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há 15 horas

“Eu serei o melhor ambiente educacional!”

Relatório sobre a Educação no Brasil - partes 7 e 8

Redação | Seikyo Shimbun

03/11/2025

 “Eu serei o melhor ambiente educacional!”

Educadora comunicativa, considerada “mãezona”, determina: “Na próxima existência, quero ser da Divisão das Mulheres de Kansai!”

Vera Lobo, funcionária da Secretaria de Educação do Estado do Pará e responsável pela Divisão Feminina de subcoordenadoria, é uma autêntica integrante da Soka Gakkai. Seu bordão é: “Cumprirei minha missão nesta existência aqui, e na próxima quero ser da Divisão das Mulheres de Kansai, no Japão!”. Com roupas de estampa de oncinha, ela lembra uma “mãezona de Osaka”.

vera

Conectando as crianças e o planeta por meio do aprendizado

Nascida e criada em Belém, PA, Vera, aos 62 anos, é conhecida por todos na cidade. A cada pessoa que encontra, ela cumprimenta: “Olá! Está tudo bem contigo?”, “Tem algo te incomodando? Não aguente tudo sozinho, viu?”.

Com quem compartilha o budismo, ela diz: “Experimente recitar Nam-myoho-renge-kyo! Vai sentir seu coração mais leve!”.

Até chegar ao seu trabalho na Secretaria de Educação, Vera conversa com muitas pessoas. Com o celular na mão, ela comenta entusiasmada: “Olha só, aquele jovem com quem troquei contato agora há pouco já me mandou mensagem!”.

Com sua alegria contagiante e seu jeito acolhedor, já inspirou cerca de cinquenta pessoas a se tornar integrantes da Soka Gakkai.

Os colegas de trabalho a descrevem como “dinâmica” e “uma pessoa que conecta as pessoas”. Seu gestor disse, sorrindo: “Ela tem uma escala Amazônica!”.

Formada pela renomada Universidade Federal do Pará, tornou-se professora. Por trinta anos, atuou em escolas públicas de ensino fundamental 2 e médio, ensinando espanhol e praticando a educação humanística baseada no sistema educacional Soka.

Em 2017, com a reforma do ensino médio no Brasil, foi introduzido o programa Projeto de Vida, que incentiva os alunos a refletir sobre o propósito da vida, o valor da vida e a conexão com o meio ambiente local e global.

Ao ser escolhida para coordenar esse projeto na escola, Vera exclamou: “Isso tem tudo a ver com o movimento educacional que a Soka Gakkai vem promovendo!”.

Sentindo a conexão

A educação Soka é uma teoria educacional apresentada ao mundo há cerca de um século pelos primeiros presidentes da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda. Ela define o propósito da vida como a felicidade e acredita que todos possuem na própria vida o poder de criar ilimitado valor.

Para conduzir uma vida feliz, é essencial cultivar e harmonizar a inteligência e o caráter, capazes de criar valor na vida e na sociedade. Por isso, a educação Soka utiliza como palco o “lugar onde a criança vive” — ou seja, sua comunidade — e transforma os costumes locais, a natureza e a história em materiais vivos de aprendizado, permitindo que os alunos sintam a conexão entre a sua realidade e o mundo.

Além disso, os educadores se envolvem de forma integral com os alunos, planejando e analisando as aulas continuamente, para cada criança e cada jovem escolherem, por si mesmos, um modo de vida que contribua com as pessoas e a sociedade. Essa é a essência da educação Soka.

Vera pôs essa filosofia em prática. De fato, tanto a escola quanto a comunidade passaram por melhorias significativas. Em 2023, esse impacto chamou a atenção da Secretaria de Educação do Estado do Pará — justamente no ano em que Belém foi escolhida como sede da COP 30, Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.

A pedido da Secretaria, Vera foi nomeada coordenadora de Educação Ambiental. A partir do ano seguinte, a disciplina de educação ambiental tornou-se obrigatória em todas as séries das escolas estaduais, sendo também adotada por diversos municípios.

Para que o conteúdo fosse interdisciplinar, ela se dedicou à criação de materiais que conectassem o tema à história e ao ensino de línguas. Ela também lançou o movimento dos cartazes ambientais, que usa a arte para aprofundar a consciência ecológica de forma divertida. E, em parceria com o Instituto Soka Amazônia, promoveu a exposição ambiental Sementes da Esperança e Ação em três locais da cidade.

Círculo de livros

Da Secretaria, Vera segue para a escola municipal Maria Eloíza de Castro. “Tem companheiros que praticam a educação Soka aqui também!”, diz ela com entusiasmo.

Na sala do segundo ano do ensino fundamental 1, há um tapete redondo e colorido com vários livros dispostos em círculo. São obras que retratam com emoção e sensibilidade a vida de seres humanos e animais, e a importância da natureza.

Lá, a professora Odila Monteiro Bittencourt, responsável pela Divisão Feminina de distrito, convida os alunos: “Vamos escolher livremente um livro que pareça interessante!”.

As crianças pegam os livros e começam a ler com entusiasmo. Depois, colocam o livro escolhido em uma ecobag artesanal feita por Odila e o levam para casa.

No fim de semana, os alunos pedem aos familiares que leiam o livro para eles. Na semana seguinte, compartilham com os colegas da turma a alegria e a emoção que sentiram com a leitura.

Precisa ser feliz

Odila valoriza a leitura não apenas como uma “fonte de informação”, mas como uma “janela que conecta vidas”.

Para alcançar os objetivos da educação ambiental, mais que conhecer os problemas, é essencial sentir a riqueza da natureza e da vida. Essa sensibilidade só pode ser cultivada quando se experimenta a “felicidade de estar conectado com pessoas e com a natureza”.

Talvez por isso, Odila nunca deixa de sorrir. Ela sempre transmite palavras calorosas como “Que livro maravilhoso você escolheu!”, “Ao ouvir sua impressão, meu coração também ficou aquecido!”, “Muito obrigada!”. Afinal, o princípio da educação Soka é “A criança precisa ser feliz na escola”.

Muitas crianças que não gostavam de estudar mudaram completamente graças ao envolvimento de Odila. Antes das férias de verão, chegaram a dizer: “Ah não! Eu quero continuar indo à escola!”.

A diretora da escola, Arlene Figueiredo, expressa sua gratidão: “O coração humano e a sabedoria da professora Odila criam um ambiente educacional maravilhoso para nossas crianças”.

Várias visitas

A questão ambiental, por um lado, é uma luta contra o sentimento de desistência. Muitos pensam: “Não adianta, eu sozinho não posso fazer nada”. No Brasil, a desigualdade econômica também gera desigualdade educacional, o que contribui para esse sentimento de desistência.

Na escola estadual Acácio Felício Sobral, algumas famílias enfrentam dificuldades financeiras. Há pais que dizem: “Estudar não é necessário”. Então, colocam os filhos para trabalhar.

Mas Vera declara, com firmeza: “Mesmo nesse meio, esse professor jamais desiste. Ele é uma pessoa com espírito de Maketara akan (‘jamais ser derrotado’)!”.

Na entrada da instituição, o professor de matemática Paulo Rocha, responsável de RM pela Divisão Sênior, dá as boas-vindas a todos. Ao seu redor, muitas crianças sorridentes se aproximam.

Paulo

Segundo Vera, “Paulo foi várias vezes à casa dessas crianças. Ele acreditou nelas, incentivou os pais e construiu uma relação de confiança. (...) É realmente um ‘mestre da visita familiar’!”.

Você consegue!

Belém também enfrenta desigualdades econômicas e educacionais. Há alunos que desistem de estudar pensando: “Eu não sou capaz”. Há pais que colocam seus filhos para trabalhar, acreditando que “estudar não é necessário”.

“Mas, sabe, esse professor é alguém que continua incentivando os alunos, dizendo Maketara akan! (‘jamais seja derrotado!’)”, conta Vera. Ela se referia ao professor de matemática Paulo Rocha, responsável pela Divisão Sênior de RM, da Escola Estadual Acácio Felício Sobral.

Todos os alunos dizem em uníssono: “A forma como o professor Paulo ensina é fácil de entender e divertida!”.

O educador Paulo explica aos alunos que um país distante, como Japão, também sofre os impactos das mudanças climáticas causadas pela destruição da floresta amazônica. Assim, ele conecta números relacionados a temas do cotidiano com geografia, economia e questões ambientais, ampliando o interesse e a curiosidade de todos.

E o diretor da escola, Ricardo Barata, elogia: “É um professor que consegue despertar a motivação de qualquer aluno. Não é só dentro da sala de aula. Ele visita várias vezes a casa de estudantes em situação econômica difícil, encorajando-os com palavras de apoio”.

Por que estudamos?” — Para sermos livres, para sermos felizes. Ao falar com sinceridade e dedicação, Paulo inspira tanto os alunos quanto os pais a se alegrar por seus filhos estudarem em sua escola.

A instituição, em parceria com órgãos públicos, oferece uma rede de apoio robusta, incluindo distribuição de alimentos e suporte à saúde mental.

Paulo presenteia cada aluno que vai prestar vestibular com uma caneta acompanhada de mensagens como “Você consegue!”, “Acredite em si mesmo!”. Muitos estudantes, motivados por esse gesto, se dedicam aos estudos e conquistam aprovações surpreendentes, deixando todos ao redor admirados com os resultados.

Na cerimônia de formatura, é tradição a escola arrecadar doações da comunidade para providenciar trajes formais aos formandos. O mestre de cerimônia é o próprio Paulo, que se dirige, com orgulho, aos seus alunos: “Nós, que compartilhamos alegrias e dificuldades, somos uma família!”.

Cruzando o rio em pequenos barcos

A professora Vera conta que há escola em que os alunos só conseguem chegar atravessando um afluente do rio Amazonas de barquinho.

barco

Essa é a realidade da Escola Domiciano de Farias, localizada em uma ilha flutuante na região alagada próxima a Belém. Cerca de cem crianças e adolescentes saem diariamente de pequenas ilhas e comunidades ribeirinhas, enfrentando trajetos de trinta a sessenta minutos para frequentar as aulas.

Kelly Medeiros Penante, vice-responsável pela Divisão Feminina de RM, leciona nessa escola. Todas as manhãs, eles começam com uma oração sincera: “Que todos cheguem em segurança, sem acidentes!, Que possam aprender com alegria!”.

A ida à escola é feita, em sua maioria, junto com os próprios familiares dos alunos. Devido às mudanças climáticas típicas da região tropical, o rio pode se tornar perigoso e há dias em que não é possível ir até a instituição.

Mesmo assim, as crianças mal podem esperar para chegar à escola. “Porque quando conversamos com a professora Kelly, ficamos com mais disposição!”, dizem, com brilho nos olhos.

Diálogo e transformação por meio da leitura

Utilizando como material complementar nas aulas os livros do presidente Ikeda, como Juventude: Sonhos e Esperança, Kelly promove conversas profundas com os alunos.

“O que é personalidade?”, “O que é liberdade?” ,“O que é paz?”, “O que é felicidade?” — A cada resposta sincera e dedicada de Kelly, os olhos dos alunos brilham ainda mais. “Quero aprender mais!”, dizem, com entusiasmo.

Kelly sorri e concorda: “Quando a gente muda, o futuro e o ambiente também mudam!”.

O que podemos fazer?

Por fim, Vera também visita o Centro Cultural do Pará, localizado no estado. “É aqui que está a prova do nosso compromisso com a educação”, disse.

No local, está exposto o título de cidadão honorário concedido a Ikeda sensei pela cidade de Belém. A cerimônia de outorga ocorreu em 11 de novembro de 1999, e naquele momento, o então secretário estadual de educação fez um discurso marcante:

“Nossa cidade carrega o coração da Amazônia. E hoje, recebemos como cidadão honorário o Dr. Daisaku Ikeda, que compartilha esse mesmo coração”. “Vamos aprender e seguir todos os pensamentos e as ações do Dr. Ikeda!”

O “coração da Amazônia” representa o espírito de se perguntar “O que posso fazer pelo planeta?”. E agir a partir do lugar onde se encontra. “Quem sempre esteve na linha de frente desse movimento foi o sensei”, afirma Vera.

Em 2012, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro, o presidente Ikeda enviou uma proposta ambiental. Nela, destacou que o maior motor para construir uma “sociedade global sustentável” é a educação. Ele ressaltou:

A educação pode ser praticada em qualquer lugar e em qualquer tipo de encontro, sendo algo no qual todas as pessoas podem se envolver de forma ativa. Mesmo que os resultados não sejam imediatamente visíveis, ela cria raízes profundas na sociedade e, ao ser transmitida de geração em geração, brilha cada vez mais intensamente.

A revolução humana é o essencial

Após concluir o percurso por Belém, Vera não para! Existe uma “mãezona de Osaka” no Brasil. Na próxima existência, como ela tanto deseja, certamente nascerá como integrante da Divisão das Mulheres de Kansai.

Esse calor humano e essa paixão têm tocado profundamente o coração de muitos jovens e crianças. Ao conversar sobre a orientação de Ikeda sensei, “O professor é o melhor ambiente educacional” — repetia Vera, com entusiasmo, batendo palmas. “Por essa razão, a minha revolução humana como educadora é o mais importante. E é para isso que existe a prática da fé”.

No dia 10 do próximo mês, finalmente, terá início a COP 30 em Belém. Há educadores Soka que, por meio de sua prática diária, transmitem a seguinte mensagem: “A transformação de uma única pessoa, capaz de criar um ambiente educacional positivo, pode abrir caminho para um futuro melhor para o meio ambiente do planeta”.

Clique aqui e leia a parte 1 que narra a história da Escola Estadual Eça de Queiroz, em Diadema.

Clique aqui e leia a parte 2 que narra a história da cidade de São José dos Campos — Uma cidade onde os ideais dos Três Mestres Soka estão enraizados nas escolas.

Clique aqui e leia a parte 3 que narra a história Rio de Janeiro — Seja o farol que ilumina o “Porto da Esperança”.

Clique aqui e leia a parte 4 que narra a história Santana de Parnaíba — a matemática pode tornar as pessoas felizes?.

Clique aqui e leia a parte 5 que narra o desenvolvimento do Colégio Soka do Brasil

Clique aqui e leia a parte 6 que narra a i Academia Magia da Leitura da Coordenadoria Educacional da BSGI

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