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Reflexões Sobre a NRH
há 14 dias

[117] Aos jovens líderes do mundo

Neste ensaio, originalmente publicado no jornal Seikyo Shimbun de 1998 a 2004, o presidente Ikeda revela o fundo de cena de fatos relatados no romance Nova Revolução Humana, compartilha momentos de convívio com Josei Toda e expressa seu mais puro sentimento com relação ao seu mestre cultivado em meio à luta pelo kosen-rufu. Ho Goku é pseudônimo do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, como autor do romance. [Nota do editor: Nesta edição, a parte referida não corresponde à sequência deste ensaio publicado originalmente pela Terceira Civilização.]

Daisaku Ikeda

05/08/2025

[117] Aos jovens líderes do mundo

Integrantes da 2a Academia Índigo Juventude Soka do Brasil no Centro Cultural Campestre da BSGI (Itapevi, SP, mar. 2023)

Quando ainda era adolescente, o astrônomo britânico do século 19, Sir John Herschel (1792–1871), disse para seu amigo que eles deveriam “Fazer o máximo para legar um mundo mais sensato do que aquele que haviam recebido”.1 Kanzo Uchimura (1861–1930), filósofo e escritor japonês que admirava Nichiren Daishonin, citou essas famosas palavras de Herschel em sua obra Kosei e no Saidai Ibutsu [O Maior Legado à Posteridade].

Pelas funções misteriosas da vida, seis bilhões2 de pessoas nasceram juntas neste planeta azul que é a Terra. No entanto, somos incapazes de dissipar as nuvens da violência, do conflito e do sofrimento que envolvem nosso planeta.

Todas as pessoas querem ser felizes. Todas as pessoas querem a paz.

Muitos filósofos e religiosos assumiram o desafio de realizar esses sonhos e de tornar o mundo um lugar melhor. Agora, nós, membros da SGI, nos levantamos resolutamente e nos lançamos a uma jornada em direção ao objetivo eterno do kosen-rufu mundial, movimento embasado na profunda benevolência pela humanidade.

Recentemente [em 9 de setembro de 2001], foi concluído com sucesso o primeiro Curso de Aprimoramento dos Jovens da SGI do século 21. Aproximadamente 450 jovens corajosos e de forte espírito de procura viajaram até o Japão com elevado ânimo vindos de cinquenta países e territórios. O desejo ardente no coração de aprender sobre o budismo e a bela solidariedade pela paz fortalecida pela convicção começaram a se propagar entre eles. Isso me deixou profundamente feliz. O dinamismo desses jovens, com certeza, contribuirá para a paz no âmbito internacional. Senti-me imensamente comovido ao vê-los. Eles eram tão sinceros, corajosos e cheios de espírito de procura! Sem dúvida, esses jovens receberiam os louvores do primeiro e do segundo presidentes da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, respectivamente, e os aplausos de Nichiren Daishonin.

A primeira vez que um grupo de membros do exterior visitou o Japão foi em novembro de 1961, quando recebemos 68 representantes dos Estados Unidos. Dentre deles, muitas eram jovens japonesas que haviam se casado com americanos e moravam na América. Em outubro do ano anterior [1960], realizei minha primeira viagem às Américas do Norte e do Sul, dando o passo inicial em minhas atividades pela paz mundial. Várias dessas jovens passavam os dias chorando e se lamentando por não conseguirem se adaptar à vida em um país estrangeiro. Mas, quando chegaram no Japão um ano depois, já conscientes da missão como pioneiras do kosen-rufu, o semblante delas se mostrava radiante e transbordante de uma determinação realmente admirável.

Todos ficaram impressionados com o senso de comprometimento dos 450 jovens representantes. Ainda hoje, as pessoas comentam sobre a visita desse grupo. Esse foi nosso primeiro curso de aprimoramento internacional e ocorreu exatamente há quarenta anos.

Hoje, desfrutamos muito mais comodidades que eles, mas, mesmo assim, ainda é um desafio enfrentar a longa viagem até o Japão com o único propósito de aprender sobre o Budismo de Nichiren Daishonin. Tenho a certeza de que, por trás da alegria demonstrada pelos participantes do Curso de Aprimoramento dos Jovens da SGI, há 450 dramas humanos sublimes e únicos.

Nichiren Daishonin louvou uma seguidora que fez uma longa jornada até o local de seu exílio na Ilha de Sado: “A distância da jornada percorrida em busca da Lei demonstra a força do espírito de procura”.3

Eu também dedico o mais alto louvor aos jovens campeões do kosen-rufu: “Que tenham sempre boa saúde e triunfem brilhantemente!”.

Durante o curso de aprimoramento, a equipe de apoio se prontificou a levar alguns jovens para conhecer um famoso ponto turístico. Eles, no entanto, recusaram o convite educadamente dizendo que estavam no Japão para estreitar a relação de mestre e discípulo e aprofundar a compreensão do budismo e que não dispunham de tempo livre para diversões. Ouvi dizer também que outro membro do exterior, quando soube que o líder com quem conversava era de Kansai, ficou extremamente feliz e exclamou: “Oh, Kansai de sucessivas vitórias!”.

Os membros da Divisão dos Jovens do exterior transmitiam seriedade, além de sincero e ardente desejo de compreender a essência do espírito da Soka Gakkai e de gravá-lo em sua vida antes de retornarem ao país de origem. Quando os explanadores das sessões do curso abriam espaço para perguntas, imediatamente, vários braços se erguiam pelo recinto. Mesmo durante os intervalos, muitos jovens procuravam os líderes para pedir orientação sobre assuntos específicos. Num instante, diversos grupos se formavam e se espalhavam pela sala dialogando calorosamente com a ajuda de intérpretes. Os membros não estavam somente interessados em resolver os problemas particulares; eles também buscavam orientação para os companheiros que haviam ficado em seu país. Alguns vieram de lugares arruinados pela instabilidade política. Outros, de países em crise econômica ou que estavam se recuperando da devastação de um grande terremoto, situações que causam sofrimento e dificuldade a um elevado número de pessoas.

Muitos participantes do curso de aprimoramento vinham ao Japão profundamente conscientes de que o futuro de seu respectivo país repousava em seus ombros. “Nós queremos aprender o espírito de rissho-ankoku!”; “Nós desejamos atingir a paz e a prosperidade social em nosso país!”. Com essa decisão, ouviam atentamente cada palavra proferida durante o curso para que pudessem transmitir exatamente tudo o que recebiam aos seus companheiros assim que retornassem.

Um jovem digno de louvor, com apoio e encorajamento dos seus companheiros, viajou da República de Camarões, África, como único representante do seu país para participar do curso de aprimoramento.

Esse jovem se uniu à SGI há cinco anos. Como gerente de um posto de gasolina, ele economizou com esforço o dinheiro para a viagem ao Japão. Ao longo da semana de sua permanência em solo japonês, disse ele, seus companheiros de Camarões estavam orando daimoku para o seu crescimento.

Soube que ele tomou nota durante todo o curso e manteve o forte senso de missão de tornar realidade o “Século da África”. Eu o imagino pensando: “Meu desenvolvimento está diretamente ligado ao avanço do movimento pela paz em meu país. Tudo dependerá do quanto conseguirei aprender e do quanto conseguirei incorporar esse aprendizado. Espero que tudo isso se torne a base do kosen-rufu de Camarões!”. Como essa atitude é inspiradora e digna de louvor!

Nichiren Daishonin disse a um de seus seguidores:

“Confio ao senhor a propagação do budismo em sua província”.4 Tudo parte da pessoa. Tudo depende do discípulo. Quando decidimos assumir pessoalmente a responsabilidade pelo avanço do movimento pelo kosen-rufu, entramos no caminho de mestre e discípulo da SGI.

Esse espírito começou a pulsar vibrantemente na vida dos jovens do mundo inteiro. Gostaria de dizer aos membros da Divisão dos Jovens do Japão: “Aprendam com os jovens do mundo! Sigam o exemplo de dedicação de seus companheiros do exterior! Não fiquem para trás!”.

A revolução humana de uma única pessoa pode mudar a história — quando imagino esse drama desempenhado pelos bodisatvas da terra, não posso conter a alegria em meu coração.

No dia 8 de setembro [de 2001], durante uma reunião da qual participavam jovens líderes do mundo inteiro e representantes da Divisão do Futuro do Japão [correspondente à Divisão dos Estudantes], recebi uma condecoração da República de San Marino, localizada no centro da Itália. Quero dedicar essa homenagem, que aceitei junto com aqueles que defenderão a causa da paz mundial no século 21, com todos os nossos membros de 177 países e territórios.5

A República de San Marino, estabelecida há 1.700 anos, é tida como a mais antiga república do mundo. Espero que, de mãos dadas com as pessoas de todas as partes, nossos companheiros de San Marino construam uma “república do humanismo” na qual a liberdade e a igualdade reinem no século 21.

O reformista italiano Joseph Mazzini (1805–1872) disse que onde quer que estejamos, onde quer que as pessoas lutem pelos direitos, pela justiça, pela verdade, há compatriotas nossos.6 As cortinas do segundo capítulo do movimento pelo kosen-rufu mundial já se abriram totalmente! O planeta Terra é o grande palco de sua atuação! Jamais se esqueçam de que, em alguma parte do mundo, há corajosos companheiros que sempre se empenham com sinceridade. Por favor, continuem a expandir ainda mais a rede da harmonia humana da SGI!

Desejo que vocês desfrutem de boa saúde e tenham uma vida longa e plenamente realizada!

Notas:

1. Dictionary of National Biography (Dicionário Biográfico Nacional). STEPHEN, Leslie; LEE, Sidney (eds.). Londres: Oxford University Press, v. 9, p. 714, 1917.
2. Artigo publicado originalmente na edição de 9 de outubro de 2001 do Seikyo Shimbun. Os relatórios demográficos mais recentes estimam que somos cerca de 8 bilhões de pessoas no mundo.
3. Nichiren Daishonin Gosho Zenshu [Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, p. 1.223.
4. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 385, 2017.
5. Atualmente, a SGI encontra-se presente em 192 países e territórios.
6. MAZZINI, Joseph. The Duties of Man and Other Essays [Os Deveres do Homem e Outros Ensaios]. RHYS, Ernest (ed.). Londres e Toronto: J. M. Dent & Sons Ltd., 1907, p. 49.

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