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Na prática

Descubra como as orações budistas são respondidas

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Redação

01/09/2023

Descubra como as orações budistas são respondidas

Diante de uma situação adversa, ou quando torcemos muito para que algo aconteça, intuitivamente juntamos as palmas das mãos, franzimos a testa e até fechamos os olhos orando ou mentalizando, de maneira positiva, o desfecho vitorioso — independentemente da prática religiosa. “Mesmo aqueles que se dizem ateus oram por algo. ‘Quero sair deste sofrimento’; ‘Quero ter uma vida melhor’; ‘Quero proteger minha família’ — desejar fortemente por essas coisas com certeza é algo natural e inerente a qualquer ser humano.”1 Não somente como parte do instinto humano; a fé tem impacto importante para a mente e saúde das pessoas. O neurocirurgião Fernando Gomes comentou o assunto. Segundo Gomes, em um momento de oração, por exemplo, o lobo parietal, área relacionada à percepção do meio ambiente e da própria pessoa, acaba sendo inativada; enquanto o lobo frontal, que trata da concentração e do foco, e o giro do cíngulo e tálamo, relacionados ao gerenciamento das emoções, são os mais acionados. “Quando isso acontece, o cérebro da pessoa funciona de uma forma diferente. Com isso, ela consegue suportar muito mais as coisas e adversidades da vida e também consegue desenvolver um olhar com mais esperança para o futuro”, ressaltou.2 Em vista dessas informações, Na Prática da edição elucidará como as orações [do Budismo de Nichiren Daishonin] são respondidas. Acompanhe nas páginas seguintes.

A base da fé são gongyo e daimoku

A oração no Budismo de Nichiren Daishonin, praticada pelos membros da Soka Gakkai Internacional (SGI), consiste na recitação do daimoku [Nam-myoho-renge-kyo] e do gongyo ao Gohonzon.

O gongyo e o daimoku representam a cerimônia na qual nossa vida entra em harmonia com o universo. “O gongyo é uma atividade em que, por meio de nossa fé no Gohonzon, vigorosamente colocamos em fusão o microcosmo de nossa existência individual com a energia vital do macrocosmo, de todo o Universo. Se realizamos isso regularmente a cada manhã e noite, nossa energia vital — nossa máquina — é fortalecida.”3

O presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, diz que “Quando recitamos o Nam-myoho-renge-kyo e focalizamos nossa atenção no Gohonzon, nossa vida e o Universo se unem como as engrenagens de uma máquina funcionando harmoniosamente com perfeita precisão, e passamos a seguir na direção da felicidade e da realização”.4

Podemos dizer então que a oração é o nutriente da mente e do coração que possibilita às pessoas energizar a vida, refletir com sabedoria e se munir de vitalidade para entrar em ação. Não obstante tenhamos citado como se dão os mecanismos internos a partir das observações do neurocirurgião, apresentamos a ilustração do leite materno para aludir os impactos da oração com fé.

O mais completo nutriente da vida

O leite materno é o melhor e o mais completo alimento para o bebê, pois contém os nutrientes essenciais que o recém-nascido precisa para se nutrir, crescer e se desenvolver com saúde. E ao ser amamentado, mesmo intuitivamente, o bebê se apropria das substâncias necessárias para seu pleno desenvolvimento motor e neurológico.

Com relação à oração, Nichiren Daishonin ensina também que, mesmo não compreendendo o profundo significado do Nam-myoho-renge-kyo, recebemos benefícios ao recitá-lo. É como o caso de um bebê alimentado com leite materno. Embora ainda não entenda o sabor, esse alimento naturalmente nutrirá seu corpo. Assim como um recém-nascido se nutre com leite, o simples fato de recitarmos daimoku sem duvidar faz nossa vida ser permeada e impregnada com a grande força do Nam-myoho-renge-kyo.

E o mais encantador nessa prática é que nossas orações não apenas nos empoderam a solucionar os problemas imediatos, mas também estimulam nosso crescimento e nos ajudam a ter uma existência dedicada à felicidade dos outros.

Relação entre a oração e seus benefícios

Conforme vimos, pode ser que não compreendamos o profundo “significado” do daimoku; contudo, o buda Nichiren Daishonin esclareceu, em uma carta enviada a um de seus discípulos, a relação entre a oração e seus benefícios.

Daishonin afirma:

Com respeito à oração, existem orações perceptíveis e respostas perceptíveis; orações perceptíveis e respostas imperceptíveis; orações imperceptíveis e respostas imperceptíveis, e orações imperceptíveis e respostas perceptíveis. Porém, o único ponto importante é saber que, se crer neste sutra, todos os seus desejos se realizarão, seja no presente, seja no futuro.5

Conforme a essência dessa declaração de Nichiren Daishonin:

– A “oração perceptível” é aquela que se faz com um objetivo ou propósito claro.

– A “oração imperceptível” é aquela que se realiza sem uma necessidade urgente, ou seja, é a prática de recitar daimoku de forma contínua.

– A “resposta perceptível” indica a concretização visível e imediata das orações.

– A “resposta imperceptível” refere-se aos benefícios que não se manifestam de imediato, mas se tornam evidentes no transcorrer do tempo, como a purificação gradativa da própria vida.

Daishonin enfatiza ainda que o mais importante é manter uma firme fé no Gohonzon, pois assim se obtém a resposta da oração, seja ela perceptível, seja imperceptível.

O Mestre responde

A explicação de Nichiren Daishonin ao discípulo sobre a oração e os benefícios é realmente esclarecedora. E, de maneira prática, apresentamos trechos de um diálogo do presidente Ikeda6 com os líderes dos jovens do Japão a respeito de temas importantes, entre eles como as orações são efetivamente respondidas.

Podemos orar por qualquer coisa que desejarmos?

Daisaku Ikeda: Vocês podem orar por qualquer coisa que acreditam que contribuirá para a sua felicidade. Por exemplo, podem orar para se desenvolverem ou para se tornarem certo tipo de pessoa. Podem orar por qualquer coisa que desejarem. No entanto, recomendo-lhes que jamais orem por coisas negativas. Se orarem por algo que prejudicará o seu progresso ou o de outras pessoas, somente causarão um efeito negativo em sua vida. Essa atitude vai contra o ritmo fundamental da vida. A chave para que nossas orações sejam respondidas é estar em sintonia com o ritmo do Universo.

O importante é sempre desafiar a realização do gongyo tanto de manhã como à noite, não é mesmo?

Ikeda: Naturalmente é preferível que realizem o gongyo da manhã e o da noite diariamente. O gongyo é importante; no entanto, o mais importante é abraçar o Gohonzon por toda sua vida e jamais, em nenhum momento, abandonar essa prática. Será uma completa derrota pessoal se praticarem fervorosamente por apenas algum tempo, com uma fé de “chama ardente”, e, mais tarde, acabarem abandonando a fé. Pode ser de pouco em pouco, mas o importante é que desenvolvam uma fé de “água corrente” que flui incessantemente como um rio que aumenta de tamanho até desembocar no vasto oceano.

Algumas pessoas ficam com a consciência pesada quando não podem realizar o gongyo da manhã ou da noite.

Ikeda: Enquanto possuirmos fé no Gohonzon, jamais sofreremos punição ou consequências negativas por causa disso. Assim, por favor, fiquem tranquilos. Nichiren Daishonin afirma que um único daimoku contém ilimitados benefícios.

Então, uma dúzia de daimoku deve conter benefícios incríveis!

Ikeda: Exatamente. Imaginem como serão imensos seus benefícios se continuarem a realizar o gongyo e o daimoku com toda sinceridade. Basicamente, a prática do gongyo e do daimoku depende da sua própria vontade. Essa prática não é uma obrigação, é um direito. O Gohonzon jamais irá obrigá-los a orar. A atitude de gratidão em poder orar ao Gohonzon é a essência da fé. Quanto mais se esforçarem na fé — realizando o gongyo e o daimoku —,
maiores serão os benefícios. Daishonin também não faz nenhuma menção no Gosho sobre a quantidade de daimoku que devemos recitar. Isso depende totalmente da consciência e da responsabilidade de cada um. A fé é uma longa busca, por isso, não há necessidade de ficarem nervosos ou ansiosos em relação à quantidade de daimoku que recitam. Não há necessidade de ficarem ansiosos ou de pressionarem a si próprios. O budismo existe para libertar as pessoas, não para restringi-las. O importante é se dedicarem, mesmo um pouco, todos os dias. O alimento que ingerimos diariamente se transforma em energia para o nosso corpo. Nossos estudos, também, tornam-se um bem valioso quando dedicamos firmes esforços a isso, dia após dia. Nossa vida é formada pelas nossas realizações de acordo com o modo como vivemos cada dia. Por essa razão, devemos nos desenvolver continuamente. E uma força propulsora para isso é o gongyo [e daimoku]. A atitude de nos esforçarmos em realizar o gongyo [e daimoku] todos os dias equivale ao que poderíamos chamar de exercício espiritual, que purifica a vida, coloca nosso “motor” em funcionamento e nos posiciona no curso correto a cada dia. Além disso, faz nosso corpo e nossa mente funcionarem tranquilamente, colocando-nos na sintonia do Universo.

[Como] o gongyo e o daimoku iriam realmente ajudá-las [as pessoas] a solucionar seus problemas?

Ikeda: No Budismo Nichiren, nenhuma oração fica sem ser respondida. Mas isso é muito diferente de ter todos os desejos satisfeitos instantaneamente, como se fosse mágica. Se orarem para ganhar na loteria amanhã, ou para tirarem dez na prova sem terem estudado, as probabilidades de isso acontecer são bem pequenas. De uma perspectiva mais profunda e de longo prazo, todas as suas orações servirão para impulsioná-los na direção da felicidade. Algumas vezes, nossas orações imediatas são concretizadas, outras vezes, não. Porém, ao fazermos uma retrospectiva, poderemos dizer com absoluta convicção que tudo seguiu para o melhor caminho.

O budismo está de acordo com a razão. A fé reflete-se na vida diária e na condição atual. Nossas orações não serão respondidas se não realizarmos os esforços adequados. Além disso, leva muito tempo e esforço para superar os sofrimentos de natureza cármica, cujas raízes estão bem arraigadas em causas do passado. Por exemplo, há uma grande diferença entre o período necessário para curar um arranhão e para se recuperar de uma grave doença. Algumas doenças são tratadas com medicamento, outras requerem cirurgia. O mesmo se aplica à transformação do carma por meio da fé e da prática. O nível da fé e o carma de cada pessoa também são diferentes. Entretanto, com o daimoku extrairemos de nosso interior uma poderosa esperança e direcionaremos nossa vida sempre para o lado positivo e muito mais benéfico.

Nossas orações são respondidas, sempre!

Como apresentado pelo neurocirurgião no início da matéria, a oração com fé possibilita com que as pessoas desenvolvam um olhar com mais esperança para o futuro. A partir disso, ao recitar gongyo e daimoku com a certeza do êxito diante de uma situação, seja ela qual for, a resposta certamente virá, tanto perceptível — concretização visível do objetivo — como imperceptível — preparar o coração e a mente para enfrentar com sabedoria uma adversidade, e auxiliar as pessoas ao redor a superar também seus dramas pessoais.

A oração perceptível e a imperceptível, assim como apresentada pelo buda Nichiren Daishonin, desenvolvem nossa condição de vida interior. Quando nossa condição se transforma, somos revitalizados. Se tomarmos o cuidado de nutrir [carregar] a vida com frequência, ficaremos sempre cheios de vitalidade. “Se não fizermos isso, não teremos energia no momento em que mais precisarmos e poderemos ser derrotados pelo ambiente.”7

Por isso, a recitação do gongyo e do daimoku com fé não apenas nos habilita a solucionar as situações mais urgentes, como também impulsiona nosso desenvolvimento como seres humanos e nos motiva a contribuir para a felicidade de outas pessoas. Lembrem-se, nossas orações são respondidas, sempre!

No topo: Membros da Divisão dos Estudantes (DE) recitam daimoku (Itapevi, SP, 2018). Foto: Brasil Seikyo

Notas:

1. Brasil Seikyo, ed. 2.249, 25 out. 2024, p. A2.

2. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/fe-pode-interferir-no-funcionamento-do-cerebro-e-regular-estado-de-animo/#:~:text=%E2%80%9CQuando%20isso%2acontece%2C%20o%20c%C3%A9rebro,para%20o%20futuro%E2%80%9D%2C%20ressaltou. Acesso em: 14 ago. 2023.

3. IKEDA, Daisaku. Juventude: Sonhos e Esperanças. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 122, 2020.

4. Ibidem, p. 126.

5. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo, Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 7, 2017.

6. Cf. IKEDA, Daisaku. Juventude: Sonhos e Esperanças. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, 2020.

7. IKEDA, Daisaku. Juventude: Sonhos e Esperanças. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 142, 2020.

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