido com Shinsaku:
[Shinsaku] Venceu o exército do xogunato um ano antes de sua morte e abriu o caminho para a mudança total da história com o fim do xogunato e a restauração. O importante é o discípulo. Tudo se define com os discípulos. (...) A legião de união de diferentes em corpo, unos em mente que tem como cerne a “relação de mestre e discípulo” é a mais poderosa de todas. Se seguirmos com essa regra básica, em cem batalhas conquistaremos cem vitórias.3
Shinsaku conseguiu vingar seu mestre.
Josei Toda também jurou vingar seu mestre, Makiguchi, que morreu atrás das grades após ter sido preso pelas autoridades militares japonesas durante a Segunda Guerra Mundial, e ele depois estabeleceu os alicerces para o kosen-rufu do Japão. De minha parte, vinguei Toda sensei propagando a suprema filosofia de paz da Lei Mística no mundo inteiro. Comprovar a integridade do mestre — essa é a nobre tradição dos discípulos Soka.4
Enquanto houver mestre e discípulo, não haverá batalha invencível! Não haverá montanha intransponível!
O aspecto de um herói que não sucumbiu diante das muitas adversidades inspira continuamente o espírito daqueles que, como nós, desafiam o cume de íngremes montanhas.
No topo: Ikeda sensei visita o local histórico em que ficava a academia Shokason-juku na cidade de Hagi, província de Yamaguchi (ago. 1964). Foto: Seikyo Press
Notas:
1. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2016. p. 355.
2. Do artigo “O Resplendor do Século da Humanidade”, publicado no Seikyo Shimbun, em 19 de dezembro de 2007.
3. Do discurso proferido durante a 3ª Reunião de Líderes da Divisão dos Jovens da 2ª Etapa do Kosen-rufu, em 28 de novembro de 2007.
4. Do discurso proferido durante a 20ª Reunião de Líderes, publicado no Brasil Seikyo, edição 1.956, de 20 de setembro de 2008.
Materiais de pesquisa:
TOYAMA, Mitsuru; ITO, Chiyu; TANAKA, Mitsuaki. Yoshida Shoin to Choshu Goketsu. Kokusho Kankokai.
IKEDA, Satoshi. Takasugi Shinsaku to Gensui Kusaka. Yamato Shobo.
ICHISAKA, Taro. Shinsaku Goroku. Daisanbunmei-sha.
Idem. Yoshida Shoin to Shinsaku Takasugi no Kokorozashi. Best-sellers KK.
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