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Na prática

Como o budismo nos ajuda a superar momentos de profundo sofrimento

Os ensinamentos de Nichiren Daishonin foram estabelecidos para ajudar as pessoas a encontrar clareza diante dos incessantes fatos da vida, capacitando-as a reunir sabedoria e energia criativa para transformar os reveses do cotidiano em possibilidade de avanço, mesmo com pequenos passos. Além disso, compreendemos que as adversidades estão presentes na vida de todos e que imperiosamente podemos ter importantes aprendizados em tempos de sofrimento —, e a prática budista é uma aliada importante para as pessoas superar e suportar seus dramas com sabedoria. Nesse sentido, Na Prática da edição apresentará o princípio budista “transformação da fé em sabedoria” (ishin-daie, em jap.), para que, em momentos de desventura, a fé budista seja convertida em ação sábia.

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Redação

01/11/2023

Como o budismo nos ajuda a superar momentos de profundo sofrimento

Todos passam por desafios

A dor e o sofrimento são sensações [desconfortáveis] das quais os seres humanos certamente vão enfrentar. Como apresentado anteriormente, todos podem, a partir desses eventos, absorver, ponderar e transformar essa condição. E o desconforto pode despertar nas pessoas o senso da perseverança, a capacidade para lidar com determinadas circunstâncias e também a resiliência (habilidade de se adaptar aos dramas da vida). Para a psicóloga e pós-graduanda em Atendimento de Casal e Família na Abordagem Sistêmica, pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ana Paula Dias, é essencial que as pessoas que passam por uma situação difícil encarem o sofrimento. “Precisamos perceber que isso faz parte do mundo e vai acontecer com qualquer um. Então, devemos enfrentar e viver essa dor, porque, a partir disso, conseguimos entender o que está acontecendo. ‘Para mim, são os melhores professores da existência’”,1 revela.

Ou seja, podemos, diante de uma circunstância, adquirir sabedoria emocional e espiritual, pôr em prática essa sapiência, e converter tudo em aprendizado. Por esse motivo, o budismo praticado pelos membros da Soka Gakkai Internacional (SGI) se torna um notável instrumento para reunir a sabedoria necessária para os momentos de desventura. Na sequência, vamos entender mais essa afirmação.

Direcionar o coração a algo grandioso

No século 13, o coração de Nichiren Daishonin se angustiava com o sofrimento do povo japonês em um período de extremas calamidades que assolavam o país — grande terremoto, peste, inundação, fome, clima anormal, e iminente guerra civil. Para imprimir esperança naquelas pessoas, Daishonin propagou o Nam-myoho-renge-kyo, com o propósito de despertar nelas força, sabedoria e coragem para que superassem tempos de grandes provações. No romance Nova Revolução Humana, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, retrata o espírito combativo e abnegado de Daishonin:

— Nichiren foi um líder budista que se levantou com o propósito de salvar o Japão numa época em que a população sofria com desastres naturais e estava atemorizada sob a ameaça de uma iminente revolta interna e invasão estrangeira. Ele defendia a ideia de que os homens são a base de uma sociedade e de uma nação, e ensinou o princípio filosófico que faz com que o coração humano passe da destruição para a construção, do egoísmo para o altruísmo, da passividade para a ação, a fim de transformar o povo no protagonista da sociedade e do estabelecimento da paz perene.2

Guardada as devidas diferenças de época, atualmente, a humanidade vivencia dramas igualmente profundos. Conflitos de décadas se acentuando, mudanças climáticas e incertezas econômicas, além de eventos cotidianos enfrentados pelas pessoas como o desemprego, fragilidade na saúde física e mental, desarmonia nas relações, entre outras situações complexas.

Por essa razão, os ensinamentos budistas apresentam o princípio de “transformação da fé em sabedoria” (ishin-daie, em jap.). Conforme o conceito, sabedoria é muito mais ampla e profunda que “inteligência” ou “conhecimento”. Sobre isso, o presidente Ikeda diz: “No budismo, fé significa ter um coração límpido, flexível e aberto. Fé é a função da vida humana que dispersa as nuvens escuras da dúvida, da angústia e do arrependimento e direciona o coração a algo grandioso”.Isto é, uma pessoa de fé é aquela que cultiva uma verdadeira personalidade e se mantém emocionalmente equilibrada em todos os momentos da vida, mesmo diante de uma grande dificuldade. E a fé é convertida em sabedoria quando buscamos soluções para esses impasses, não importando quantas vezes tenhamos tentado. Portanto, a fé nos torna pessoas radiantes e determinadas, e a sabedoria nos conduz à melhor resolução com a convicção de que a vitória é certeira.

A seguir, vamos compreender o princípio pela perspectiva do presidente Ikeda.

Emanar inabalável energia da vida

Ao suportamos as adversidades, aparentemente intransponíveis, especialmente nos momentos de grande apreensão, e recitarmos daimoku com fé [acreditar no potencial inerente para transformar a situação], uma inabalável energia da vida é emanada, e manifestamos a sabedoria capaz de traçar caminho que conduz a soluções para os impasses enfrentados. Além disso, com sabedoria, tornamos essa experiência adversa em rico aprendizado. A esse respeito, Ikeda sensei afirma:

O budismo ensina o princípio de “transformar fé em sabedoria”. Uma oração poderosa faz emergir sabedoria. Por favor, avance com a recitação de daimoku em primeiro lugar, acreditando em si mesma e com fé no Gohonzon mais que qualquer outra pessoa.4

Como Ikeda sensei menciona, a energia vital é importante para a transformação da fé em sabedoria. E ele vai além:

O grande poeta romano Virgílio (70–19 a.E.C.) escreveu: “Não se deve dar lugar a essas adversidades, mas sim enfrentá-las ainda mais corajosamente onde quer que sua boa sorte o permitir.” Este é o segredo para afugentar a infelicidade, disse Virgílio. (...)
Jean-Christophe, herói do romance de mesmo nome de Romain Rolland (1866–1944), brada: “Como é bom ser forte! Como é bom sofrer quando se é forte!” Ele também diz: “Deixe que me façam sofrer!... O sofrimento também é vida!” Uma pessoa forte, que tem uma forte energia vital, transforma todos os sofrimentos e tristezas em um elemento essencial para a felicidade. (...)
Não há vida livre de sofrimentos. Em nossas atividades da SGI, em nosso trabalho e em nossa vida em geral, somos confrontados, em certo sentido, por uma contínua série de problemas e sofrimentos. Mas a Lei Mística é a Lei maravilhosa que transforma todos esses sofrimentos em elementos e causas essenciais para a felicidade. (...)
Consequentemente, é importante passar por amargas dificuldades. A tristeza, a dor e as batalhas são algo que ninguém pode evitar. A única maneira de atingir a felicidade é marchar inflexivelmente. (...) O objetivo da fé é nos tornar ainda mais fortes.5

Conheceremos no trecho seguinte, a história da Cristina Serravalle, uma carioca guerreira, que extrai sabedoria do daimoku há quarenta anos.

Converter fé em sabedoria e coragem

Meu nome é Cristina Serravalle, mas alguns me chamam de Tina, e moro no Flamengo, bairro do Rio de Janeiro. Às vezes, perguntam-me como cheguei a essa condição de enxergar o mundo com lentes coloridas. Logo eu, que nasci de cesariana, saindo da maternidade com 900 gramas, frágil demais e com a formação dos olhos incompleta. Tinha dificuldade para engolir (disfagia) e outras sequelas.

Eu me considero uma pessoa irreverente, feliz com o que a vida me proporciona. Aprendi tudo isso no budismo. Minha mãe foi a primeira a encontrar a Soka Gakkai no período em que eu estava com 26 anos e cursava letras. Isso aconteceu em 1982, e só depois de dois anos decidi me converter ao budismo, em uma data para ficar na história: 24 de agosto, a mesma data de conversão do presidente Ikeda.

Na adolescência, por consequência do glaucoma, fiquei cega. No meio desse caminho, a música surgiu em minha vida. E hoje, o violão se tornou meu fiel companheiro. Nessa época, eu era muito tímida. No entanto, aos poucos, a voz quase inaudível foi ganhando força, sempre à base de muito incentivo e daimoku. A partir de então, o Nam-myoho-renge-kyo passou a ser meu canto da vitória.

Nunca vi a deficiência como barreira, pois a prática budista sempre me proporcionou força e sabedoria. Por isso, após cursar letras, eu me formei também em direito. Hoje, ainda trabalho, e na área de administração de imóveis. Além disso, com o coração alegre, falo com muita naturalidade sobre o Budismo Nichiren para as pessoas. Por fim, no ano que vem completo quarenta anos de Soka Gakkai. Sigo confiante, visualizando 2030. Quero chegar lá radiante e feliz.

Diante da perda da visão na juventude, praticar o Budismo Nichiren foi determinante para Cristina converter fé em sabedoria, e enfrentar com muita coragem uma nova e desafiadora circunstância de vida. No próximo trecho, Ikeda sensei apresenta diretrizes para que as pessoas manifestem plena determinação em momentos de sofrimento, tanto pela felicidade de si como das pessoas ao redor.

Indicação para a vitória

Oração em primeiro lugar

O primeiro ponto é “toda vitória começa com a oração”. No salão principal do auditório, o qual pode ser observado pelo retrato de Makiguchi sensei e de Toda sensei, minha esposa e eu recitamos gongyo e daimoku de forma solene, manifestando gratidão à virtude da “devoção abnegada pela propagação da Lei” dos primeiros presidentes. Ao mesmo tempo, oramos sinceramente pela concretização do grande desejo do kosen-rufu mundial e pela felicidade e vitória dos precisos amigos (...) de todo o país e do mundo inteiro. Nichiren Daishonin declara: “Os benefícios do Sutra do Lótus, que venho recitando durante estes vários anos, têm de ser mais vastos que o céu”.6 É imensurável o daimoku para si e para os outros que nós, mestre e discípulos Soka, recitamos com o mesmo juramento do desejo de Daishonin, que visa o kosen-rufu e “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra”. Esses benefícios são equivalentes a abraçar grandiosamente este planeta azul.

Empenhar-se na prática e no estudo do budismo

O segundo ponto é que toda luta pelo kosen-rufu é para a própria revolução humana. (...) Em agosto [1957], sessenta anos atrás, (...) [Toda sensei] incentivou os amigos recém-convertidos e orou para que todos pudessem experimentar a alegria da prática da fé. Na diretriz para cada um realizar sua prática da fé para conquistar a felicidade se encontra o foco perspicaz de Toda sensei. Para isso, ele nos ensinou a agir como bodisatvas da terra e a enfrentar as dificuldades. Tal como a rotação do nosso planeta Terra e da translação em volta do Sol, a revolução humana e o kosen-rufu em conjunto magnífico criam ilimitados seres humanos de valor. (...) Empenhar-se com coragem diariamente nos dois caminhos da prática e do estudo, pela ampla propagação da Lei e para “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra” — são as dinâmicas atividades da Soka Gakkai que conduzem todos a transformar o destino e a alcançar a condição de felicidade absoluta.7

Experimentar uma incrível sensação de paz e de satisfação

Como vimos no decorrer da matéria, impreterivelmente todos enfrentarão desafios ao longo da jornada. Defrontá-los com resoluta determinação e ainda assim extrair importantes aprendizados — tal como mencionado pela psicóloga Ana Paula Dias — serão em decorrência de vasta condição de vida. E a prática budista é uma aliada poderosa para converter fé em sabedoria em momentos de profunda dor —, assim como a Tina fez para transformar o sabor amargo da notícia da perda da visão, em oportunidades de autoconhecimento para enfrentar e superar aquele drama.

Ikeda sensei reitera que a oração em primeiro lugar, a prática e o estudo do budismo são fundamentais para que se extraia energia e sabedoria do âmago da vida: “Quando conseguimos superar um obstáculo, podemos experimentar uma incrível sensação de paz e de satisfação. Em contrapartida, essa condição de vida não chega nunca para aqueles que se esquivam das dificuldades, tentando evitar os desafios”.8

Ele diz ainda: “Em meu interior, cultivo romantismo e emoções. Com a minha sabedoria de mortal comum, não conseguirei grandes feitos. Mas, convencido de que a fé se transforma em sabedoria, recito daimoku com o coração sincero e compenetrado, e eu me esforço ao máximo pela causa da reconstrução”.9

Dessa forma, com a recitação constante do daimoku repleta de intensa fé, o estudo do budismo para compreender com profundidade a dinâmica insondável da vida e o contato com as orientações de Ikeda sensei para acalentar o coração e a mente inquietos, transforme desespero (sofrimento) em esperança, esperança em sabedoria, sabedoria em ação — e o resultado certamente será de grande progresso e importantes aprendizados.

No topo: "Não há vida livre de sofrimentos. Em nossas atividades da SGI, em nosso trabalho e em nossa vida em geral, somos confrontados, em certo sentido, por uma contínua série de problemas e sofrimentos. Mas a Lei Mística é a Lei maravilhosa que transforma todos esses sofrimentos em elementos e causas essenciais para a felicidade" Foto: Getty Images

Notas:

1. Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/especialistas-indicam-que-possivel-aprender-com-sofrimento-22815802.html. Acesso em: 13 out. 2023.

2. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 6, p. 88, 2019.

3. Idem. Preleção dos Capítulos Hoben e Juryo. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2001. p. 60.

4. Idem. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 29, p. 328, 2020.

5. Brasil Seikyo, ed. 1.276, 11 jun. 1994, p. 3.

6. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 338, 2017.

7. Brasil Seikyo, ed. 2.371, 13 maio 2017, p. B2-B3.

8. Terceira Civilização, ed. 491, jul. 2009, p. 42.

9. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 74.

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